Desdeque Paulo sistematizou a doutrina da salvação pela graça, várias outrasdoutrinas se seguiram a ela, como exemplo maior, a doutrina da predestinação. Acontestação desta doutrina como usualmente é feita, não faz uma avaliação do quantoela é complexa. Para efeito de um estudo breve, podemos classificá-la sob três formasdistintas: Absoluta, restrita e condicional. Muito embora estes termosutilizados não sejam acadêmicos, expressam bem a idéia que se quer ter de cadauma das interpretações do aspecto predestinista da salvação.
Absoluta,é a doutrina de João Calvino, que coloca a irresistível graça de Deus e aimpossibilidade de se naufragar na fé, como o parâmetros válido para a salvaçãode alguns escolhidos. Deus salva quem quer e quem ele quer salvar estará salvo,restando aos demais a perdição eterna.
Arestrita, de Jacó Armínio, que coloca sobre o homem a responsabilidade dasalvação pelo uso do seu livre arbítrio. Ea condicional em que ambos os aspectos são igualmente válidos, sem que um sesobreponha sobre o outro. A salvação é uma conseqüência da vontade de Deus, masdepende da aceitação humana.
Parte divina nasalvação
Todas as grandesdoutrinas da salvação estão baseadas nas palavras de Jesus narradas por João nocapítulo 3, verso 16 do seu evangelho que diz: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para quetodo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Desteversículo extraem-se os principais elementos da salvação propriamente dita:
1 – Amorvoluntário – Deus amou o mundo sem que este tivesse qualquer mérito.
2 – Amoruniversal – Deus amou ao mundo todo e não apenas parte dele.
3 – Amorimensurável – não pode ser medido ou comparado senão consigo mesmo – de talmaneira.
4 – Amorcomprovado – deu seu filho unigênito.
5 – Amorcondicional – para todo aquele que nele crê.
6– Amor sem fim – tenha a vida eterna.
Sobresalvação, entendemos que é uma graça que Deus concede ao homem, que não a merece.É um ato da misericórdia de que Deus, que não dá ao homem aquilo que ele defato merece. Embora revolucionária e única no âmbito das religiões existentes,a salvação pela graça não aboliu as exigências do pagamento de um resgate, ouseja, o derramamento de sangue pela remissão de pecados. Como diz a Bíblia,apesar da inflação, o salário do pecado continua o mesmo, a morte. A expiaçãode Cristo seguiu rigorosamente as exigências prescritas no Kippur. Na antigaexpiação hebraica, o sangue do primeiro bode era jogado sobre o propiciatório,onde estava guardada a lei, para que Deus não olhasse para o descumprimentodesta. Kippur era a cobertura com um preço, o pagamento de um resgate que fossemaior que o pecado praticado. O segundo bode, o emissário, era enviado para odeserto para que o pecado fosse esquecido e nunca mais lembrado. No sacrifício,Cristo cobre todos os pecados de todos os homens em todos os tempos como o seupróprio sangue e em seguida vai ao Hades, um lugar de esquecimento mais eficazque o deserto, para que os nossos pecados sejam definitivamente esquecidos.
São estes oselementos básicos da salvação:
1 – Expiação– sacrifício no lugar de outrem.
2 – Eficácia– indistintamente todos os pecados foram cobertos.
3 –Reconciliação – agora possível pela anulação do pecado.
4 – Redenção– um resgate maior foi pago quitando a dívida em juízo.
5 –Libertação – livres do poder e da ação do pecado.
6– Livramento – não há mais necessidade de se descer ao Hades.
A parte humana nasalvação
As únicasrespostas que o home pode dar a Deus na salvação são arrependimento e fé, que coincidentementetambém são as condições essenciais para a conversão. Entendemos porarrependimento o abandono do pecado, e entendemos ser fé o instrumento peloqual recebemos a salvação. Diante do que se observa hoje na liturgia de culto,principalmente nas igrejas que aderiram ao movimento neo-pentecostal, podemosformular as seguintes perguntas:
Existe fésem arrependimento?
Acreditamosnão ser possível posto que, a condição para a volta é a consciência do afastamentopelo pecado e a necessidade de se voltar para Deus.
Existearrependimento sem fé?
Semter para quem se voltar, o arrependimento se torna inútil, pois não é somentevoltar-se e sim voltar-se para quem.
Arrependimento
Elementoprimordial para a entrada no Reino, é o tema inicial de toda a pregaçãoprofética e neo-testamentária. Qualquer mudança de vida começa peloarrependimento, que provoca a metanoia, ou mudança de mente, que é composta dosseguintes elementos:
Elementointelectual – mudar de idéia com relação ao pecado
Elementoemocional – mudança de sentimento – ter nojo do pecado.
