Aspectos da salvação

Desdeque Paulo sistematizou a doutrina da salvação pela graça, várias outrasdoutrinas se seguiram a ela, como exemplo maior, a doutrina da predestinação. Acontestação desta doutrina como usualmente é feita, não faz uma avaliação do quantoela é complexa. Para efeito de um estudo breve, podemos classificá-la sob três formasdistintas: Absoluta, restrita e condicional. Muito embora estes termosutilizados não sejam acadêmicos, expressam bem a idéia que se quer ter de cadauma das interpretações do aspecto predestinista da salvação.


Absoluta,é a doutrina de João Calvino, que coloca a irresistível graça de Deus e aimpossibilidade de se naufragar na fé, como o parâmetros válido para a salvaçãode alguns escolhidos. Deus salva quem quer e quem ele quer salvar estará salvo,restando aos demais a perdição eterna.
Arestrita, de Jacó Armínio, que coloca sobre o homem a responsabilidade dasalvação pelo uso do seu livre arbítrio. Ea condicional em que ambos os aspectos são igualmente válidos, sem que um sesobreponha sobre o outro. A salvação é uma conseqüência da vontade de Deus, masdepende da aceitação humana.

Parte divina nasalvação
Todas as grandesdoutrinas da salvação estão baseadas nas palavras de Jesus narradas por João nocapítulo 3, verso 16 do seu evangelho que diz: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para quetodo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Desteversículo extraem-se os principais elementos da salvação propriamente dita:
1 – Amorvoluntário – Deus amou o mundo sem que este tivesse qualquer mérito.
2 – Amoruniversal – Deus amou ao mundo todo e não apenas parte dele.
3 – Amorimensurável – não pode ser medido ou comparado senão consigo mesmo – de talmaneira.
4 – Amorcomprovado – deu seu filho unigênito.
5 – Amorcondicional – para todo aquele que nele crê.
6– Amor sem fim – tenha a vida eterna.
Sobresalvação, entendemos que é uma graça que Deus concede ao homem, que não a merece.É um ato da misericórdia de que Deus, que não dá ao homem aquilo que ele defato merece. Embora revolucionária e única no âmbito das religiões existentes,a salvação pela graça não aboliu as exigências do pagamento de um resgate, ouseja, o derramamento de sangue pela remissão de pecados. Como diz a Bíblia,apesar da inflação, o salário do pecado continua o mesmo, a morte. A expiaçãode Cristo seguiu rigorosamente as exigências prescritas no Kippur. Na antigaexpiação hebraica, o sangue do primeiro bode era jogado sobre o propiciatório,onde estava guardada a lei, para que Deus não olhasse para o descumprimentodesta. Kippur era a cobertura com um preço, o pagamento de um resgate que fossemaior que o pecado praticado. O segundo bode, o emissário, era enviado para odeserto para que o pecado fosse esquecido e nunca mais lembrado. No sacrifício,Cristo cobre todos os pecados de todos os homens em todos os tempos como o seupróprio sangue e em seguida vai ao Hades, um lugar de esquecimento mais eficazque o deserto, para que os nossos pecados sejam definitivamente esquecidos.
São estes oselementos básicos da salvação:
1 – Expiação– sacrifício no lugar de outrem.
2 – Eficácia– indistintamente todos os pecados foram cobertos.
3 –Reconciliação – agora possível pela anulação do pecado.
4 – Redenção– um resgate maior foi pago quitando a dívida em juízo.
5 –Libertação – livres do poder e da ação do pecado.
6– Livramento – não há mais necessidade de se descer ao Hades.
A parte humana nasalvação
As únicasrespostas que o home pode dar a Deus na salvação são arrependimento e fé, que coincidentementetambém são as condições essenciais para a conversão. Entendemos porarrependimento o abandono do pecado, e entendemos ser fé o instrumento peloqual recebemos a salvação. Diante do que se observa hoje na liturgia de culto,principalmente nas igrejas que aderiram ao movimento neo-pentecostal, podemosformular as seguintes perguntas:
Existe fésem arrependimento?
Acreditamosnão ser possível posto que, a condição para a volta é a consciência do afastamentopelo pecado e a necessidade de se voltar para Deus.
Existearrependimento sem fé? 
Semter para quem se voltar, o arrependimento se torna inútil, pois não é somentevoltar-se e sim voltar-se para quem.
Arrependimento
Elementoprimordial para a entrada no Reino, é o tema inicial de toda a pregaçãoprofética e neo-testamentária. Qualquer mudança de vida começa peloarrependimento, que provoca a metanoia, ou mudança de mente, que é composta dosseguintes elementos:
Elementointelectual – mudar de idéia com relação ao pecado
Elementoemocional – mudança de sentimento – ter nojo do pecado.
Elementoprático – mudança de hábitos e desejos.
Algumascorrentes teológicas tipificam o arrependimento em quatro personagens bíblicosdistintos:
1 – Caimarrependeu-se, mas não buscou o perdão de Deus.
2 –Faraó arrependeu-se, mas não abandonou o mal.
3 –Judas, arrependeu-se, mas não se voltou para Deus
4– Zaqueu, arrependeu-se transformando a sua vida e a dos demais à sua volta.
Afé é condição para a salvação nos dois Testamentos. Ao mesmo tempo em que somossalvos pela fé, somos enriquecidos pelo Espírito Santo, santificados, guardadose curados. A fé é uma via de dois sentidos. Em um sentido ela é operada peloEspírito santo, e em outro é uma reação humana. A fé é a combinação perfeita dointelecto com a vontade. Pelo intelecto se crê pela vontade se aceita a fé comodiretriz de uma nova vida. A fé meramente intelectual não é suficiente, porque sepode muito bem entender e aceitar o sacrifício de Cristo, sem entregar-se aele. O aspecto intelectual da fé nos serve para discernimento, para que nãotenhamos uma fé cega e para que sejamos libertos da superstição e do medo. Já oaspecto emocional, é a dedicação da própria vida que nos faz sensíveis àindiferença causada pelo pecado.

