O zelo de Deus

Escultura de uma tonelada de ouro 24 quilates
em um prédio em Huaxi, Jiangyin, China
Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito. Ex 32 7,14 
Existe em alguns grupos de igrejas uma tendência muito forte em negar certas prescrições contidas no Primeiro Testamento.
  Algumas negam terminantemente que este escrito seja a base para o testamento essencialmente cristão.  Parece que o último mandamento da Bíblia hebraica ainda vigente é o do dízimo, e quando alguém faz isso, deixa e lado importantes doutrinas bíblicas, e uma delas é a que diz que o nosso Deus é um Deus zeloso. Algumas traduções chegam a afirmar que Deus é ciumento, não que concebam que Deus tenha essa virtude, para uns, ou mazela, para outros, mas numa forma clara de nos fazer entender como Deus se sente quando a sua glória é confundida.

Deus é único, antes dele não houve, depois dele não haverá, dizia Isaías. Assim como ele é único, a sua ação e a sua revelação também são únicas. Contraditoriamente aos costumes dos povos pagãos, Deus não pode ser encontrado através da observação dos fenômenos da natureza e nem por qualquer mergulho na existência humana, seja de que profundidade for. Quando perdemos essa noção de revelação única deixamos de perceber o inominável abismo que existe entre ele e os deuses cultuados através dos elementos naturais, e quando isso acontece, nos permitimos achar que qualquer forma de adoração é válida, porque a intenção é o que fala mais alto. Passamos a adotar formas, até então, estranhas de culto, onde objetos se tornam sagrados, surgem elementos com poderes específicos, atitudes inusitadas e gestos inconsequentes. Deus é único, a sua revelação é única, portanto, o seu culto também haverá de ser único.

Por mais que essas palavras pareçam anacrônicas, que caberiam melhor na boca de Moises, que o Antigo Testamento ficou no passado, porque é para os antigos que elas foram escritas, o propósito do ser humano continua o mesmo. Não estamos aqui para viver consoante as leis naturais, e sim para fazer a vontade de Deus. O texto acima , sugerido que foi sugerido pelo Calendário Litúrgico, é apenas um exemplo entre outras tantos outros, do que acontece quando perdemos a noção do zelo de Deus. Algumas conclusões podemos tirar dessas situações concretas.

O pecado passa a ser considerado uma aberração, ou algo que aconteceu, mas que não deveria ter acontecido. O status quo de cristãos nos colocou em um estágio superior, e neste estado podemos até nos sentir culpados, lamentarmos, ou mesmo nos indignarmos pelo fracasso de nós mesmos, mas, por desconhecimento da vontade de Deus, passamos longe da contrição, do arrependimento e não sentimos a experiência da necessidade imperiosa de perdão. Certos procedimentos que aproximam o homem da divindade, como normalmente acontece nas religiões pagãs, que permitem ao indivíduo o poder de por seus próprios esforços chegar à iluminação, à consciência superior acima do bem e do mal, e, porque não dizer, à santidade, é completamente estranho à fé cristã, porque a Bíblia diz exatamente o oposto. Quanto mais perto de Deus tentamos chegar, mas se revelará a nossa degradação. Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!

Qualquer intenção sincera na direção de Deus não nos vai fazer passar pelo caminho da glória ou por crescentes estágios de sublimidade.  Não vamos nos sentir mais puros, nem mesmo mais conscientes. O que vai ficar patente é o nosso pecado, o que vai ficar evidente são as nossas limitações, o que vai se fazer necessário é a obediente submissão à sua vontade. Porque a diferença não está em nós. Somos tão idólatras quanto nossos antepassados no deserto, entre nós há disputas maiores que entre xiitas e sunitas, tão maquiavélicos quanto qualquer terrorista e infinitamente mais pecadores que todos os feiticeiros do Voo Du juntos. Ninguém há que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade. Is 59,4

Diferente é o nosso Deus, que de forma alguma vai aceitar um “foi mal” como desculpa, uma oferta generosa como suborno, uma maquiagem como sinal de transformação. Ele zela pelo seu nome, para que esse nome seja exaltado entre os pagãos e para que venha dele, e não do sol ou qualquer outro astro a única luz que guie o seu povo. Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória. Is 60,19. (continua)

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