“...não permitirás que os teus animais seajuntem com os de espécie diversa” Lv 19.19
“Não vos ponhais em jugo desigual com osincrédulos...” IICo 6.14
Notexto do Levítico, a preocupação era com os animais que estavam a serviço dohomem. O preceito tinha por finalidade coibir o uso de parelhas de animais deespécies diferentes, onde o mais forte pudesse oprimir, ou mesmo vir a matar omais fraco. Já no seu texto, Paulo resgata este estatuto do passado paraaplicá-lo às relações humanas, nas relações entre membros de igrejas por eleassistidas e o povo pagão. Como argumento, usa a incompatibilidade das relaçõesdo mundo natural, em contraste com as do mundo sobrenatural, que deveriamservir de exemplo.
Justiçax Impiedade
Luzx Trevas
Cristox Beliar (O Anti-Cristo)
Fielx Incrédulo
Deusx Ídolos.
Pauloquer deixar claro o seu repúdio ao avanço de práticas e doutrinas pagãs no seioda igreja, mostrando que relações diferentes, neste nível, sufocariam a neófitaigreja, o que levaria o rompimento com o seu fundador, ele, Paulo. Convémressaltar que a prescrição não proíbe o contato dos cristãos com os pagãos, esim de formar um relacionamento parelho, que possa assim configurar o jugodesigual. O preceito emprestado do Levítico previne contra parelhas que sãoformadas a partir de elementos de potencialidades diferentes, fato queinevitavelmente é prejudicial ao mais fraco.
Mas,como acontece com a maioria dos textos bíblicos, cada um faz a leitura que lheconvém, reduzindo a abrangência da mensagem a casuísmos mesquinhos. Assim comoaqueles detectam o jugo desigual na união conjugal de jovens cristãos,principalmente moças, com pessoas das demais religiões. Algunschegam a afirmar que o cristão que se casa com um não cristão, leva opróprio diabo para dentro de casa. Uma afirmação por demais infeliz, jamais sugerida ou sequer pensada pelo apóstolo. Suas igrejas eram basicamentecompostas por pessoas cujas famílias permaneciam nas suas crenças de origem. Era muito raro encontrar uma família cujos membros era todos cristãos.Paulo não seria inconsequente a ponto de causar tamanha desestabilizaçãofamiliar. No que diz respeito a este fato, bem frequente na igreja de Corinto, ele faz uma recomendação bastante contrária: “se umhomem cristão é casado com uma mulher que não é cristã, e esta consente em continuar vivendocom ele, - ou vice-versa - que ele não se divorcie dela” (ICo 7,12-13). Paulo via com bonsolhos esta união, desde que consentida por ambos, porque o cônjuge cristão setornaria o canal de bênçãos, não somente para o não cristão, como para todo o lar, inclusive os filhos.
Ainda há aqueles que detectam jugo desigual até nas relaçõesque igrejas evangélicas mantêm com outras denominações cristãs, maisespecificamente, com a Igreja Católica Romana. Para estes, o estatuto divino aplica-se a diretamente ao Ecumenismo, pois na possibilidade de estreitamento entre igrejas cristãs, reside o totaldescumprimento de uma lei, que inicialmente era aplicada a animais, e,posteriormente com Paulo, visou combater o paganismo dentro da igreja. Bem sesabe que o Ecumenismo propõe um horizonte bem mais abrangente do que o circuitodenominacional cristão.
Masficam aí as perguntas: Estaria Paulo se referindo a este circuitodenominacional da sua época? Seria este o alerta máximo para aqueles que “eramde Paulo” não se aproximassem dos que “eram de Apolo”? Jamais se assentassem àmesa com “os que eram de Jesus”? Estavam terminantemente proibidos de frequentarreuniões em que estivessem presentes os que “eram de Pedro? Parece que não, porque é justamentepara esta igreja, Corinto, a advertência de Paulo contra os movimentos internos de ruptura que ameaçavam a unidade da Igreja de Cristo.