Fé para Wesley
Wesley, paraefeitos doutrinários, classificou a fé em quatro grupos distintos:
1 – a fé dopagão – A existência e os atributos de Deus, o estado futuro de recompensa oupunição, e a natureza obrigatória da verdade moral, pois essas coisas seconstituem na crença de um pagão.
2 – a fé dodiabo – Ela se distingue por ser meramente especulativa e racional, um frio emorto assentimento, um elenco de idéias na cabeça. Mais elevada que a fé dospagãos, porque os demônios crêem e tremem, mas ainda ineficaz.
3 – a fé queos apóstolos tinham quando Cristo estava ainda no mundo – Embora crer a pontode “deixar tudo e segui-lo” enquanto tivessem o poder de operar milagres, “acurar toda a espécie de doenças e enfermidades”, [...] Ele lhes diz que “nãopodiam expelir um demônio por causa da sua incredulidade”. Mais tarde, supondojá terem uma medida da fé, eles lhe pediram: “aumenta a nossa fé”. No entanto,ele lhe diz claramente que não possuíam nada dessa fé, “nem fé como a de umgrão de mostarda.”
4– A fé pela qual somos salvos A fécristã [...] é antes uma plena confiança no sangue de Cristo, uma confiança nosméritos de sua vida, morte e ressurreição, um descansar nele como nossapropiciação e nossa vida, como dado por nós e vivendo em nós. É uma seguraconfiança que alguém tem em Deus e que, através dos méritos de Cristo, seuspecados estão perdoados, e ele está reconciliado ao favor de Deus e, comoconseqüência, uma aproximação dele e um apego a ele, como nossa “sabedoria,justiça, santificação redenção” ou, numa palavra, nossa salvação.”
Conclusão
Oque se pode entender por salvação, não algo que se resuma ao exclusivamente aofuturo, como um prêmio a ser garantido antecipadamente para proveito posterior.Nem exclusivamente ao presente, negligenciando o seu aspecto eterno do amor deDeus. A salvação, embora seja aqui e agora é algo que se estende tanto naverticalidade do tempo, quanto na horizontalidade do espaço. Tanto na visãohistórica, quanto na vida prática. Não há mais lugar para se pensar em umasalvação pessoal e restrita. A antiga preocupação com a salvação individual temque dar passagem à urgência de Deus em transformar o mundo, no dizer de Wesley,nada fazer senão salvar almas.
Emboranão vivamos na rudimentar tecnologia dos tempos bíblicos, os anseios enecessidades dos homens e mulheres de hoje em nada diferem do que os nossosancestrais mais remotos vivenciaram. Ainda choramos como Davi a perda de umfilho, nos angustiamos como Jeremias pelo destino de nossa nação e ficamosperplexos como Amós pela irresponsabilidade dos governantes. Mas este é o mundoque Deus ama e pelo qual se ofereceu em sacrifício. E paraque a vontade de Deus seja feita, necessitamos mais de pessoas arrependidascomo Zaqueu, do que de apóstolos ungidos. Carecemos mais de homens de fé como ocenturião, do que exorcistas e curandeiros. Necessitamos mais do humildepregador, do que do eloquente orador. Precisamos mais de fé do que de poder. Narealidade, precisamos exercitar mais a nossa fé do que tentar aumentá-la, postoque se a tivéssemos do tamanho de um grão de mostarda, removeríamosdefinitivamente montanhas de problemas.

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Aspectos da salvação

Batismo de Agostinho de Gozzoli
Desde que Paulo sistematizou a doutrina da salvação pela graça, várias outras doutrinas se seguiram a ela, como exemplo maior, a doutrina da predestinação. A contestação desta doutrina como usualmente é feita, não faz uma avaliação do quanto ela é complexa. Para efeito de um estudo breve, podemos classificá-la sob três formas distintas: absoluta, restrita e condicional.Muito embora estes termos utilizados não sejam acadêmicos, expressam bem a ideia que se quer ter de cada uma das interpretações do aspecto predestinista da salvação.

Absoluta, é a doutrina de João Calvino, que coloca a irresistível graça de Deus e a impossibilidade de se naufragar na fé, como o parâmetros válido para a salvação de alguns escolhidos. Deus salva quem quer e quem ele quer salvar estará salvo, restando aos demais a perdição eterna.
A restrita, de Jacó Armínio, que coloca sobre o homem a responsabilidade da salvação pelo uso do seu livre arbítrio. E a condicional em que ambos os aspectos são igualmente válidos, sem que um se sobreponha sobre o outro. A salvação é uma conseqüência da vontade de Deus, mas depende da aceitação humana.

Parte divina na salvação
Todas as grandes doutrinas da salvação estão baseadas nas palavras de Jesus narradas por João no capítulo 3, verso 16 do seu evangelho que diz: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Deste versículo extraem-se os principais elementos da salvação propriamente dita:
1 – Amor voluntário – Deus amou o mundo sem que este tivesse qualquer mérito.
2 – Amor universal – Deus amou ao mundo todo e não apenas parte dele.
3 – Amor imensurável – não pode ser medido ou comparado senão consigo mesmo – de tal maneira.
4 – Amor comprovado – deu seu filho unigênito.
5 – Amor condicional – para todo aquele que nele crê.
6 – Amor sem fim – tenha a vida eterna.
Sobre salvação, entendemos que é uma graça que Deus concede ao homem, que não a merece. É um ato da misericórdia de que Deus, que não dá ao homem aquilo que ele de fato merece. Embora revolucionária e única no âmbito das religiões existentes, a salvação pela graça não aboliu as exigências do pagamento de um resgate, ou seja, o derramamento de sangue pela remissão de pecados. Como diz a Bíblia, apesar da inflação, o salário do pecado continua o mesmo, a morte. A expiação de Cristo seguiu rigorosamente as exigências prescritas no Kippur. Na antiga expiação hebraica, o sangue do primeiro bode era jogado sobre o propiciatório, onde estava guardada a lei, para que Deus não olhasse para o descumprimento desta. Kippur era a cobertura com um preço, o pagamento de um resgate que fosse maior que o pecado praticado. O segundo bode, o emissário, era enviado para o deserto para que o pecado fosse esquecido e nunca mais lembrado. No sacrifício, Cristo cobre todos os pecados de todos os homens em todos os tempos como o seu próprio sangue e em seguida vai ao Hades, um lugar de esquecimento mais eficaz que o deserto, para que os nossos pecados sejam definitivamente esquecidos.
São estes os elementos básicos da salvação:
1 – Expiação – sacrifício no lugar de outrem.
2 – Eficácia – indistintamente todos os pecados foram cobertos.
3 – Reconciliação – agora possível pela anulação do pecado.
4 – Redenção – um resgate maior foi pago quitando a dívida em juízo.
5 – Libertação – livres do poder e da ação do pecado.
6 – Livramento – não há mais necessidade de se descer ao Hades.
A parte humana na salvação
As únicas respostas que o home pode dar a Deus na salvação são arrependimento e fé, que coincidentemente também são as condições essenciais para a conversão. Entendemos por arrependimento o abandono do pecado, e entendemos ser fé o instrumento pelo qual recebemos a salvação. Diante do que se observa hoje na liturgia de culto, principalmente nas igrejas que aderiram ao movimento neo-pentecostal, podemos formular as seguintes perguntas:
Existe fé sem arrependimento?
Acreditamos não ser possível posto que, a condição para a volta é a consciência do afastamento pelo pecado e a necessidade de se voltar para Deus.
Existe arrependimento sem fé? 
Sem ter para quem se voltar, o arrependimento se torna inútil, pois não é somente voltar-se e sim voltar-se para quem.
Arrependimento
Elemento primordial para a entrada no Reino, é o tema inicial de toda a pregação profética e neo-testamentária. Qualquer mudança de vida começa pelo arrependimento, que provoca a metanoia, ou mudança de mente, que é composta dos seguintes elementos:
Elemento intelectual – mudar de idéia com relação ao pecado
Elemento emocional – mudança de sentimento – ter nojo do pecado.
Elemento prático – mudança de hábitos e desejos.
Algumas correntes teológicas tipificam o arrependimento em quatro personagens bíblicos distintos:
1 – Caim arrependeu-se, mas não buscou o perdão de Deus.
2 – Faraó arrependeu-se, mas não abandonou o mal.
3 – Judas, arrependeu-se, mas não se voltou para Deus
4 – Zaqueu, arrependeu-se transformando a sua vida e a dos demais à sua volta.
A fé é condição para a salvação nos dois Testamentos. Ao mesmo tempo em que somos salvos pela fé, somos enriquecidos pelo Espírito Santo, santificados, guardados e curados. A fé é uma via de dois sentidos. Em um sentido ela é operada pelo Espírito santo, e em outro é uma reação humana. A fé é a combinação perfeita do intelecto com a vontade. Pelo intelecto se crê pela vontade se aceita a fé como diretriz de uma nova vida. A fé meramente intelectual não é suficiente, porque se pode muito bem entender e aceitar o sacrifício de Cristo, sem entregar-se a ele. O aspecto intelectual da fé nos serve para discernimento, para que não tenhamos uma fé cega e para que sejamos libertos da superstição e do medo. Já o aspecto emocional, é a dedicação da própria vida que nos faz sensíveis à indiferença causada pelo pecado.

