Mais do que a efetiva realização defatos previamente anunciados, o que mais surpreende na História são asprofecias que obstinadamente teimam em não se realizar. Na virada do séculoXIX, quando Nietzsch anunciou ao mundo que Deus estava morto, não estava fazendoum solo, e sim se fazendo acompanhar de um bom número de vozes de intelectuais queacreditava que o progresso da ciência levaria ao declínio da fé religiosa, sendoo cristianismo o principal perdedor. Bernard Shaw e H.G. Wells argumentavam queo século XX marcaria o fim da fase religiosa da História. No final do século XX só encontraremos Bíblias em museus,dizia Voltaire, o Pensador.
Passados cento e poucos anos, nãosomente o Cristianismo não morreu, como parece estar cada vez mais forte e cadavez angariando mais adeptos. A igreja Católica Romana conta hoje com um número bem superior a um bilhão de fiéis, e as outras denominações juntas já ultrapassarama sua marca. Ou seja, um terço de toda a humanidade está de uma certa formaligada a uma igreja cristã. Nos Estados Unidos, metade da população frequentaregularmente um local de culto, e na sua grande maioria uma igreja cristã. Mesmosnos países comunistas pode se observar um crescimento substancial da fécristã. Em Moscou, onde funcionava Museu da Religião e do Ateísmo é hoje umaigreja ortodoxa repleta de fiéis. A casa em que Voltairemorava, onde profetizou negativamente sobre a Bíblia, é hoje a sede daSociedade Bíblica Francesa, uma das maiores do Mundo.
Tudo isso começou com uma criança quenasceu humilde, em uma aldeia obscura do império romano. Esta criança de origemhumilde, que se desenvolveu dentro dos limites do seu território natal, setornou um líder religioso, atraiu um pequeno grupo de seguidores para a suacausa de não-violência, e, através de um julgamento injusto, foi sentenciado auma morte vergonhosa e horrenda, destinada exclusivamente a escravos rebeldes. Àprimeira vista a história de um fracasso. Algo que poderia passar para aHistória como mais uma bela intenção que não vingou.
Passados mais de dois mil anos, quempode falar sobre os pretensos vitoriosos da época? Quem sabe o fim do sumosacerdote Caifás? Quem se lembra em que ano morreu o pro cônsul Pôncio Pilatos?E quem poderia dizer onde está sepultado o imperador Tibério? Mas não há umúnico recanto sequer na imensidão de nosso planeta, que não exista uma marca,um símbolo ou simples objeto que nos lembre aquele fracassado de Belém. De certamaneira, o sucesso póstumo de Jesus e a permanência das suas palavras nos ajudam aentender a sua mensagem que denuncia o poder como efêmero e que a glória domundo não passa de pó e cinzas.
Jesus tocou nesse ponto sensível dahumanidade, a bondade e compaixão que existem dentro de cada um de nós. Porcerto o Natal quer nos dizer justamente isso. Que o improvável vence a certeza.Que a incerteza triunfa sobre a convicção. De que o manso humilha o forte. O humilhado se sobrepõe ao exaltado. Se Jesus voltasse hoje, provavelmente seespantaria com as imensas catedrais erguidas em seu nome, mas não com osdesafios do nosso tempo. Clonagens, engenharia genética e bebês projetados nãosão páreo para a sua doutrina de compaixão, amor e serviço que prevaleceu efloresceu ao longo desses dois mil anos. As suas palavras criaram um conjunto defé e moral que permitiu a humanidade derrotar a engenharia social de Hitler, osdez mandamentos de Lênin e o terror do Armagedom Atômico. Estas mesmas palavrasserão suficientes para colocar no seu devido lugar a misteriosa e temida engenhariagenética
Nos dois primeiros milênios ocristianismo enfrentou muitos flagelos, repetidos períodos de fome e peste e,muito embora, ainda não tenha derrotado a morte, nos ofereceu um antídotoseguro contra o medo que ela poderia despertar em nós. Este é o legado que oderrotado de Belém há dois mil anos deixou para nós: a fé e a esperança que oterceiro milênio, traga ele as novidades que trouxer, será atravessado sem qualquertemor, na segurança da sua Palavra.
0 comentários:
Postar um comentário