Cristo e Maria Madalena de Rubens (1577-1640) |
Reino de seu Pai que qualquer discípulo homem. Se isso já os matava de inveja, eu não sou capaz sequer de imaginar como eles se sentiram com o que Jesus fez em seguida. Tenho pra mim que essa desenfreada busca dos cargos de maior destaque na igreja, que faz com que nós homens fiquemos medindo forças para saber quem é o maioral, e não podemos negar que isso acontece, inclusive entre pastores, se deve a este fato. Já que não conseguimos ser Maria Madalena, então vamos ver quem é o maior apóstolo, o mais abençoado missionário, e por aí vai.
O que Jesus faz em seguida torna simplesmente sem efeito tudo o que já foi feito em termos de exaltação, não somente da mulher, mas de qualquer ser humano na história até então. Nenhuma outra religião, nenhuma outra doutrina, nenhum outro líder religioso ousou fazer o que Jesus fez naquele instante. Nesse mesmo diálogo, Jesus convoca Maria Madalena a proclamar a sua ressurreição: ...vai ter com meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Vai e dize-lhes que estou vivo. Vai e dize-lhes que eu ressuscitei. Vai e dize-lhes que eu vou para o meu Pai e meu Deus. Vai e dize-lhes que por causa disso que ele agora também é vosso Pai e vosso Deus.
Quando Jesus incumbe Maria Madalena da responsabilidade de ser a primeira anunciar a sua ressurreição, está fazendo dela mais do que uma missionária, mais do que uma bispa, mais do que uma apóstola. Jesus faz o impensável, o inimaginável. Assim como Deus fizera antes quando quis transmitir a promessa a Abraão, e posteriormente quando quis anunciar a vinda do Messias à Virgem Maria. Quando Deus quer dar uma Boa Nova à humanidade, quando quer dar uma notícia extremamente boa, uma novidade da magnitude da ressurreição, ele não faria uso de outro ser, mas usaria exclusivamente um dos seus anjos. É disso que Jesus a chama. Vai meu anjo, vai e anuncia a todos que eu venci a morte. Jesus faz de Maria Madalena o anjo da nova fé, o primeiro arauto da igreja que nasce da ressurreição.
Maria Madalena é a precursora dos enviados de Deus, ela sim é o verdadeiro anjo da Igreja. Apóstolos, missionário e bispos, todos os outros vem bem depois. Primeiramente o anjo que anuncia, todos que vem a seguir são figurantes. Agora sim, agora podemos entender que não era gratuito o ódio que Gregório Magno nutria por Maria Madalena. Ela era o anjo da Igreja, e ele era apenas mais outro Papa. Podemos entender também que não foi a toa que poucas palavras sobre Maria Madalena e poucas referências ao seu nome foram registradas nos evangelhos. Isso é a prova cabal que testemunha a vocação da discípula perfeita. Aquela que nunca precisou ser repreendida, que não fazia questão de sair na foto, que nunca teve interesse em projetar a própria imagem. Aquela que fazia questão de diminuir, até mesmo de desaparecer, para que seu mestre crescesse. Aquela que esteve sempre presente, que pregava a Cristo com a própria vida, sem que fosse necessário abrir a boca, sem que para isso fosse preciso ser convocada.
Ninguém daquela época, nem mesmo Lucas precisou escrever os atos da mulher primordial, da discípula obstinada nem do anjo Maria Madalena. E é mais que notório que esta vocação deixada por Maria Madalena se mantenha tão viva e presente nas igrejas de hoje. Qualquer um das muitas igrejas cristãs sejam católicas, protestantes, pentecostais, tenham elas a tendência que tiver progressista, avivada, engajada socialmente, em qualquer uma, a maioria do rol é sempre composta por mulheres. Qualquer pessoa que sobe num púlpito tem a mesma visão que Jesus teve quando pregado no alto da cruz, que o seu grupo de seguidores fiéis era quase que exclusivamente composto por mulheres. Mulheres que com a sua presença, com a sua obstinação e com o seu amor, herdados da discípula do passado, são a razão da sobrevivência das igrejas de hoje.
