Desdeas cavernas o homem expressa os seus desejos, suas necessidades e a suaadoração aos deuses usando uma forma de comunicação respeitosa e temerosa. Oque chamamos de oração, alguns chamam de reza, outros dizem ser um mantra, nãoé somente a forma mais antiga de comunicação com o divino, comum também é comum a todasas religiões e seitas que existem e já existiram. Este balbuciar depalavras pode apresentar-se das mais variadas formas como: cantada, recitada,de improviso ou previamente escrita, não importa a forma, todas tem em comum amesma finalidade: marcar presença diante de algo que considera ser-lhe superior.
Portanto, a oração tão necessária e tão utilizada no meio cristão,não é uma invenção sua nem tampouco de seu exclusivo uso.Mas devemosconsiderar que a oração dirigida ao Deus Eterno e Verdadeiro, tem implicações emétodos diferentes das orações às divindades pagãs. Não se pode estabelecercomunicação com o Deus Vivo em sua transcendência, utilizando-se dos mesmosrecursos e práticas usuais na comunicação com entidades representadas porpedaços de madeira, pedra ou mesmo ouro.Maso que lamentavelmente se pode observar, é que a forma e a prática de oração queseria apropriada ao Deus Verdadeiro, são, em muitos casos, bem diferentes dasorações que lhe são dirigidas hoje em dia. Não se trata de postular um tratadopoliticamente correto de como se deve orar, esta fórmula rígida nem mesmoJesus, o Cristo, se propôs estabelecer. Mas, a exemplo do que ele fez, vamos meditarsobre algumas tendências e práticas que são costumeiramente aplicadas comocorretas, mas que, em última análise, não correspondem àquilo que a Bíblia nosensina sobre esta forma de comunicação. Trata-se sim de colocar em xeque algunsmitos sobre a oração que já se tornaram patentes no meio evangélico.
Oprimeiro mito a ser contestado nas orações do nosso cotidiano é justamente estejá citado: Existe uma forma certa de orar? É muito comum ouvirmos que nossasorações somente serão atendidas, se mantivermos uma postura tão correta quantodigna. Jesus, em seu ministério, estabeleceu algumas regras claras sobre aoferta e sobre o jejum. De como a mão esquerda tomasse conhecimento sobre aatitude da direita, sobre não trombetear nas praças públicas, sobre a importânciada nossa relação com as pessoas e sobre a aparência pessoal. Mas não fez tantasrestrições quando tratou especificamente da oração, apenas recomendou fazê-la em secreto. No entenderde Jesus, a oração válida não é aquela em que o orador está convicto do seuestado de excelência moral, mas sim quando tem a certeza de ser um pecadorindigno, que não se atreve levantar a cabeça. No dizer de João Wesley: quandoestá convicto de que caminha a passos largos para o Inferno. Jesus deixouexplícito também que a ortodoxia das palavras perfeitamente dispostas, fica, paraDeus, em segundo plano, diante do apelo desesperado da alma que sequer sabeorar. Comentado a parábola do fariseu e do publicano Rubem Alves disse: Ofariseu ajoelhou-se diante do Deus Verdadeiro e orou a um ídolo. O publicano ajoelhou-se diante de um ídolo eorou ao Deus Verdadeiro.
Osegundo mito a ser considerado é este: A oração precisa ser absolutamentesincera? Quanto a este mito devo confessar que até recentemente eu era devoto.A espessa nuvem de conceitos preconcebidos que me envolvia, foi completamentedissipada ao ler a meditação do No Cenáculo de 25 de janeiro de 2006. EdRidgley, do Alabama, atravessava momentos de profunda mágoa pelo abandono epela traição que ocasionaram o seu divórcio. No entanto, a sua consciência de bomcristão dizia que deveria perdoar sua ex-esposa e orar por ela. Era complicado,porque, em sua tristeza, somente conseguia expressar-se com ódio, orando iradocom palavras proferidas entre dentes: eua perdôo, ó Deus. Sempre que a sua situação lhe vinha à lembrança, insistiaem continuar assim orando. Ed testemunha em seu relato, que nada, nem livros deauto-ajuda, nem aconselhamentos, nem terapia o ajudavam a administrar a suaraiva. Somente a sua hostil e irada oração diária lhe trazia um pouco deconforto. Com o passar do tempo ele foi, aos poucos, destravando os dentes,relaxando e aprendendo a perdoar a sua ex-esposa. E não somente isso, ele pôde,desta forma, reconhecer a sua parcela de culpa na iminente separação, e serperdoado por ela.
Estaexigência da oração sincera é muito opressora, porque não leva em conta oslimites que a natureza humana tem para superar as grandes mágoas ou recuperar-sedas maiores e mais terríveis perdas. Deus nos conhece muito bem. Ele sabe quenão somos capazes de passar pelas grandes provações sem a perseverança que nosé trazida com o tempo. Ele sabe que precisamos dar tempo ao tempo para nosrecompormos.
Finalmenteo mito mais comum que campeia entre nós. É fato comum entre os palestrantes queversam sobre o tema da oração, a afirmação de que algumas orações não possuem opoder de ultrapassar o teto. E nisso eles estão absolutamente certos. O queeles se esquecem de dizer é que nenhuma, nem mesmo a mais bem elaborada esincera oração, possui este poder. Falam como se oração, pela sua forma eestrutura, carregasse consigo algo que a tornasse auto-suficiente epotencialmente eficaz. Falam somo se o orador, por si só, pudesse revestir-sede dignidade moral e elevado dom espiritual para promover inevitavelmente ocontato com Deus e por ele ser ouvido e assistido. Não é isso que nos ensina aparábola do Filho Pródigo. Se não tivesse um Pai amoroso, pronto a apressar-seem aceitar o filho de volta do outro lado, de nada adiantaria cair em si,arrepender-se amargamente, ajoelhar-se humildemente, elaborar um convincentediscurso de regresso ou, como seu irmão mais velho, viver uma vida de retidão.Como dizia o rev. Garrison: Não fosse oincondicional amor de Deus esta história terminaria em tragédia.
Falarde oração é falar do quanto ela é necessária e eficaz, de como Deus nos ouvecom a atenção de um pai amoroso, de que por mais que estejamos felizes outristes devemos sempre pedir como autênticos discípulos de Jesus: “ensina-nos aorar”. Pois a oração é como a fé: quando ela parece ser mais impossível de serpraticada, é justamente quando mais precisamos dela.
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