Policarpo bispo de Esmirna (69-155) |
transmitir a riqueza que não experimentou na terra.
Conheci um senhor na minha adolescência que sempre que falava ao meu grupo contava a história de duas pessoas, uma rica e outra pobre, que chegaram ao céu juntas. Logo no começo da rua, isto é, bem perto de Deus ficava a luxuosíssima casa do pobre. O rico ao ver aquele palacete, comentou: se a casa dele é assim, mal posso imaginar a minha. Qual não foi a sua surpresa quando descobriu que a sua casa, além de distante não passava de um barraco mal arranjado. Foi imediatamente à administração reclamar do disparate, e teve que ouvir do anjo de plantão. Com o material que você em vida mandou aqui pra cima, só deu pra construir isso aí mesmo. Já o seu colega pobre mandou material de sobra, e veja no que deu.
Para a grande maioria dos cristãos o Reino prometido desde a fundação dos séculos nada mais é do que a justa inversão da posse dos bens que lhe foi negada em vida. Aparentemente sem causar danos maiores, este pressuposto foi um marco trágico na história da igreja. Não somente serviu para justificar o domínio da realeza, como também manteve sob uma de superstição uma grande massa de inocentes úteis, a serviço de uma exploração sem precedentes na história da civilização. Paulo faz esta advertência baseado na sua própria experiência, quando era o todo poderoso signatário do Sinédrio. Não precisou ir longe, lembrou-se apenas do tempo que tinha ouro e prata, do tempo em que ainda chamava-se Saulo.
Esse era um importante alerta para a Igreja de Éfeso, porque assim funcionava o templo de Diana. Aquele que conseguisse levar a melhor oferenda sairia de lá com a maior intuição de que seria mais bem agraciado pela deusa. Paulo sabia muito que bem que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram e que jamais havia penetrado em um coração humano o que Deus havia preparado para aqueles que o amam. Isto quer dizer que ele não sabia descrever e nem mensurar a riqueza da herança. Paulo não podia dizer como era, mas podia muito bem dizer como não era. Sabia que sonhar com este tipo de herança não seria apropriado àquele que confia em um Deus que é essencialmente verdade amor e justiça.
Paulo termina a sua oração pedindo a Deus que dê aos cristãos de Éfeso o conhecimento da dimensão exata da grandeza do poder. Aliás, são palavras que parecem sinônimas, pois estamos muito acostumados a vê-las juntas. Grandeza e poder são inerentes na nossa cultura. Ouvimos desde pequenos que só poderíamos fazer determinadas coisas quando fôssemos grandes. É um casamento perfeito e o mundo inteiro diz amém. Mas não o cristão.
Para a fé cristã grandeza e poder significam exatamente o oposto. Nela o primeiro tem que se colocar por último, o grande tem que se fazer pequeno, e o poder atinge o seu ponto máximo na mais fidedigna expressão da fraqueza. Tento de todas as formas imaginar o quanto foi difícil para Paulo transmitir esse ensinamento a pessoas que viviam debaixo de um poder absoluto, do mais grandioso império que a humanidade conheceu. Fico, da mesma maneira, tentando descobrir o porquê da doideira desse apóstolo que pede algo tão acima da possibilidade de uma igreja tão nova e tão pequena.
Pode realmente parecer absurdo, mas é a oração mais apropriada para a igreja fazer nos conturbados dias de hoje, mesmo quando ainda nova e pequena: crescer, para ser pequena, ter poder, para poder ser subjugada ainda mais. Esperar, quando todas as esperanças se houverem esvaído. Enxergar uma herança que os olhos não viram, que os ouvidos não ouviram, e que coração jamais sentiu.
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