Na escrava da salga, a quem a maldade dos homens tentou marcar a ferro como prostituta endemoninhada, para que mais tarde fosse rotulada como a pecadora por excelência, Jesus viu uma mulher, viu uma obstinada discípula e na expressão mais verdadeira da palavra, viu um anjo.
A seguir a postagem completa.
Na pecadora viu um anjo
Homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
Poderia ter como base dessa meditação a vida de alguma das grandes e virtuosas mulheres da Bíblia, mas esta homenagem desviaria totalmente da proposta de falar da mulher que todos conhecemos, e nem sempre admiramos. Então nada me restou senão uma mulher cuja reputação ao longo da História não tem sido justamente apreciada, e cuja desconfiança sobre a sua integridade moral tem atravessados os séculos. Contudo, mais do que uma homenagem às mulheres, eu queria tentar mostrar quem foi de fato o responsável por este dia, pelo fato de estarmos comemorando o Dia Internacional da Mulher. Ao fazer isso vou ter que falar daquele que foi mais longe do que tudo que já foi feito ou sequer pensado pela valorização da mulher. Ainda hoje, após tantos anos, com todos os avanços conseguidos nessa área, ninguém lhe conseguiu fazer sombra, no tocante ao tanto que ele fez pela mulher.
Para orientar essa meditação tomo por base uma mulher, que a partir de um sermão do Papa Gregório Magno, no ano de 591, em uma mensagem maldita, nos dois sentidos, mal proferida e mal fadada, foi condenada a ser nada menos do que a padroeira das prostitutas. Um conceito que deu margem a especulações sobre um suposto envolvimento secreto com Jesus. Quero falar de Maria Madalena.
De antemão, quero dizer que não há nenhuma crítica velada ao papado da Igreja Católica Romana, mesmo porque, na época referida, protestantes e católicos ainda congregavam em uma única igreja. Gregório Magno foi tão nosso Papa também, quanto dos católicos. Nós também fazemos parte desse lado triste da história da igreja.
Infelizmente esse não é um fato isolado e nem de longe o único que contribuiu com a difamação da mulher ao longo da nossa história. As Escrituras possuem por volta de mil e quinhentos personagens, menos de dez por cento deles são mulheres. Porém, nem essa relação desproporcional foi suficiente para livrar algumas mulheres de serem as figuras mais execradas da Bíblia. Foi assim com Eva, Dalila, com Betesabá, Gezebel, Salomé, Safira e tantas outras. Me parece que esse é o dado evidente de que não é só a obsessão masculina pela superioridade, o único motivo para fazer imprimir esta cicatriz tão profunda na história da humanidade. Temos que considerar que por trás de toda essa má intenção, existem fatores obscuros que tem levado o sexo masculino a preservar essa triste herança através milhares de gerações. No caso específico de Maria Madalena, foi preciso que o tal papa engendrasse uma combinação absurda entre prostituição e possessão demoníaca, que pareceria ridícula aos contemporâneos de Maria Madalena no século I, para dar credibilidade à sua mensagem difamatória e mal intencionada.
Até que fosse considerado maligno por santo Agostinho, o ato sexual era tido como uma dádiva dos deuses. Muitos de nós ficaríamos boquiabertos com as alusões ao amor erótico contidas no livro de Cantares. Mas era entre os pagãos que o sexo atingia seu maior status, era o ato que mais os aproximava de suas divindades. Para alguém que viveu na época de Jesus, o sermão do Papa seria no mínimo engraçado, posto que a simples menção da existência de uma prostituta endemoninhada seria por si um verdadeiro disparate. A coitada não teria sequer como subsistir, e seu negócio, por assim dizer, estaria fadado, não apenas ao fracasso, como também ao escárnio de todos. Uma vez que o desejo sexual era considerado uma dádiva divina. Quem, em seu juízo perfeito, procuraria uma pessoa possuída por um espírito maligno para tais serviços?