Fé para Wesley
Wesley, para efeitos doutrinários, classificou a fé em quatro grupos distintos:
1 – a fé do pagão – A existência e os atributos de Deus, o estado futuro de recompensa ou punição, e a natureza obrigatória da verdade moral, pois essas coisas se constituem na crença de um pagão.
2 – a fé do diabo – Ela se distingue por ser meramente especulativa e racional, um frio e morto assentimento, um elenco de idéias na cabeça. Mais elevada que a fé dos pagãos, porque os demônios crêem e tremem, mas ainda ineficaz.
3 – a fé que os apóstolos tinham quando Cristo estava ainda no mundo – Embora crer a ponto de “deixar tudo e segui-lo” enquanto tivessem o poder de operar milagres, “a curar toda a espécie de doenças e enfermidades”, [...] Ele lhes diz que “não podiam expelir um demônio por causa da sua incredulidade”. Mais tarde, supondo já terem uma medida da fé, eles lhe pediram: “aumenta a nossa fé”. No entanto, ele lhe diz claramente que não possuíam nada dessa fé, “nem fé como a de um grão de mostarda.”
4 – A fé pela qual somos salvos A fé cristã [...] é antes uma plena confiança no sangue de Cristo, uma confiança nos méritos de sua vida, morte e ressurreição, um descansar nele como nossa propiciação e nossa vida, como dado por nós e vivendo em nós. É uma segura confiança que alguém tem em Deus e que, através dos méritos de Cristo, seus pecados estão perdoados, e ele está reconciliado ao favor de Deus e, como conseqüência, uma aproximação dele e um apego a ele, como nossa “sabedoria, justiça, santificação redenção” ou, numa palavra, nossa salvação.”
Conclusão
O que se pode entender por salvação, não algo que se resuma ao exclusivamente ao futuro, como um prêmio a ser garantido antecipadamente para proveito posterior. Nem exclusivamente ao presente, negligenciando o seu aspecto eterno do amor de Deus. A salvação, embora seja aqui e agora é algo que se estende tanto na verticalidade do tempo, quanto na horizontalidade do espaço. Tanto na visão histórica, quanto na vida prática. Não há mais lugar para se pensar em uma salvação pessoal e restrita. A antiga preocupação com a salvação individual tem que dar passagem à urgência de Deus em transformar o mundo, no dizer de Wesley, nada fazer senão salvar almas.
Embora não vivamos na rudimentar tecnologia dos tempos bíblicos, os anseios e necessidades dos homens e mulheres de hoje em nada diferem do que os nossos ancestrais mais remotos vivenciaram. Ainda choramos como Davi a perda de um filho, nos angustiamos como Jeremias pelo destino de nossa nação e ficamos perplexos como Amós pela irresponsabilidade dos governantes. Mas este é o mundo que Deus ama e pelo qual se ofereceu em sacrifício. E para que a vontade de Deus seja feita, necessitamos mais de pessoas arrependidas como Zaqueu, do que de apóstolos ungidos. Carecemos mais de homens de fé como o centurião, do que exorcistas e curandeiros. Necessitamos mais do humilde pregador, do que do eloquente orador. Precisamos mais de fé do que de poder. Na realidade, precisamos exercitar mais a nossa fé do que tentar aumentá-la, posto que se a tivéssemos do tamanho de um grão de mostarda, removeríamos definitivamente montanhas de problemas.

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Fé: condição e exclusividade

Queé uma das exigências fundamentais do Cristianismo e a primeira das chamadasVirtudes Teologais, todos estamos de acordo. Mas que se trata de um atributoexclusivo deste mesmo credo, poucos já atentaram para o fato. Para entendermoshoje o que significa a palavra fé, precisamos driblar as dificuldades temporaise entender o que ela significou no passado, ao longo da história da humanidade.Para isso, veremos alguns dos seus sinônimos, suas definições, bem como algunsaspectos da fé, no hebraico, no grego e no latim, em contrapartida ao queentendemos hoje no bom português.
Sinônimose palavras correlatas:
ACREDITAR:Ter a convicção de um fato ou depoimento sem que para isso existam provascabais. Dar poderes ou crédito.
CRER:Possui o mesmo sentido de acreditar, mas por vezes assume o sentido religiosodo ato. Ter por verdadeiro.
CREDO:Declaração dos objetos e objetivos de uma crença.
CRENÇA:Sistema elaborado de dogmas e doutrinas que constituem o proceder religioso deuma pessoa ou grupo.
CRENDICE:Crença popular absurda ou ridícula.
Definiçõesda palavra fé:
FÉ (na língua portuguesa): Conjunto de dogmas e doutrinas.Adesão ou anuência a uma entidade superior. Firme execução de um propósito oucompromisso. Testemunho autêntico de quem tem força em juízo.
FÉ no A.T.:A Bíblia hebraica possui duas palavras de difícil tradução para tanto para o gregocomo para o Latim. Uma vez que as religiões dos outros povos que cultivaramestas línguas, não se pautavam pelo mesmo tipo de fé que era professado em Israel. Não eraprática religiosa dos gregos e romanos ter fé em seus deuses, e sim conquistarseus favores fazendo oferendas e sacrifícios ou erigindo monumentos e templosem seu louvor. Nestes tipos religião não cabia momentos de confissão deexclusividade de culto, ou mesmo de afirmação de confiança na divindadecultuada. Daí a dificuldade de se traduzir para outra língua e para outracultura, algo que era próprio do judaísmo. As palavras abaixo relacionadas nosdão algumas pistas desta dificuldade.
Hebraico   significa                         Grego             Latim        significa
BATAH     solidez, cortesia             ekpis              spes          espera, temor, esperança
                                                           ekpifz              sperare     espera, pensar, crer
                                                           pepoihtgsir     confido      confiança, segurança
AMAN       segurança, confiança   pistis                fides          fidelidade
                                                           pisteuo            credere     confiar, crer, dar o coração
                                                           akgtheia          veritas       verdade


