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Néftis e Isis, hieróglifos egípcios desde 3000a.C |
Assim como fazemos com a Trindade, quando caímos na tentação de privilegiar uma das suas figuras em detrimentos das outras, somos também tentados a escolher apenas um dos elementos que levou a igreja primitiva a atrair adeptos numa escala infinitamente superior à obtida por qualquer outro plano de evangelização posterior ao dela. Particularmente eu não sou daqueles que enaltecem a fé e a conduta dos nossos antepassados como exemplos de perfeição. No entanto, tenho que admitir que eles deixaram um inigualável legado ao nosso mundo, à nossa história, e principalmente aos cristãos que vieram após. Embora fossem tão falhos quanto nós, sua igreja
tão imperfeita quanto a nossa, e amados por Deus na justa medida em que também somos hoje, não há como não concordar que tanto a sua maneira de ser quanto a sua mensagem eram bem mais agradáveis aos olhos e ouvidos do povo do que tudo o que pregamos e testemunhamos do evangelho atualmente. A meditação que vamos fazer tem por finalidade buscar algumas pistas que nos levem a entender por que eles alcançaram resultados fantástico,s onde invariavelmente falhamos como igreja.
tão imperfeita quanto a nossa, e amados por Deus na justa medida em que também somos hoje, não há como não concordar que tanto a sua maneira de ser quanto a sua mensagem eram bem mais agradáveis aos olhos e ouvidos do povo do que tudo o que pregamos e testemunhamos do evangelho atualmente. A meditação que vamos fazer tem por finalidade buscar algumas pistas que nos levem a entender por que eles alcançaram resultados fantástico,s onde invariavelmente falhamos como igreja.
Para isso, precisamos rever um pouco do seu ambiente e dos desafios que eles tiveram que superar nos primeiros anos de existência da nossa fé, começando pelo ambiente judaico. O que havia de preponderante em Jerusalém naquela época? Com que regime político, social e cultural a pequena e frágil igreja se deparou? Sabemos que havia a doutrina dos saduceus. Muito embora não encontremos com frequência na Bíblia representantes desse partido político religioso, eles estão sempre presentes quando se faz alusão aos anciãos, aqueles figurões que eram tidos como a reserva moral da sociedade. As marcas essenciais da sua doutrina eram a descrença na vinda de um Messias e na ressurreição. A doutrina deles pregava a preservação da situação, em virtude disso cumpriam rigidamente as ordens estabelecidas pelos romanos. Era uma doutrina extremamente conservadora, portanto, não poderia haver para eles nada mais subversivo do que a expectativa da chegada de um Messias. Do mesmo modo, a ressurreição era uma ameaça perigosa, porque em tudo que renasce, ressurge totalmente novo e transformado. Ninguém renasce pra continuar sendo o que já é. Esse era um partido muito forte, contava com pessoas dos mais altos cargos no governo, detinha a maioria das terras cultiváveis, e, por conta disso, tinha um poder enorme de pressão sobre todo o povo.
Outra doutrina muito comum daquela época era a doutrina dos escribas e fariseus. Esta era uma classe ascendente que se afirmava pela sua cultura. Eles eram os únicos que sabiam ler, por isso tinham a palavra final sobre a interpretação bíblica. Pagavam seus impostos sem contestar, e também aceitavam as leis romanas sem muitas reservas. O povo dava-lhes crédito e aliava-se a eles como forma de protesto contra o partido dos saduceus. Na época de Jesus não possuíam poder para subjugar o povo, como é descrito nos evangelhos. Muitas das palavras de Jesus dirigidas a eles foram originalmente endereçadas aos anciãos e sacerdotes do templo. Posteriormente, quando foram escritos os evangelhos e principalmente após a destruição do templo de Jerusalém, caíram-lhes como uma luva, pois, a exemplo dos sacerdotes antes deles, passaram a manter o povo sob severas leis de conduta.
Havia também os zelotes. Esse era o grupo mais radical, o único que pegava nas armas e que pregava a libertação do Império Romano pelo uso da força. Eram os guerrilheiros da época. Era uma classe formada principalmente por pessoas que haviam perdido as suas propriedades, e dos que mais sofriam com os pesados impostos e nada mais na vida tinham a perder, a não ser a própria vida. Entre os discípulos de Jesus não havia sacerdotes e nem fariseus, mas por certo havia alguns membros desse partido no seu grupo.
Isso para falar apenas do que acontecia entre os judeus. Mas em todo Império Romano , da qual a Judéia fazia parte, havia também uma grande variedade de religiões aceitas e estimuladas pelos imperadores. Dentre as mais estimuladas encontravam-se as chamadas religiões de mistério. Para os romanos, religião tinha que ser antiga, como era o caso do judaísmo e do zoroastrismo, ou mística, desde que nas últimas o imperador figurasse dentre as divindades cultuadas. É nesse emaranhado de doutrinas, seitas e religiões que nasceu o cristianismo. Logo de cara herdou o pior dos mundos. Não era antiga e também não pregava mistérios mirabolantes como o oráculo de Delfos, por exemplo.
Agora, como entender que esse pequeno e frágil grupo vingou? Mais que isso, como essa inexpressiva e aparente seita judaica progrediu a uma escala jamais igualada? Vejam vocês que o cristianismo ainda não havia completado sessenta anos e tinha fiéis seguidores dentro da família imperial. A história conta que em 95 d.C. o imperador Domiciano mandou matar seu irmão Flávio Clemente e desterrou sua esposa Flávia Domitila por eles terem se convertido ao cristianismo. O que mais impressiona é que o cristianismo ao chegar não encontrou mentes vazias e nem devotos desocupados. Naquela época não havia ateus. Todos tinham uma religião, todos oravam e prestavam culto a um deus. O que será que aquele pequeno grupo de seguidores de um tal de Jesus Cristo, que nasceu numa obscura aldeia nos confins do mundo, fez para conseguir adeptos no fundamentalismo judaico e entre os supersticiosos gentios? Será que eles tinham algum poder mágico que nós não temos hoje? Será que eles possuíam um tipo de atração irresistível? (continua)
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