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Anunciação da Virgem Maria de Sandro Botticelli (1445-1510) |
É bastante difícil para o pensamento tecnológico e especializado da atualidade, entender como simples palavras possam conter tamanha diversidade de significados. XARIS, que traduzida por graça, é expressão da benevolência, da beleza, do respeito, da recompensa, do prazer, da alegria, do regozijo, da felicidade, da paz interior, como também de uma série de outros beneplácitos, somente rivaliza com a profunda significação do SHALOM. Aquilo que traduzimos simplesmente como paz, evoca a mais complexa rede de interpretações que se pode pensar. Estar no SHALOM é ser completo e inatingível. É a alegria de se completar uma habitação, tanto na construção como nos utensílios. É a restauração de coisas em absoluta integridade. É apaziguar um feroz credor. Enfim, a paz do SHALOM não é um simples estado de oposição ao tempo de guerra. É o estado em que o homem vive em paz pela certeza de ser responsável diante da natureza, da justiça com relação ao seu vizinho e da retidão perante Deus. Então, que importância teria uma simples saudação dirigida às igrejas primitivas para merecer destaque que agora fazemos?
Para estabelecermos um ponto inicial deveremos fazê-lo a partir do próprio autor da saudação que é, até onde sabemos, nada menos que o apóstolo Paulo. Então o que seria graça e paz para Paulo? Se pudéssemos trazer Paulo para os nossos dias, constataríamos a sua eficiente adaptabilidade a qualquer ambiente. Criado como cidadão romano na cultura grega e na tradição rabínica, ao se converter ao cristianismo, herda o pior dos mundos. Deixa para trás a milenar e respeitável religião judaica, e não adere às religiões de mistério que predominavam no supersticioso Império Romano.
Para quantificarmos a profundidade da cultura de Paulo, tomemos como exemplo dois fatos marcantes em sua vida. Primeiramente, quando confronta a comunidade de Corinto que estava confundindo manifestações do Espírito Santo com fenômenos originários do paganismo, tais como a glossolália. Paulo desafia aos que, afirmando-se superiores, seduziam a igreja através da introdução de uma nova cultura, como sendo mais culto que eles todos: “Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós” I Co 14,18. Um segundo episódio, se dá no palco central da capital cultural do mundo, o Areópago em Atenas. Paulo ali faz um sermão, que do ponto de vista da oratória é simplesmente fantástico, encantando as mentes mais brilhantes que a civilização conhecera. Mas felizmente para o mundo cristão e para a progressão do evangelho, este é o sermão que assinala a conversão do exímio orador em um obstinado pregador.
Outro aspecto nos dá conta da complexa vocação do apóstolo. O que Paulo tem nas mãos é o difícil compromisso de não deixar que a nova fé se torne um novo ramo do judaísmo, mas que também não venha a descambar para o misticismo pagão das seitas, crenças e religiões da época. Paulo tenha a plena consciência de que o seu ministério o colocará em reta de colisão contra esses dois mundos. Paulo, o apóstolo dos gentios, traduz o evangelho para as diversas línguas, culturas e tradições do vasto mundo romano. Somente uma pessoa com a visão acurada das virtudes e bênçãos, das mazelas e contradições das culturas gregas e hebraicas, tem a autoridade moral para a elas se dirigir com propriedade e de forma igual para com todos. É esta a visão que ele mesmo esboça em seus textos quando escreve: “já não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher”.
Graça e paz é a saudação que indistintamente todos podiam entender. É apelo de um homem à unidade que fora exigida pelo seu Senhor e Mestre, “para que todos sejam um”, que agora está profundamente maculada pela discriminação que os “evangélicos” fazem a outras denominações e outros credos.
Outra indagação, diz respeito ao impacto que a saudação visava provocar. Ao estender a bênção de Abraão aos povos, cujas expectativas não iam além de ter um dia de paz longe da ira dos seus deuses, Paulo anuncia que “nós que não éramos, agora somos povo de Deus e agora também herdeiros da promessa”. Quer você diga boa noite, hi, aloha, benevindo, Xaris ou shalom, você está incluído, você é aceito. Não pelo que você é ou pelo que fez, mas pelo que Cristo fez por você. Com esta saudação, Paulo não faz um discreto convite no pé da página, e escreve no cabeçalho com letras gigantes: “são benditas todas as famílias da Terra”.
Esta é a fé cristã, um mover do Espírito que transforma um simples cumprimento, num impregnado de bênçãos e desafios que fazem com que nos importemos uns com os outros. Então ficam as perguntas: Por que em nossas saudações, em vez de procuramos nos esmerar em combinar adjetivos e virtudes, não recorremos à simplicidade do óbvio e à praticidade do que já deu certo? Por que buscarmos nas formas de saudação estranhas à nossa fé e aos olhos dos não cristãos elementos que comprometem e dificultam esta aproximação tão desejada? Por que tentar inventar quando o que já nos foi ensinado é tão mais completo e oportuno? Quem sabe seja a hora de tomarmos posse de uma verdadeira benção, a de usufruirmos do maior legado que este apóstolo nos deixou? A pura e simples fé em Cristo: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei”.
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