Basicamente,a fé de Israel estava fundamentada numa aliança feita com Deus. Desde Abrão,passando por Moisés e pelos profetas, homens que basearam as suas vidas na féem Javeh, nas suas vocações e nas suas missões. A aliança celebra oengajamento e a ação direta deDeus na história de Israel. É em retribuição a esta intervenção favorável, queIsrael obedece a Deus e à sua Palavra.
Noestágio inicial, os antigos entenderam que ouvir e obedecer a Javeh significavaprimordialmente crer nele: rebeldesfostes ao mandado do Senhor, vosso Deus, não crestes nele, e não obedecestes àsua voz. (Dt 9,23b). Mais tarde, em meio à descrença causada peloexílio babilônico, quando a fé na onipotência de Deus estava sendo questionada,em virtude da queda de Jerusalém diante de um povo e deuses estrangeiros, osprofetas proclamam que, a despeito das circunstâncias, só Javeh é digno deconfiança total. A fé, então, transpõe os limites de uma troca pessoal, e passaser um investimento no futuro e na preservação do povo como raça eleita.
Com a conquista da Palestinapelos selêucidas, pela primeira vez, o povo de Israel se vê exposto a umaperseguição religiosa sangrenta. Os mártires não morriam somente apesar da suafé, mas agora, por causa dela. Enfrentando esta suprema ausência de Deus, a fédeles não se abalava, pelo contrário, aprofundava-se a ponto de esperar pelafidelidade de Deus, não apenas nesta vida, mas também na ressurreição. Nestamesma época, passa por Israel uma corrente proselitista, quando numerosospagãos passam a crer no Deus de Abraão. Fato que inspirou a remota lenda daconversão dos ninivitas, povo pagão convertido pela pregação de um só profeta,Jonas, que, para a vergonha de Israel, é levado a crer em Javeh. Se aperseguição selêucida suscitou mártires, produziu também heróis. Homens e mulheresque se dispunham a lutar até a morte, para ver Israel livre. Embora admirável,esta fé não representava a pureza, pois coexistia com uma elevada confiança naforça e na vontade humana. 

Fé no N.T.: Muitos podiam ouvir as palavras e ver milagresde Jesus que proclamavam a vinda do Reino. Mas crer nele, era atitude própriados discípulos, e este era o grande problema, suas palavras e seus milagres levantavamuma questão inescapável acerca de sua própria pessoa: quem é este homem? Eis a questão que se constituiu emprovação para João Batista (Mt 11,6), escândalo para os fariseus e em blasfêmiapara os sacerdotes. A fé requerida para entender os milagres, só era recebida quandoa divindade de Jesus era reconhecida. Foi Pedro quem finalmente resolveu a questãoao estabelecer a precisa relação de fé que se deve ter em Jesus, quando disse: Tu és o Cristo, o Filho do DeusVivo. Foi a partir desta confissão de fé que Jesus começa a serdiferenciado, aos olhos dos discípulos, dos demais heróis e messias que Israeljá havia tido.

Fé de Jesus: Em um momento crucial da vida de Jesus,ele toma a decisão irrevogável de ir a Jerusalém (Lc 9.51). Para tal assume apostura anunciada por Isaías no terceiro cântico do Servo, que diz: fiz do meu rosto uma pederneira (Is 50,7). Jesus enrijece suafisionomia, mostrando com esta atitude que a decisão que tomara exige uma provade fé incondicional no Pai, porque, das consequências inescapáveis que existem nocaminho que se propõe a seguir, somente Deus pode salvá-lo, ou, em últimaconsequência, resgatá-lo da morte iminente através da ressurreição.

Fé dosdiscípulos: A provação da paixão será para os discípulos motivo deescândalo, e exigirá muito da fé deles. O desânimo e o desencanto provocadospela prisão e martírio, pelo qual seu mestre estava passando, jogava por terratodo o poder que Jesus até então mostrara através das curas e milagres. Nestemomento de extrema dúvida, Jesus tem como preocupação máxima preservar-lhes afé. Faz isso particularmente orando pela fé de Pedro, e confiando a ele umatarefa que dependerá exclusivamente da fé que, ele Pedro, teria em Jesus: Mas eu tenho orado por você, Simão,para que não lhe falte fé. E, quando você voltar para mim, anime os seus irmãos(Lc 22,32). Jesus diz que chegou a hora em que a fé dele tinha que dar um passodecisivo para vir se tornar a fé da Igreja. Em resumo:

Jesusmostra sua fé em Deus indo para Jerusalém

A paixãoprovoca escândalos para os discípulos que ainda não tem fé.

Jesusora pela fé deles para que não desfaleçam e convertam outros.

A fé dos discípulos se torna a fé da Igreja.

Fé da igreja: O passo a ser dado, após várias hesitaçõespor ocasião das aparições de Jesus, é crer na ressurreição. Por este motivo, oproclamaram Senhor e Cristo, em quem estão cumpridas todas as promessas. A fédos discípulos, que agora é capaz de enfrentar a morte, passa a convocarouvintes para dela partilhar das promessas, e assim obter a remissão de seuspecados. Ter fé, partir daquele momento, é aceitar a pregação das testemunhas,confessando Jesus como Senhor.
Esta é uma mensagem inicial, transmitida como uma tradição oral,mas que deve ser enriquecida através de ensinamento. Essa fé abre àinteligência, o mistério da sabedoria e do conhecimento que está em Cristo, quese contrapõe radicalmente ao conhecimento do mundo. Levados pela fé até obatismo, aderem-se plenamente à Igreja. Aquele que creu na palavra, agoraparticipa do ensinamento do Espírito, dos sacramentos e da liturgia da igreja.Através da igreja, Deus realiza o seu plano, pondo em prática a salvação dosque crêem. A fé se desenvolve na obediência a este plano incutindo: solidariedade,valor moral, amor fraternal, fidelidade, confiança e destemor.  

Fé dePaulo: Tantopara a igreja nascente como para Jesus, a fé era um dom de Deus. Quando ospagãos se convertiam, era o próprio Deus quem purificava os seus corações pela fé.Eram recebidos na igreja da mesma forma que os judeus crentes. Isso de imediatocausou o dilema da necessidade ou não de circuncisão dos novos convertidosoriundos do paganismo. Paulo julgava absurdo forçá-los a judaizarem-se, poisfoi a fé em Cristo que salvou, a eles e aos próprios judeus; não rituais oupráticas que eram exigidos na lei judaica. Por mais que pareça uma discussãosem propósito, esta se tornou a primeira crise entre lei e fé, e estabeleceu, apartir daí, uma reflexão profunda sobre a fé em detrimento à lei na história dasalvação.

DesdeAdão todos os homens, judeus e pagãos, são culpáveis perante Deus. Feita paradar vida, a lei só engendrou pecado e morte. A vida e a morte de Cristo põem umfim neste paradigma, manifestando a justiça de Deus que pode ser obtida somentepela fé. A promessa feita a Abraão está plenamente cumprida em Jesus, ondetodos os povos são abençoados pela justificação pela fé. O homem é justificadopela fé sem as obras da lei. Esta afirmação de Paulo não somente proclama queas práticas da lei, sob o regime da fé, são nulas, assim como anuncia que asalvação não é algo que se obtém por mérito, mas um dom gratuito de Deus,recebido pela fé.

Fé vempelo ouvir: Portanto, a fé vem pelo ouvir; ouvir a mensagem; mensagem vempor meio da pregação; pregação que aponta para Jesus, o Cristo. Este é o dadoque evidencia a diferença da palavra fé dos seus sinônimos e correlatos, e afaz ser de uso exclusivo para o Cristianismo. Muito embora, o emprego destapalavra por outros credos seja comumente aceito, seu uso é seguramenteindevido. A fé descrita na Bíblia atravessou uma longa e traumática trajetóriapara que chegasse a nós desta forma, tão transparente, tão completa e tãoobjetiva, para por fim, constituir-se na única condição para se agradar a Deus.Paulo dá o cheque-mate quanto à sua aplicabilidade prática: a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra deDeus, que aponta senão para Cristo.