Tornou-se uma tarefa muito difícil resgatar a imagem real de Maria Madalena, porque ela entra de supetão nos evangelhos. Ela quase que atropela o ministério de Jesus. Essa dificuldade aumenta muito pela pouca quantidade de referências existentes a seu respeito. Mesmo assim, a despeito da sua origem obscura e das poucas referências, a Bíblia nos permite traçar algumas considerações totalmente descontaminadas dos efeitos que autores oportunistas, como Dan Brown, no livro O Código Da Vince, fizeram sobre ela.
Em primeiro lugar, seu sobrenome indica que ela era originária da cidade de Magdala, que quer dizer Torre do Peixe Seco. Um dos locais de processamento do pescado de qualidade inferior que, por decisão imperial, era dado aos pescadores em troca dos peixes mais apreciados que eles pescavam, mas não tinham direito de comê-los. O fato de ter como sobrenome o local de origem é um forte indício de que era solteira e possivelmente escrava de um dos senhores da salga. Se fosse filha de uma família de prestígio ou casada, usaria como sobrenome o mesmo que eles usavam. De posse desses elementos podemos pintar um quadro sombrio da sua realidade. Naquela cultura, as mulheres escravas eram tiranizadas, inclusive sexualmente por seus senhores. Algumas delas no auge do trauma psicológico, assumiam personalidades e comportamentos agressivos, quase animalescos, a ponto de serem vistas como que possuídas por um espírito maligno. O caso de Maria Madalena era bem mais grave. Ela estava possuída não por um ou dois, mas por sete demônios. Um comportamento exageradamente bestial que teria como objetivo primeiro afastar os senhores e seus apetites sexuais, uma vez que, como já foi dito, ninguém queria fazer sexo com um demônio ou com alguém que tivesse associação com eles.
Então vamos voltar à nossa tentativa de colocar Maria Madalena de volta ao lugar de destaque que ela merecidamente conquistou. Vamos aproveitar o Dia Internacional da Mulher para meditar nas palavras de uma autoridade maior do que Gregório Magno. Vamos descobrir que essas palavras não somente desqualificam tudo de degradante que foi dito e escrito até hoje sobre ela, como também podem nos farão conhecer a Maria Madalena que Jesus conheceu. Mas isso vai ficar para o próximo post.
Nos primeiros dezessete versículos do capítulo vinte do evangelho de João, Jesus vem nos revelar toda a dignidade e toda a importância que esta mulher teve no seu ministério. No tempo em que as mulheres eram apenas moeda de troca, pagamento de dívida; eram relacionadas juntamente como uma das possessões do marido ou de seu dono. Em um tempo em que um judeu ortodoxo orava da seguinte maneira: Deus, eu te agradeço porque eu não sou pobre, porque não tenho deficiência e porque não nasci mulher; vem Jesus e derruba todo esse preconceito. Passando por cima de tudo que era mais sagrado, e de todos os santos, ele transgride a lei, desconsidera as instituições e arrasa a tradição. Seria bastante aquela meia dúzia de palavras que Jesus usou naquela hora para que nunca mais outra vez alguém ousasse tentar tirar da mulher qualquer credenciamento, fosse para o que fosse. Eu gostaria, se Deus assim permitir, tentar traduzir em rápidas palavras um pouco do grande valor que esse simples diálogo tem para a história da igreja, assim como para toda a civilização, principalmente no que diz respeito ao papel da mulher na vida da igreja e na sociedade.
