Adoração dos Magos, da Vince (1452-1519) |
sabemos o que adoramos porque a salvação vem dos judeus. Mas virá o tempo, e, de fato, já chegou, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade. Pois são esses que o Pai quer que o adorem. Deus é Espírito, e por isso os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade. João 4,20-24
Qual seria a tarefa principal da igreja? Certamente que uns vão dizer que é a comunhão, outros que é a adoração, mas na realidade são os dois. Nós não temos que escolher entre comunhão e adoração, porque a comunhão é um ato de adoração e na adoração a Deus tem que estar sempre presente o sentido do outro, que na Bíblia é chamado de próximo. É impossível para mim adorar a Deus, até com a minha oferta, deixando de lado a dimensão do próximo. Olhem o que Jesus disse sobre o que fazer com a oferta quando se tem uma contenda. E igualmente eu não posso amar o meu próximo se eu não amar a Deus. Então, adoração e comunhão são inseparáveis, e são elas a minha missão, elas são a missão da igreja. Pedro, na sua primeira carta diz que nós somos uma nação de sacerdotes consagrados a Deus, cuja função é oferecer sacrifício que Deus aceite: Mas vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus, o povo que pertence a ele. Vocês foram escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz. (I Pe 2,9s).
A adoração suprema é o reconhecimento da distância que existe entre nós e Deus, é admitir o valor absoluto de Deus. Mas posso muito bem eu admitir esse valor singular e não estar nem aí para que o resto do mundo pense a respeito dele. Embora seja um estado invejável de adoração, está longe de ser verdadeira. Porque a verdadeira adoração impele compulsivamente a igreja a testemunhar o que Deus fez por ela. Há algo de muito hipócrita na adoração que não nos impele a compartilhar a nossa fé com os outros. Mas me deixe perguntar uma coisa: Nós queremos de fato essa comunhão? A pergunta é boa pra mim, porque eu nunca gostei do tipo de evangelização feito na pressão. Alguns pastores exerciam, e ainda exercem sobre a igreja quanto à imperiosa obrigatoriedade de se evangelizar dessa forma, como sendo a única. Isso me revolta, eu chamo isso de evangelização na marra. Se evangelização é isso, eu não nasci para evangelizar. Estou fora, podem retirar as minhas credenciais.
Mas a despeito disso a pergunta ainda prevalece: Queremos mesmo compartilhar com as pessoas o que Deus fez por nós? Queremos mesmo que todo joelho se dobre e que toda a língua confesse ser Jesus, o Senhor? Em outras palavras, queremos que as outras pessoas o adorem também? Então o objetivo final da evangelização é a adoração. O que nós fazemos na evangelização não é prestar um favor aos pobres infiéis pecadores, porque esses somos nós. Na evangelização nós estamos pedindo o favor deles para que, em comunhão conosco, nos ajudem a adorar a Deus verdadeiramente. Que eles nos ajudem a oferecer um sacrifício aceitável a Deus. Nós precisamos deles para prestar o culto verdadeiro que, nas palavras de Jesus, tem que ser em espírito e em verdade.
O mundo de hoje, principalmente o ocidente, está numa busca frenética para conhecer o transcendente, aquilo que é superior ao homem, o que é sobrenatural. Há entre nós uma consciência coletiva de que existe algo acima da nossa realidade que a ciência e a tecnologia sequer imaginam. Os jovens de hoje estão cada vez mais desacreditando da ciência. Quando aconteceu aquele acidente com o ônibus espacial, em que a morte fulminante de sete pessoas foi testemunhada ao vivo por bilhões de pessoas, constatou-se que a ciência e a tecnologia realmente avançaram tanto, que hoje são capazes de cometer falhas realmente grandiosas e espetaculares. As pessoas percebem essa insegurança e passam a crer em outra dimensão. Elas, principalmente as pessoas mais jovens, decepcionadas com a ciência estão buscando o que é transcendente, buscando esta outra dimensão nas drogas, no álcool e nas religiões de mistério.
Ainda há quem considere o Brasil um país cristão, mas há muito o que prevalece mesmo é o animismo, as religiões que invocam espíritos e que se valem de amuletos e ídolos. Estão procurando o transcendente no lugar errado? Estão. Da maneira errada? Estão. De uma forma nociva a eles mesmos? Sim. Mas nada isso não invalida o fato de que eles estão buscando. É justamente por isso é que a missão da igreja é fazer com que o mundo descubra o transcendente na adoração de um Deus que se importa com as pessoas, com a qualidade de vida que as elas estão vivendo, de como elas tratam umas as outras, e que tipo de segurança pode trazer a paz, e, ao mesmo tempo, fazê-las felizes. Um Deus que é essencialmente comunhão, que se fez carne para ter comunhão direta conosco.
A adoração cristã é muito mais do que um habito social, mais do que uma convenção religiosa, do que uma base estrutural de um código de fé. A adoração cristã transcende estes aspectos pela sua autenticidade e finalidade. Eu gostaria de mencionar três características que confirmam esta diferença. Mas isso fica para a próxima vez.
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