Conclusão: Não háqualquer possibilidade de existir fé fora do Cristianismo, e nem há paralelospara a fé em outros credos. Pois Cristo, como foi exposto, constitui-se noúnico e suficiente objeto daquilo que entendemos como fé. Logicamente que estaé uma reflexão dirigida exclusivamente a cristãos e, mais logicamente dirigidaainda, a cristãos que não farão uso dela para afrontar pessoas de outroscredos. Mas é de extrema necessidade que saibamos que a fé que professamos nãoé fruto de mera concepção filosófica ou de visões e experiências alucinatórias,nem ainda de combinação de fatores, situações ou elementos favoráveis.

Pertencemosa uma longa cadeia de fidelidade de homens e mulheres que para fazerem com queesta fé chegasse até nós íntegra e verdadeira, depuseram, sem hesitar, seu prestígio,seus bens, sua saúde e mesmo sua vida, aos pés daquele em quem creram. Nossa fénasceu frágil, em uma obscura aldeia da Palestina, mas que de forma tãoabsurdamente avassaladora, foi capaz para transtornar de forma irreversíveltodo o universo visível e invisível. Mas que também, por motivos que jamaisentenderemos, foi plenamente suficiente para nos alcançar, apesar da nossapequenez e insignificância. 

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Fé: condição e exclusividade

A Destruição de Sodoma e Gomorra de John Martin (1789-1854)
Que é uma das exigências fundamentais do Cristianismo e a primeira das chamadas Virtudes Teologais, todos estamos de acordo. Mas que se trata de um atributo exclusivo deste mesmo credo, poucos já atentaram para o fato. Para entendermos hoje o que significa a palavra fé, precisamos driblar as dificuldades temporais e entender o que ela significou no passado da história da humanidade. Para isso, veremos alguns dos seus sinônimos, suas definições, bem como alguns aspectos da fé, no hebraico, no grego e no latim, em contrapartida ao que entendemos hoje no bom português.

Sinônimos e palavras correlatas:
ACREDITAR: Ter a convicção de um fato ou depoimento sem que para isso existam provas cabais. Dar poderes ou crédito.
CRER: Possui o mesmo sentido de acreditar, mas por vezes assume o sentido religioso do ato. Ter por verdadeiro.
CREDO: Declaração dos objetos e objetivos de uma crença.
CRENÇA: Sistema elaborado de dogmas e doutrinas que constituem o proceder religioso de uma pessoa ou grupo.
CRENDICE: Crença popular absurda ou ridícula.
Definições da palavra fé:
FÉ (na língua portuguesa): Conjunto de dogmas e doutrinas. Adesão ou anuência a uma entidade superior. Firme execução de um propósito ou compromisso. Testemunho autêntico de quem tem força em juízo.
FÉ no A.T.: A Bíblia hebraica possui duas palavras de difícil tradução para tanto para o grego como para o latim. É certo que as religiões dos outros povos que cultivaram estas línguas, não se pautavam pelo mesmo tipo de fé que era professado em Israel. Não era prática religiosa dos gregos e romanos ter fé em seus deuses, e sim conquistar seus favores fazendo oferendas e sacrifícios ou erigindo monumentos e templos em seu louvor. Nestes tipos religião não cabia momentos de confissão de exclusividade de culto, ou mesmo de afirmação de confiança na divindade cultuada. Daí a dificuldade de se traduzir para outra língua e para outra cultura, algo que era próprio do judaísmo. As palavras abaixo relacionadas nos dão algumas pistas desta dificuldade.
Hebraico   significa                     Grego            Latim          significa
BATAH      solidez, cortesia           ekpis              spes            espera, temor, esperança
                                                       ekpifz              sperare      espera, pensar, crer
                                                       pepoihtgsir     confido       confiança, segurança
AMAN       segurança, confiança    pistis               fides           fidelidade
                                                       pisteuo            credere      confiar, crer, dar o coração
                                                       akgtheia          veritas       verdade

Basicamente, a fé de Israel estava fundamentada numa aliança feita com Deus. Desde Abrão passando por Moisés e pelos profetas, homens que basearam as suas vidas na fé em Javeh, nas suas vocações e nas suas missões. A Aliança celebra o engajamento e a ação direta de Deus na história de Israel. É em retribuição a esta intervenção favorável, que Israel obedece a Deus e à sua Palavra.
No estágio inicial, os antigos entenderam que ouvir e obedecer a Javeh significava primordialmente crer nele: rebeldes fostes ao mandado do Senhor, vosso Deus, não crestes nele, e não obedecestes à sua voz (Dt 9,23b). Mais tarde, em meio à descrença causada pelo exílio babilônico, quando a fé na onipotência de Deus estava sendo questionada em virtude da queda de Jerusalém diante de um povo e deuses estrangeiros, os profetas proclamam que, a despeito das circunstâncias, só Javeh é digno de confiança total. A fé, então, transpõe os limites de uma troca pessoal, e passa ser um investimento no futuro e na preservação do povo como raça eleita.
Com a conquista da Palestina pelos selêucidas, pela primeira vez, o povo de Israel se vê exposto a uma perseguição religiosa sangrenta. Os mártires não morriam somente apesar da sua fé, mas agora, por causa dela. Enfrentando esta suprema ausência de Deus, a fé deles não se abalava, pelo contrário, aprofundava-se a ponto de esperar pela fidelidade de Deus, não apenas nesta vida, mas também na ressurreição. Nesta mesma época, passa por Israel uma corrente proselitista, quando numerosos pagãos passam a crer no Deus de Abraão. Fato que inspirou a remota lenda da conversão dos ninivitas, povo pagão convertido pela pregação de um só profeta, Jonas, que, para a vergonha de Israel, leva Nínive a crer em Javeh. Se a perseguição selêucida suscitou mártires, produziu também heróis. Homens e mulheres que se dispunham a lutar até a morte, para ver Israel livre. Embora admirável, esta fé não representava a pureza, pois coexistia com uma elevada confiança na força e na vontade humana. 

Fé no N.T.: Muitos podiam ouvir as palavras e ver milagres de Jesus que proclamavam a vinda do Reino. Mas crer nele, era atitude própria dos discípulos e este era o grande problema, suas palavras e seus milagres levantavam uma questão inescapável acerca de sua própria pessoa: quem é este homem? Esta questão constituiu-se em provação para João Batista (Mt 11,6), escândalo para os fariseus e blasfêmia para os sacerdotes. A fé requerida para entender os milagres, só era recebida quando a divindade de Jesus era reconhecida. Foi Pedro quem finalmente resolveu a questão ao estabelecer a precisa relação de fé que se deve ter em Jesus, quando disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo. Foi a partir desta confissão de fé que Jesus começa a ser diferenciado aos olhos dos discípulos, dos demais heróis e dos Messias que Israel já havia tido.

Fé de Jesus: Em um momento crucial da vida de Jesus, ele toma a decisão irrevogável de ir a Jerusalém (Lc 9.51). Para tal assume a postura anunciada por Isaías no terceiro cântico do Servo, que diz: fiz do meu rosto uma pederneira (Is 50,7). Jesus enrijece sua fisionomia, mostrando com esta atitude que a decisão que tomara exige uma prova de fé incondicional no Pai, porque das consequências inescapáveis que existem no caminho que se propõe a seguir, somente Deus pode salvá-lo, ou, em última consequência, resgatá-lo da morte iminente através da ressurreição.