Elementoprático – mudança de hábitos e desejos.
Algumascorrentes teológicas tipificam o arrependimento em quatro personagens bíblicosdistintos:
1 – Caimarrependeu-se, mas não buscou o perdão de Deus.
2 –Faraó arrependeu-se, mas não abandonou o mal.
3 –Judas, arrependeu-se, mas não se voltou para Deus
4– Zaqueu, arrependeu-se transformando a sua vida e a dos demais à sua volta.
Fé
Afé é condição para a salvação nos dois Testamentos. Ao mesmo tempo em que somossalvos pela fé, somos enriquecidos pelo Espírito Santo, santificados, guardadose curados. A fé é uma via de dois sentidos. Em um sentido ela é operada peloEspírito santo, e em outro é uma reação humana. A fé é a combinação perfeita dointelecto com a vontade. Pelo intelecto se crê pela vontade se aceita a fé comodiretriz de uma nova vida. A fé meramente intelectual não é suficiente, porque sepode muito bem entender e aceitar o sacrifício de Cristo, sem entregar-se aele. O aspecto intelectual da fé nos serve para discernimento, para que nãotenhamos uma fé cega e para que sejamos libertos da superstição e do medo. Já oaspecto emocional, é a dedicação da própria vida que nos faz sensíveis àindiferença causada pelo pecado.
Fé para Wesley
Wesley, paraefeitos doutrinários, classificou a fé em quatro grupos distintos:
1 – a fé dopagão – A existência e os atributos de Deus, o estado futuro de recompensa oupunição, e a natureza obrigatória da verdade moral, pois essas coisas seconstituem na crença de um pagão.
2 – a fé dodiabo – Ela se distingue por ser meramente especulativa e racional, um frio emorto assentimento, um elenco de idéias na cabeça. Mais elevada que a fé dospagãos, porque os demônios crêem e tremem, mas ainda ineficaz.
3 – a fé queos apóstolos tinham quando Cristo estava ainda no mundo – Embora crer a pontode “deixar tudo e segui-lo” enquanto tivessem o poder de operar milagres, “acurar toda a espécie de doenças e enfermidades”, [...] Ele lhes diz que “nãopodiam expelir um demônio por causa da sua incredulidade”. Mais tarde, supondojá terem uma medida da fé, eles lhe pediram: “aumenta a nossa fé”. No entanto,ele lhe diz claramente que não possuíam nada dessa fé, “nem fé como a de umgrão de mostarda.”
4– A fé pela qual somos salvos – A fécristã [...] é antes uma plena confiança no sangue de Cristo, uma confiança nosméritos de sua vida, morte e ressurreição, um descansar nele como nossapropiciação e nossa vida, como dado por nós e vivendo em nós. É uma seguraconfiança que alguém tem em Deus e que, através dos méritos de Cristo, seuspecados estão perdoados, e ele está reconciliado ao favor de Deus e, comoconseqüência, uma aproximação dele e um apego a ele, como nossa “sabedoria,justiça, santificação redenção” ou, numa palavra, nossa salvação.”
Conclusão
Oque se pode entender por salvação, não algo que se resuma ao exclusivamente aofuturo, como um prêmio a ser garantido antecipadamente para proveito posterior.Nem exclusivamente ao presente, negligenciando o seu aspecto eterno do amor deDeus. A salvação, embora seja aqui e agora é algo que se estende tanto naverticalidade do tempo, quanto na horizontalidade do espaço. Tanto na visãohistórica, quanto na vida prática. Não há mais lugar para se pensar em umasalvação pessoal e restrita. A antiga preocupação com a salvação individual temque dar passagem à urgência de Deus em transformar o mundo, no dizer de Wesley,nada fazer senão salvar almas.
Emboranão vivamos na rudimentar tecnologia dos tempos bíblicos, os anseios enecessidades dos homens e mulheres de hoje em nada diferem do que os nossosancestrais mais remotos vivenciaram. Ainda choramos como Davi a perda de umfilho, nos angustiamos como Jeremias pelo destino de nossa nação e ficamosperplexos como Amós pela irresponsabilidade dos governantes. Mas este é o mundoque Deus ama e pelo qual se ofereceu em sacrifício. E paraque a vontade de Deus seja feita, necessitamos mais de pessoas arrependidascomo Zaqueu, do que de apóstolos ungidos. Carecemos mais de homens de fé como ocenturião, do que exorcistas e curandeiros. Necessitamos mais do humildepregador, do que do eloquente orador. Precisamos mais de fé do que de poder. Narealidade, precisamos exercitar mais a nossa fé do que tentar aumentá-la, postoque se a tivéssemos do tamanho de um grão de mostarda, removeríamosdefinitivamente montanhas de problemas.
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