Cristo e Tomé, del Verrocchio (1435-1488) |
A grande questão é a contestação que se faz à famosa frase de Tomé que diz
que preciso ver para crer. Imagino que o mundo inteiro conhece essa frase. Mas Jesus já tinha se antecipado a ela quando disse: Se creres, verás a glória de Deus. O contexto é o diálogo de Jesus com Marta, irmã de Lázaro, momentos antes da ressurreição deste. Ele está morto já faz quatro dias, já cheira mal, diz Marta. Se creres, verás a glória de Deus, diz Jesus. Eu citei o contexto porque este é um versículo de difícil interpretação e pode ocasionar um duplo sentido. Ele pode nos levar a crer que Lázaro morreu porque suas irmãs não perseveraram, pode consequentemente afirmar que se as bênçãos não acontecem na nossa vida é porque não temos fé suficiente. Não é isso que Jesus quis dizer. Ele sempre pregou que a bênção de Deus faz brilhar i sol sobre a cabeça de bons e maus, e que ele faz cair a chuva sobre justos e injustos. O que o versículo quer dizer é que as grandes e reais manifestações de Deus são percebidas quase que exclusivamente no terreno da fé. Que elas estão acontecendo sempre, mas poucos são os que se dão conta.
que preciso ver para crer. Imagino que o mundo inteiro conhece essa frase. Mas Jesus já tinha se antecipado a ela quando disse: Se creres, verás a glória de Deus. O contexto é o diálogo de Jesus com Marta, irmã de Lázaro, momentos antes da ressurreição deste. Ele está morto já faz quatro dias, já cheira mal, diz Marta. Se creres, verás a glória de Deus, diz Jesus. Eu citei o contexto porque este é um versículo de difícil interpretação e pode ocasionar um duplo sentido. Ele pode nos levar a crer que Lázaro morreu porque suas irmãs não perseveraram, pode consequentemente afirmar que se as bênçãos não acontecem na nossa vida é porque não temos fé suficiente. Não é isso que Jesus quis dizer. Ele sempre pregou que a bênção de Deus faz brilhar i sol sobre a cabeça de bons e maus, e que ele faz cair a chuva sobre justos e injustos. O que o versículo quer dizer é que as grandes e reais manifestações de Deus são percebidas quase que exclusivamente no terreno da fé. Que elas estão acontecendo sempre, mas poucos são os que se dão conta.
O grande milagre da paixão e morte de Cristo não foi entendido por nenhuma testemunha no Calvário, nem pelos evangelistas canônicos ou apócrifos, nem por qualquer dos apóstolos originais, mas por um apóstolo adotivo que nem conhecera Jesus pessoalmente, Paulo de Tarso. Enquanto todos lamentavam os incidentes que levaram ao flagelo, à crucificação e à morte de Jesus, e se mostravam incertos quanto ao futuro daqueles que durante três anos acompanharam de perto o seu ministério, somente Paulo cantou hinos de vitória: Deus perdoou todos os nossos pecados e anulou o escrito da nossa dívida, com os seus regulamentos que nós éramos obrigados a obedecer. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz. E foi na cruz que Cristo se livrou do poder dos governos e das autoridades espirituais. Ele humilhou esses poderes publicamente, levando-os prisioneiros no seu desfile de vitória. Portanto, por meio do Filho, Deus resolveu trazer o Universo de volta para si mesmo. Ele trouxe a paz por meio da morte do seu Filho na cruz e assim trouxe de volta para si mesmo todas as coisas, tanto na terra como no céu(Cl 1 e 2). Naquela cruz que significava derrota, Deus estava obtendo a maior de todas as vitórias, estava reconciliando o mundo consigo. Foi preciso Deus criar um Paulo para que alguém enxergasse algo tão grandioso.
O que havia sido pedido a Tomé é que reconsiderasse o que Deus, através de Jesus, havia feito anteriormente. Para que Tomé se lembrasse do quanto já havia testemunhado, o quanto já havia se surpreendido com as coisas que aconteceram quando Jesus estava presente. Ele até tinha o direito de se espantar com o poder de Deus, mas não tinha o direito de duvidar. Antigamente a igreja cantava um hino que diz: Conta as muitas bênçãos. É um hino para ser lembrado sempre, mas principalmente nos momentos de aflição e angústia, quando nós julgamos que Deus não está presente ou mesmo que ele não é capaz de resolver o nosso caso. Tens acaso mágoas, triste é o teu lidar. É a cruz pesada que tens de levar? Conta as muitas bênçãos, logo exultarás. E fortalecido, tudo vencerás. Se creres, verás a glória de Deus. Como disse o salmista no momento extremo da sua provação: Eu ainda o louvarei. Se não cremos, dificilmente a veremos. As bênçãos vão acontecer e nos ficaremos apenas lamentando as perdas do presente e as incertezas do futuro.
Contudo, existe uma contrapartida no crer para ver que é a fé cega. É assim o título de uma música popular: Fé cega, faca amolada. E é isso mesmo o que acontece quando se coloca o crer acima de qualquer outra coisa. Aí já não estamos mais falando de fé, mas sim de crendice. De pessoas que são atraídas para as igrejas que anunciam grande incidência de milagres e a lugares onde há abundante ação do Espírito Santo. Numa igreja onde há necessidade constante de curas, de seguidas libertações e de contínuos exorcismos, há sinais claros de que atitudes drásticas e ações Espírito de Deus, porque ele está impossibilitado de agir livremente, então é por isso que ele tem que fazer milagres. O grande duelo que se trava hoje na igreja, e na mente de muitos cristãos é entre a busca de dons e a busca do fruto do Espírito.
Vocês já reparam nos diferentes teores contidos nas cartas paulinas? Como Paulo tinha um tratamento para uma igreja diferente do que tinha para outra? Ele perguntou para os coríntios: Sabe por que vocês precisam de dons? Porque há doentes entre vocês. Por que essa igreja precisa de libertação? Porque ainda há nelas pessoas escravizadas pelo mal. É preciso que essa igreja tome medidas drásticas. A coisa está feia aqui. Paulo, na carta aos coríntios, não está se referindo apenas aos pecados do cotidiano, mas de incesto, de espoliação, de delitos, de transgressões da lei dos homens. Já para os gálatas ele diz algo diferente: Vocês estão precisando de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. E de quebra ainda disse: Contra essas coisas não há lei. Os coríntios precisam antes enquadrarem-se nas leis dos homens, já os gálatas, necessitam de um pouco de sensatez, para usufruírem de algo que está acima de todas as leis. Não se trata de comparar pecadinho com pecadão, mas aqui, bastam pequenos ajustes, ali somente medidas drásticas. Em qual das duas igrejas o Espírito de Deus age mais livremente?
Então por que a grande maioria dos cristãos está cada vez mais empenhada em buscar os dons e não o fruto do Espírito? Por que a tradição cristã, que atravessou séculos e sobreviveu a tudo e a todos, deve ser esquecida em favor de uma nova tendência? Talvez nas igrejas de Éfeso e de Corinto fosse assim, mas o contexto das outras igrejas do primeiro século era parecido com a igreja dos gálatas. Eram igrejas regionais, frequentadas por pessoas comuns, por gente do povo local. Vocês já repararam o nome das igrejas de hoje. Não tem nomes simples como Igreja Metodista, Igreja Batista ou Igreja Presbiteriana. O que existe hoje é Igreja Mundial, Igreja Universal, somente nomes pomposos e grandiosos. A doutrina do pensamento positivo entrou de vez na igreja. Nada de tristeza, nada de dúvida, nenhum temor, nenhuma incerteza.
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