Fé dos discípulos: A provação da paixão será para os discípulos motivo de escândalo e exigirá muito da fé deles. O desânimo e o desencanto provocados pela prisão e martírio, pelo qual seu mestre estava passando, jogava por terra todo o poder que Jesus até então mostrara através das curas e milagres. Neste momento de extrema dúvida, Jesus tem como preocupação máxima preservar-lhes a fé. Faz isso particularmente orando pela fé de Pedro, e confiando a ele uma tarefa que dependerá exclusivamente da fé que, ele Pedro, teria em Jesus: Mas eu tenho orado por você, Simão, para que não lhe falte fé. E, quando você voltar para mim, anime os seus irmãos(Lc 22,32). Jesus diz que chegou a hora em que a fé dele tinha que dar um passo decisivo para vir se tornar a fé da Igreja. Em resumo: 
1- Jesus mostra sua fé em Deus indo para Jerusalém. 
2- A paixão provoca escândalos para os discípulos que ainda não tem fé. 

3- Jesus ora para que fé deles não desfaleçam e sirva de inspiração para converter outros.

4- A fé dos discípulos torna-se a fé da Igreja.

Fé da igreja: O passo a ser dado, após várias hesitações por ocasião das aparições de Jesus, é crer na ressurreição. Por este motivo, o proclamaram Senhor e Cristo, em quem estão cumpridas todas as promessas. A fé dos discípulos, que agora é capaz de enfrentar a morte, passa a convocar ouvintes para dela partilhar das promessas, e assim obter a remissão de seus pecados. Ter fé, partir daquele momento, é aceitar a pregação das testemunhas, confessando Jesus como Senhor.
Esta é uma mensagem inicial, transmitida como uma tradição oral, mas que deve ser enriquecida através de ensinamento. Essa fé abre à inteligência, o mistério da sabedoria e do conhecimento que está em Cristo, que se contrapõe radicalmente ao conhecimento do mundo. Levados pela fé até o batismo, agregam-se plenamente à Igreja. Aquele que creu na palavra, agora participa do ensinamento do Espírito, dos sacramentos e da liturgia da igreja. Através da igreja, Deus realiza o seu plano, pondo em prática a salvação dos que creem. A fé se desenvolve na obediência a este plano incutindo: solidariedade, valor moral, amor fraternal, fidelidade, confiança e destemor.  

Fé de Paulo: Tanto para a igreja nascente como para Jesus, a fé era um dom de Deus. Quando os pagãos se convertiam, era o próprio Deus quem purificava os seus corações pela fé. Eram recebidos na igreja da mesma forma que os judeus crentes. De imediato isso causou o dilema da necessidade ou não de circuncisão dos novos convertidos oriundos do paganismo. Paulo julgava absurdo forçá-los a judaizarem-se, pois foi a fé em Cristo que salvou, a eles e aos próprios judeus, não rituais ou práticas que eram exigidos na lei judaica. Por mais que pareça uma discussão sem propósito, esta se tornou a primeira crise entre lei e fé, e estabeleceu a partir daí uma reflexão profunda sobre a fé em detrimento à lei na história da salvação.

Desde Adão todos os homens, judeus e pagãos, são culpáveis perante Deus. Feita para dar vida, a lei só engendrou pecado e morte. A vida e a morte de Cristo põe um fim neste paradigma, manifestando a justiça de Deus que pode ser obtida somente pela fé. A promessa feita a Abraão está plenamente cumprida em Jesus, onde todos os povos são abençoados pela justificação pela fé. O homem é justificado pela fé sem as obras da lei. Esta afirmação de Paulo não somente proclama que as práticas da lei, sob o regime da fé, são nulas, assim como anuncia que a salvação não é algo que se obtém por mérito, mas um dom gratuito de Deus, recebido pela fé.

Fé vem pelo ouvir: Portanto, a fé vem pelo ouvir; ouvir a mensagem; mensagem vem por meio da pregação; pregação que aponta para Jesus, o Cristo. Este é o dado que evidencia a diferença da palavra fé dos seus sinônimos e correlatos, e a faz ser de uso exclusivo para o Cristianismo. Muito embora o emprego desta palavra por outros credos seja comumente aceito, seu uso é seguramente indevido. A fé descrita na Bíblia atravessou uma longa e traumática trajetória para que chegasse a nós desta forma, tão transparente, tão completa e tão objetiva, para por fim, constituir-se na única condição para se agradar a Deus. Paulo dá o cheque-mate quanto à sua aplicabilidade prática: a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus, que aponta senão para Cristo.

Conclusão: Não há qualquer possibilidade de existir fé fora do Cristianismo, e nem há paralelos para a fé em outros credos. Pois Cristo, como foi exposto, constitui-se no único e suficiente objeto daquilo que entendemos como fé. Logicamente que esta é uma reflexão dirigida exclusivamente a cristãos e, mais logicamente dirigida ainda, a cristãos que não farão uso dela para afrontar pessoas de outros credos. Mas é de extrema necessidade que saibamos que a fé que professamos não é fruto de mera concepção filosófica ou de visões e experiências alucinatórias, nem ainda de combinação de fatores, situações ou elementos favoráveis. Pertencemos a uma longa cadeia de fidelidade de homens e mulheres que para fazerem com que esta fé chegasse até nós íntegra e verdadeira, depuseram, sem hesitar, seu prestígio, seus bens, sua saúde e mesmo sua vida, aos pés daquele em quem creram. Nossa fé nasceu frágil, em uma obscura aldeia da Palestina, mas que de forma tão absurdamente avassaladora, foi capaz para transtornar de forma irreversível todo o universo visível e invisível. Mas que também, por motivos que jamais entenderemos, foi plenamente suficiente para nos alcançar, apesar da nossa pequenez e insignificância. 

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Natal é assim, ou não é Natal

