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Cristo e seus discípulos no seu caminho para Emaús, Pieter Coecke van Aelst (1502 -1556) |
Em suas improdutivas buscas por uma resposta para o ocorrido, os caminhantes de Emaús transferiram a sua indignação para um elemento que até então tido como ausente chamando-o de ignorante simplesmente porque, como eles, não estava tomado por ansiedades e nem decepções: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as
ocorrências destes últimos dias? Este é um sintoma que se pode notar na maioria das igrejas cristãs de hoje, seja qual for a sua tendência doutrinária. São os da linha carismática que se surpreendem negativamente com os tradicionais, porque estes ignoram e não reconhecem neles a ação incontestável e flagrante do Espírito Santo, que faz com que o apofático se sobressaia ao catafático nos usos e costumes dos adeptos dessa linha, ou são os tradicionais, que colocam o catafático acima do apofático, e enxergam todo esse movimento como uma forma carismatista, para não dizer caricata, que privilegia os sentimentos em detrimento da razão e, portanto, alienada de prestar culto a Deus.
ocorrências destes últimos dias? Este é um sintoma que se pode notar na maioria das igrejas cristãs de hoje, seja qual for a sua tendência doutrinária. São os da linha carismática que se surpreendem negativamente com os tradicionais, porque estes ignoram e não reconhecem neles a ação incontestável e flagrante do Espírito Santo, que faz com que o apofático se sobressaia ao catafático nos usos e costumes dos adeptos dessa linha, ou são os tradicionais, que colocam o catafático acima do apofático, e enxergam todo esse movimento como uma forma carismatista, para não dizer caricata, que privilegia os sentimentos em detrimento da razão e, portanto, alienada de prestar culto a Deus.
De uma forma nada sutil, porém muito eficiente, Jesus lhes devolve a ofensa chamando-os de idiotas incrédulos. Ou seja, mostra que está unicamente na interpretação errada das experiências apofáticas deles a única razão da sua decepção com Deus. Mostra que esta abordagem de uma experiência apofática não leva a lugar algum, a não ser ao vazio. Se Paulo, em II Co 12, não nos faz uma definitiva explanação de qual é de fato a real utilidade das experiências apofáticas, pelo menos nos garante para o que definitivamente elas não se prestam. Paulo fala de um arrebatamento apofático que, ocorrido há quatorze anos, ainda estava tentando entender, assim como levara 15 anos para ter o que dizer de sua experiência apofática no caminho de Damasco.
Primeiramente, ele diz que experiência apofática não é para ficar contando aos outros, pois ela sempre se nos apresenta de uma forma indizível, ou, como ele mesmo afirma: impossível de se relatar. Em segundo lugar, experiência apofática não é para ninguém se orgulhar ou se projetar acima das outras pessoas. Isto serviu muito bem para a Igreja de Corinto, que influenciada pelas sacerdotisas do templo de Diana, mulheres que haviam se ligado de alguma forma a esta igreja, e com larga experiência no paganismo, estavam tentando fazer crer que quanto mais extática a experiência, tanto maior a aproximação e intimidade com a divindade. Paulo fala de um espinho colocado na sua carne e do quanto este o fez sofrer tão somente por ameaçar seguir esta linha de raciocínio.
Para arrematar, Paulo deixa claro que devido à sua pouca capacidade em digerir tais experiências, Deus, há quatorze anos, estava fazendo com que ele entendesse que, comparadas à sua graça, aquela experiência apofática serviu exclusivamente para que ficasse completamente desnudada a sua enorme fraqueza espiritual, pois ainda era necessário que ele passasse por experiências apofáticas para confirmar a sua fé. Fato que, muito provavelmente, depois desta que foi relatada, nunca mais lhe ocorreu.
O período de experiências apofáticas de Paulo havia passado. Ele chegara ao entendimento amadurecido, em que Deus não mais precisa se revelar continuamente através do sobrenatural para comunicar a sua graça. Chega a dizer que experiência apofática é útil aos que não creem, àqueles que, em virtude da sua falta de fé, necessitam ser estimulados por sinais para compreenderem a vontade de Deus nas suas vidas. Os que efetivamente creem precisam do catafático, daquilo que edifica, que consola e que exorta. Em suma, precisam da profecia revelada na Bíblia. Não foi diferente com Martinho Lutero, que ao chegar à maturidade da sua fé, declarou: Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir.
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