Num primeiro momento Jesus a chama de mulher: mulher, por que choras? A palavra mulher, em alguns segmentos, ainda hoje é motivo de muita controvérsia. Quando há pouco tempo a Igreja Metodista trocou o nome da Sociedade de Senhoras para Sociedade de Mulheres, houve muito bate boca e muita desavença. Alguns maridos não queriam de modo algum ver as suas esposas sendo chamadas vulgarmente de mulheres. Mulher é a da rua, a da minha casa é senhora, diziam eles. Esse termo tornou-se tão deprecitivo que ainda hoje existe mulher que não gosta de ser chamada de mulher. Mulher não, mais respeito, dizem elas.
Todos deveriam saber que a palavra mulher vem do grego guné, que é o radical de palavras muitíssimo significativas. Palavras como gene; gênero; genética, palavras que evocam o básico, o início. Ou seja, a palavra mulher está sempre ligada ao começo de tudo, ao principio de todas as coisas. Para o conhecimento primitivo, a participação masculina na concepção era praticamente nula, cabendo a mulher toda a autoria e responsabilidade. Nessa época era um termo fundamental, posto que a razão da existência como num todo, estava diretamente ligada ao começo, ao gen, portanto, ao guné. Que ninguém jamais pense que é por mero acaso que a primeira palavra da Palavra de Deus, a Bíblia, tenha justamente este radical: No princípio, (no Gênesis) criou Deus os céus e a Terra. Da mesma forma, a primeira palavra do evangelho mais consciente, e que deveria ele acomeçar o Novo Testamento, também cita este fundamento: No princípio era o verbo.
Tudo o que existe, tudo o que foi criado tem a presença do radical guné. Tudo começa na mulher. E não é apenas coisa de judeu, Paulo quando fala aos não judeus também corrobora integralmente com esta idéia. Na mais madura narrativa do Natal, em Gálatas 4,4, Paulo revela as reais intenções de Deus quando da vinda de Jesus: Na plenitude dos tempos Deus enviou seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Quando Jesus a chama de mulher, está vendo nela não somente a origem da humanidade que tão bem conhecemos, mas a essência primordial da nova humanidade. O Deus, que no Gênesis inaugurara a existência da raça humana a partir de uma mulher, vem agora confirmar que a plenitude dos tempos, que marca o início de uma nova era, chegara da mesma forma que antes, através de uma mulher.
Os evolucionistas, aqueles que negam taxativamente a doutrina da criação, podem até desconfiar da existência de um Adão, mas da existência de uma Eva eles não desconfiam não. Indistintamente todos os seres humanos que vivem hoje sobre a face da Terra são descendentes de uma única mulher, e o gene dela está presente em todos nós. Mas mesmo com toda essa relevante descoberta científica, se existe hoje uma consciência progressista no reconhecimento do papel da mulher, esta se deve não à ciência, mas a uma compreensão cada vez mais fiel e mais profunda da pregação de Jesus. A presença da mulher no ministério de Jesus e no nascimento da igreja é de importância igual à participação dela na criação. Quando o próprio Deus decidiu nascer entre nós, fez questão de vir através de uma mulher. É exatamente por isso que Jesus chama Maria Madalena de mulher, porque ela é a primeira a testemunhar a sua ressurreição. A igreja começa com ela. Ela é a n° 1 do rol. Enquanto todss viam em Maria Madalena uma pecadora, Jesus viu nela uma mulher, o início de um novo Céu e de uma nova Terra. O recomeço de um novo povo. O povo que é reconhecido pelo seu nome.
Mas Jesus não para por aí, logo em seguida ele a chama de Maria. Embora não se possa afirmar categoricamente, há fortes indícios de que esse nome venha a ser derivado do nome hebraico Miriam. O nome daquela que ao lado de Moisés foi a grande heroína do Êxodo. Devido a sua persistente e arriscada obstinação em manter vivo o seu irmão, as tradições mais antigas associam seu nome ao adjetivo obstinada. E não é de se estranhar, pois é um fato que vem confirmar a sua verdadeira vocação: a obstinação da heroína que preserva, contra todas as expectativas, a vida daquele que viria a ser o maior opositor de Faraó, o seu irmão Moisés. Aquele bebê que ela acreditava ser o instrumento de Deus para libertar o seu povo e perpetuar a sua tradição religiosa.