Lc 3,1-14
Para os evangelistas, João Batista é ogrande sinalizador da chegada do Natal. É alguém que, de uma forma bastanteobjetiva, prepara o caminho para o nascimento do Filho de Deus, sem o que nãoirá acontecer. Ele é o precursor, é a Voz que Clama no Deserto que profetizouIsaías e aquele que vai aplainar os caminhos tortuosos para que o verdadeiro Natalaconteça.
A despeito do Batista ter a sua mensagemmuito bem contextualizada e cronologicamente bem registrada, dando-nos a realsituação política e religiosa dom seu tempo, devemos sempre nos perguntar: seráque esta mensagem seria atual se fosse proclamada em nossos dias, uma vez queele falou às multidões, falou aos publicanos e também aos soldados de suaépoca? E para quem esta mensagem falaria hoje, tendo em vista que Cristo jánasceu há dois mil anos?
Se considerarmos os soldados do seu tempocomo sendo a força policial e instrumento da justiça de hoje, imagino que Joãotenha muito o que dizer. A situação da época era amplamente favorável a quemestivesse investido de alguma autoridade, fosse ele soldado um romano ou mesmoum soldado do templo. Podia prender qualquer um por qualquer motivo, e atémesmo sem motivo algum. Bastava uma simples denúncia, mesmo que fosse falsa. Aoacusado cabia o ônus da prova, era ele quem tinha que provar a sua inocência.Isso nem parece ter dois mil anos, mas como diz o ditado: atrás do mentirosovem o ladrão. Se a denúncia falsa fazia parte da prática policial, o subornopara inocentar também.
Mas o que isso tem a ver com o nascimentode Cristo? Deixe o corrupto pra lá, vamos nós aqui comemorarmos o nascimento deCristo. Vamos cantar Pinheirinhos que alegria, Surgem Anjos, Glória a Deus nasAlturas. Sim, mas espere aí, Noite Feliz não dá pra cantar não. Se essa“parada” não for resolvida, não haverá uma única Noite de Paz para o extorquido,e sequer uma Noite de Amor para o corrupto. A mensagem de João Batista é maisque atual. Basta abrir o jornal cuja manchete traz o Secretário de Segurançacomo chefe de uma enorme quadrilha. Somente a crueza desta mensagem, que mostrao risco que é a vida de corrupção e que é possível se viver agora a perspectivade um novo tempo, pode fazer com que o soldado se arrependa e tome consciênciade que não deve usar de violência gratuita contra as pessoas, de que não é segurodenunciar falsamente, e de que deve viver dignamente somente com o seu soldo.
Mas e o publicano, o que faz na históriado Natal? Mais conhecido como cobrador de impostos, o publicano era o judeu quetinha uma função no governo romano. Era o funcionário público dos nossos dias.Nesta qualificação podemos enquadrar desde o mais humilde servidor até osupremo mandatário. A presidente é tão funcionária publica e tão publicana comoqualquer outro. Mas o que João Batista tem com isso? Quem o nomeou fiscal dopovo? Quem ele pensava que era? Uma figura estranhíssima, todo peludo, cabelo ebarba sem corte, vestido de pele de animais, comendo mel e gafanhoto e saídodas profundezas do deserto. Um recluso social.
O curioso é que esta pergunta tem serepetido ao longo da história: quem você pensa que é? Ela foi feita para osrecém saídos do anonimato, como o boiadeiro Amós, o nazareno Jesus, orecém-convertido Paulo de Tarso, o faquir maltrapilho Mahatma Gandhi, o pastornegro Martin Luther King e o seringueiro Chico Mendes. Por que será que ésempre do improvável que surgem as denúncias? Por que será que a voz que clamapor justiça vem sempre do deserto? Um dos motivos, senão o principal é porqueos cidadãos que têm voz, que têm prestígio e que têm autoridade para fazê-losimplesmente não o fazem.
João Batista olha para o presidente, parao governador, para os fiscais do imposto de renda, para os que distribuemsenhas nas filas do INAMPS, para os publicanos em geral, e diz: destamaneira não vai haver Natal não. Eu me recuso terminantemente a anunciá-lo emmeio à situação que vive o povo. Se vocês não se pautarem por medidas justas epelo rigor da justiça, o Natal para aqui. Se não houver Natal para nós, nãohaverá Natal para vocês também. O machado já está posto à raiz da árvore. Todaárvore que não produzir bons frutos, será cortada e lançada ao fogo.
Por fim, ele falou também às pessoascomuns, gente como a maioria de nós. Ele falou às multidões. Ao falar,focalizou grupos bastante distintos. Primeiro àqueles que recorriam a ele pelasimples razão da novidade. Pessoas que queriam estar incluídas na mensagem dasalvação somente por que estava na moda. Sem ter a menor consciência do que elatratava e do que ela implicava. Raças de víboras, quem vos ensinou a fugirda ira vindoura? Se querem o batismo do Reino, produzam frutos que mostrem oseu arrependimento.
Mas havia no meio da multidão, engrossandoas suas fileira, um segundo grupo. Aqueles que se aproximavam da mensagem comares meritórios. Como se a novidade os incluísse naturalmente. Afinal eram osbaluartes da religiosidade, eram os guardiões da moral e dos bons costumes. Tenhocomo pai Abraão. Estou na igreja há 275 anos, já fui superintendente da EscolaDominical, sou ministro do louvor. João Batista os confronta: Deus podefazer destas pedras melhores filhos de Abraão e adoradores mais fiéis que vocêstodos juntos. Parece que ele está olhando para dentro das nossas igrejas dehoje. Parece que ele está de pé ali na porta.
Se tem um batismo por imersão, to dentro,se tem besuntamento de óleo, eu quero, mesmo sabendo que estas práticas não sãocristãs. João Batista parece que está presente em um culto de cura elibertação. A estes, ele está dizendo: Se querem a cura, a libertação e salvação, que em linguagem bíblicaquerem dizer a mesma coisa, saiam da superstição, do sincretismo e do modismoinconsequente e se arrependam. Celebrem o Natal como novidade de vida e nãoapenas porque está na época. Valorizem essa graça de Deus como a nossa únicaesperança.
Parece que ele também foi a um cultosolene. Um culto de crentes fervorosos. Aqueles que esperavam alcançar asalvação por algo que fizeram ou pelo têm feito. A estes a mensagem foi maisdura ainda. Não foram nem comparados a animais peçonhentos e sim classificadosabaixo de objetos inanimados. A dura mensagem a eles foi: Nas mãos de Deus,esta pedra é melhor que você, faz mais do que você, contribui mais que você. Afunção que ela exerce, mesmo estando parada, é mais importante do que esta quevocê tanto se orgulha. Deixe de lado a falsa religiosidade, de buscar asalvação própria e comece a preparar um caminho melhor para que o Natalaconteça de fato e para que o povo possa ver a salvação.
Ao que parece, nem todos os presentesforam assim tão duramente afrontados. Dentre aqueles havia um pequeno grupopara quem foi dirigida uma mensagem bem mais afetuosa, sem, contudo, seenquadrar dentro da realidade e da necessidade do cotidiano. Estes que comsinceridade de coração, embora transbordantes de dúvidas sobre o como procederdiante da nova ordem que se anunciava, perguntaram: o que havemos pois defazer? É justamente nesta hora que João evoca o mais preciso sentido doNatal. O dar-se como um presente que se dá a um amigo muito querido, a doar-seuma boa árvore que dá bons frutos, a fluir como uma fonte inesgotável deesperança. Quem tiver duas túnicas, divida com quem não tem; e quem tivercomida, faça o mesmo.
Por fim, queria pegar uma carona no que opoeta germânico Angelus Silesius disse em meados de 1650: se Jesus nascermil vezes em Belém e nenhuma eu teu coração, você pode até fazer uma bela efraterna festa no dia 25 de dezembro, mas perderá seu tempo. Porque estarámuito longe de comemorar o verdadeiro Natal, e assim, Cristo nunca nascerá emti.