Emuma olhada mais atenta podemos perceber que praticamente todas as questões docristianismo de hoje estão à sombra daquilo que a igreja primitiva tinha demais destoante. Não há como presumir que os membros das igrejas do primeiroséculo, não procurassem conviver bem com pessoas não cristãs, e que no conjuntoda sociedade que formavam, e que, em comum acordo, da melhor forma possível, nãotentassem resolver problemas que eram afetos a todos, cristãos e pagãos. Então,por que motivo somente a igreja doutrinariamente mais fraca e moralmente maisproblemática foi alertada? Ainda que houvesse uma velada intenção em Paulo empreservar as igrejas fundadas e pastoreadas por ele, das que tinham orientação judaizantede outro apóstolo, sua preocupação estava focada em um só ponto: preservar adoutrina, ou como ele mesmo chamava, “o primeiro amor”. Nisto ele estava sendofiel a uma ordem expressa de Jesus, que diante de situação parecida nãoproibiu a si, nem aos seus discípulos de relacionamentos estreitos com publicanos, prostitutas ou samaritanos. Disse apenas:“acautelai-vos do fermento – da doutrina - dos fariseus”. Paulo não somenteconviveu, como também absorveu muito de bom que outros grupos possuíam. Com os bereanos, por exemplo, aprendeu a confrontar qualquer novadoutrina com o ensino das Escrituras.
Podemosconcluir que a única preocupação de Paulo no estreitamento derelações entre grupos de cristãos distintos, ou mesmo com outros gruposreligiosos, era o zelo pela doutrina. Justamente o que parece ser o que menos importa paranós hoje. Podemos cantar qualquer coisa que contenha a palavra Jesus. Podemosimitar qualquer atitude, mesmo que seja esdrúxula, desde que seja feito em nomedo Espírito Santo, ainda que este nunca tenha se manifestado na Bíblia, ou nahistória da igreja desta forma. Podemos pular, gritar, cair, girar, macaquear oevangelho de todas as formas, porque isso pode vir a ser sinal inequívoco dapresença de Deus em nossas vidas. No culto de ação de graças pela experiênciade Wesley em 2005, ouvi uma menina que teria no máximo 12 anos dizer dopúlpito: Se a sua igreja não tem um ministério de coreografia, ore a Deus,porque deste jeito ela vai muito mal. Naquele momento senti muita pena deWesley, tentando dançar num túmulo apertado.
Vistoque muitos elementos já foram apresentados como candidatos a jugo desigual, eupessoalmente gostaria de apresentar o meu. Aliás, a palavra candidato vem bem acalhar nesta exposição, porque para mim, não pode haver uma relação onde o jugovenha a ser mais desigual do que esta que a igreja estabeleceu com a políticapartidária. Não pode haver um risco maior para uma igreja cristã do que daraval a um partido político ou a sua bênção a um candidato.
Talveznão tenha sido especificamente sob essa ótica que Paulo tivesse advertido a sua igreja,mas o perigo real e imediato de hoje, não provém de uma união conjugal com pessoas de credos diferentes, ou mesmo de reuniões ecumênicascom os católicos. A espada pendente sobre as nossas cabeças chama-se Bancada Evangélica. Vereadores, deputados, governadores e senadores que se elegeram quase que exclusivamente com votos de nossas igrejas. Entendam que para formarparelha com católicos ou islâmicos não implica em rezarmos a Ave Maria ou nosvirarmos em oração para Meca. Quando nossos filhos se casam com pessoas de religiõesdiferentes, o fazem guiados pelo amor, que é o primeiro e o mais válidocritério que a Bíblia aponta e o único capaz de vencer qualquer barreira.Situações que em nada se assemelham ao comprometimento com um político.
Quandovotamos em um determinado candidato, estamos acreditando na sua integridade. Que ele seja realmente íntegro para votar leis justas para todos, quer nos beneficiem ou não como igreja. Ajustiça deve ser estabelecida independentemente de quem será atingido, isso sea nossa justiça pretende exceder a dos escribas e fariseus, caso queiramos um lugar no Reino de Deus. Se porventura o político, avalizado pela igreja,subverter o menor preceito com o intuito de beneficiá-la, duas pragas recairãoimediatamente ela: a igreja conquistou algo que não lhe faz justiça, nodizer dos profetas, procurou socorro no Egito; a igreja abriu precedente para que o parlamentaragisse desta forma em outros assuntos ilícitos, inevitavelmente, levando-a a reboque como cúmplice.
Adespeito de todos os jugos, sejam iguais ou desiguais, temos por mandamento tomarsobre nós o único jugo que nos é válido, o jugo daquele que andou pelaTerra fazendo o bem. Daquele que curou o servo do centurião do opressor, queexaltou a perseverança de uma estrangeira, que ficou feliz com o carinho de umaprostituta, mas que aos honrados, chamou de sepulcros caiados. Contra o rançojudaico que punia severamente quem se casasse ou negociasse com estrangeiros,Deus enviou seu Filho, para que também pudesse ser seu o que antes era estranho,ilegal e profano. Para que, através do povo que se chama pelo seu Nome, o seuamor alcançasse o mundo, o mundo para muito além do estreito limite dasrelações consideradas lícitas pela igreja.
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