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Natal é assim ou não é Natal

Natividad de Garcia del Barco (1467-1500)
Para os evangelistas, João Batista é o grande sinalizador da chegada do Natal. É alguém que, de uma forma bastante objetiva, prepara o caminho para o nascimento do Filho de Deus, sem o que não irá acontecer. Ele é o precursor, é a Voz que Clama no Deserto que profetizou Isaías e aquele que vai aplainar os caminhos tortuosos para que o verdadeiro Natal aconteça. A despeito do Batista ter a sua mensagem muito bem contextualizada e cronologicamente bem registrada, dando-nos a real situação política e religiosa do seu tempo,
devemos sempre nos perguntar: será que esta mensagem seria atual se fosse proclamada em nossos dias, uma vez que ele falou às multidões, falou aos publicanos e também aos soldados de sua época? E para quem esta mensagem falaria hoje, tendo em vista que Cristo já nasceu há dois mil anos?
Se considerarmos os soldados do seu tempo como sendo a força policial e instrumento da justiça de hoje, imagino que João tenha muito o que dizer. A situação da época era amplamente favorável a quem estivesse investido de alguma autoridade, fosse ele soldado um romano ou mesmo um soldado do templo. Podia prender qualquer um por qualquer motivo, e até mesmo sem motivo algum. Bastava uma simples denúncia, mesmo que fosse falsa. Ao acusado cabia o ônus da prova, era ele quem tinha que provar a sua inocência. Isso nem parece ter dois mil anos, mas como diz o ditado: atrás do mentiroso vem o ladrão. Se a denúncia falsa fazia parte da prática policial, o suborno para inocentar também.
Mas o que isso tem a ver com o nascimento de Cristo? Deixe o corrupto pra lá, vamos nós aqui comemorarmos o nascimento de Cristo. Vamos cantar Pinheirinhos que alegria, Surgem Anjos, Glória a Deus nas Alturas. Sim, mas espere aí, Noite Feliz não dá pra cantar não. Se essa “parada” não for resolvida, não haverá uma única Noite de Paz para o extorquido, e sequer uma Noite de Amor para o corrupto. A mensagem de João Batista é mais que atual. Basta abrir o jornal cuja manchete traz o Secretário de Segurança como chefe de uma enorme quadrilha. Somente a crueza desta mensagem, que mostra o risco que é a vida de corrupção e que é possível se viver agora a perspectiva de um novo tempo, pode fazer com que o soldado se arrependa e tome consciência de que não deve usar de violência gratuita contra as pessoas, de que não é seguro denunciar falsamente, e de que deve viver dignamente somente com o seu soldo.
Mas e o publicano, o que faz na história do Natal? Mais conhecido como cobrador de impostos, o publicano era o judeu que tinha uma função no governo romano. Era o funcionário público dos nossos dias. Nesta qualificação podemos enquadrar desde o mais humilde servidor até o supremo mandatário. A presidente é tão funcionária publica e tão publicana como qualquer outro. Mas o que João Batista tem com isso? Quem o nomeou fiscal do povo? Quem ele pensava que era? Uma figura estranhíssima, todo peludo, cabelo e barba sem corte, vestido de pele de animais, comendo mel e gafanhoto e saído das profundezas do deserto. Um recluso social.
O curioso é que esta pergunta tem se repetido ao longo da história: quem você pensa que é? Ela foi feita para os recém saídos do anonimato, como o boiadeiro Amós, o nazareno Jesus, o recém-convertido Paulo de Tarso, o faquir maltrapilho Mahatma Gandhi, o pastor negro Martin Luther King e o seringueiro Chico Mendes. Por que será que é sempre do improvável que surgem as denúncias? Por que será que a voz que clama por justiça vem sempre do deserto? Um dos motivos, senão o principal é porque os cidadãos que têm voz, que têm prestígio e que têm autoridade para fazê-lo simplesmente não o fazem.
João Batista olha para o presidente, para o governador, para os fiscais do imposto de renda, para os que distribuem senhas nas filas do INAMPS, para os publicanos em geral, e diz: desta maneira não vai haver Natal não. Eu me recuso terminantemente a anunciá-lo em meio à situação que vive o povo. Se vocês não se pautarem por medidas justas e pelo rigor da justiça, o Natal para aqui. Se não houver Natal para nós, não haverá Natal para vocês também. O machado já está posto à raiz da árvore. Toda árvore que não produzir bons frutos, será cortada e lançada ao fogo.
Por fim, ele falou também às pessoas comuns, gente como a maioria de nós. Ele falou às multidões. Ao falar, focalizou grupos bastante distintos. Primeiro àqueles que recorriam a ele pela simples razão da novidade. Pessoas que queriam estar incluídas na mensagem da salvação somente por que estava na moda. Sem ter a menor consciência do que ela tratava e do que ela implicava. Raças de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Se querem o batismo do Reino, produzam frutos que mostrem o seu arrependimento.
Mas havia no meio da multidão, engrossando as suas fileira, um segundo grupo. Aqueles que se aproximavam da mensagem com ares meritórios. Como se a novidade os incluísse naturalmente. Afinal eram os baluartes da religiosidade, eram os guardiões da moral e dos bons costumes. Tenho como pai Abraão. Estou na igreja há 275 anos, já fui superintendente da Escola Dominical, sou ministro do louvor. João Batista os confronta: Deus pode fazer destas pedras melhores filhos de Abraão e adoradores mais fiéis que vocês todos juntos. Parece que ele está olhando para dentro das nossas igrejas de hoje. Parece que ele está de pé ali na porta.
Se tem um batismo por imersão, to dentro, se tem besuntamento de óleo, eu quero, mesmo sabendo que estas práticas não são cristãs. João Batista parece que está presente em um culto de cura e libertação. A estes, ele está dizendo: Se querem a cura, a libertação e salvação, que em linguagem bíblica querem dizer a mesma coisa, saiam da superstição, do sincretismo e do modismo inconsequente e se arrependam. Celebrem o Natal como novidade de vida e não apenas porque está na época. Valorizem essa graça de Deus como a nossa única esperança.
Parece que ele também foi a um culto solene. Um culto de crentes fervorosos. Aqueles que esperavam alcançar a salvação por algo que fizeram ou pelo têm feito. A estes a mensagem foi mais dura ainda. Não foram nem comparados a animais peçonhentos e sim classificados abaixo de objetos inanimados. A dura mensagem a eles foi: Nas mãos de Deus, esta pedra é melhor que você, faz mais do que você, contribui mais que você. A função que ela exerce, mesmo estando parada, é mais importante do que esta que você tanto se orgulha. Deixe de lado a falsa religiosidade, de buscar a salvação própria e comece a preparar um caminho melhor para que o Natal aconteça de fato e para que o povo possa ver a salvação.
Ao que parece, nem todos os presentes foram assim tão duramente afrontados. Dentre aqueles havia um pequeno grupo para quem foi dirigida uma mensagem bem mais afetuosa, sem, contudo, se enquadrar dentro da realidade e da necessidade do cotidiano. Estes que com sinceridade de coração, embora transbordantes de dúvidas sobre o como proceder diante da nova ordem que se anunciava, perguntaram: o que havemos pois de fazer? É justamente nesta hora que João evoca o mais preciso sentido do Natal. O dar-se como um presente que se dá a um amigo muito querido, a doar-se uma boa árvore que dá bons frutos, a fluir como uma fonte inesgotável de esperança. Quem tiver duas túnicas, divida com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo.
Por fim, queria pegar uma carona no que o poeta germânico Angelus Silesius disse em meados de 1650: se Jesus nascer mil vezes em Belém e nenhuma eu teu coração, você pode até fazer uma bela e fraterna festa no dia 25 de dezembro, mas perderá seu tempo. Porque estará muito longe de comemorar o verdadeiro Natal, e assim, Cristo nunca nascerá em ti.

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