Parece que Jesus reconhece em Maria Madalena essa obstinação, pois foi ela, que desde que conheceu Jesus, obstinadamente lhe serviu. Só pode ser esse o motivo oculto que levou o Papa Gregório à degradação do nome de Maria Madalena. É bem possível que tenha sido a sua obstinação em seguir o Mestre diante do perigo iminente e da própria morte, que tenha colocado os discípulos homens na defensiva. As frequentes menções e exaltações de Jesus à fidelidade dessa discípula, devem ter causado muita inveja a eles. Principalmente àqueles que nada fizeram além de o negarem, de fugirem e de se esconderem. Maria Madalena carrega consigo o pioneirismo da fé na ressurreição do Cristo. Foi a primeira a crer e, em virtude disso, a primeira a ver a glória de Deus. Nela se consuma a profecia do próprio Jesus: se creres, verás a glória de Deus.
Ao deparar-se com uma fé tão obstinada como a de Maria Madalena, a mente de um homem comum como Dan Brown, que não pode conceber nada maior que o amor carnal, só pode mesmo ficar confusa e inventar coisas sobre a relação dela com Jesus. Seria preciso que ele a conhecesse como o homem Jesus a conhecia, para entender que uma relação assim tão humana somente poderia ser divina. Por outro lado, Dan Brown teria que ver Jesus com os olhos que Maria Madalena via, para cultivar por ele um amor para muito além da paixão e do entendimento humano.
Por estes motivos, Maria Madalena torna-se a discípula exclusiva, a primeira a receber a coroa da vida, a primeira a ser fiel até diante da morte. Ouvir seu nome ser o primeiro a ser pronunciado pela boca de Jesus glorificado, é o orgulho supremo que um discípulo pode ostentar. O escolhido foi aquele que durante todo o seu ministério nunca foi necessário ser chamado, pois desde o primeiro contato jamais se afastou dele. Aquele a quem Jesus nunca precisou perguntar: tu me amas? Porque seu amor pelo mestre era mais que evidente. E é tantas razões que na endemoninhada, Jesus conseguiu enxergar para além da mulher. Viu também uma obstinada discípula.
No entanto, mesmo que pareça que Jesus fez muito ao nosso julgamento, ainda estamos falando da mínima parte da valorização que este texto bíblico confere às mulheres, através da figura de Maria Madalena. Jesus vai muito mais longe do que simplesmente reconhecer que a mulher é a origem de todo, inclusive da igreja. Ele vai muito mais além do que enaltecê-la por ser uma discípula fiel, presente, e mais obstinada pelo seu ministério e pelo Reino de seu Pai que qualquer discípulo homem.
Se isso já os matava de inveja, eu não sou capaz sequer de imaginar como eles se sentiram com o que Jesus fez em seguida. Tenho pra mim que essa desenfreada busca dos cargos de maior destaque na igreja, que faz com que nós homens fiquemos medindo forças para saber quem é o maioral, e não podemos negar que isso acontece, inclusive entre pastores, se deve a este fato. Já que não conseguimos ser Maria Madalena, então vamos ver quem é o maior apóstolo, o mais abençoado missionário, e por aí vai.
Se isso já os matava de inveja, eu não sou capaz sequer de imaginar como eles se sentiram com o que Jesus fez em seguida. Tenho pra mim que essa desenfreada busca dos cargos de maior destaque na igreja, que faz com que nós homens fiquemos medindo forças para saber quem é o maioral, e não podemos negar que isso acontece, inclusive entre pastores, se deve a este fato. Já que não conseguimos ser Maria Madalena, então vamos ver quem é o maior apóstolo, o mais abençoado missionário, e por aí vai.
O que Jesus faz em seguida torna simplesmente sem efeito tudo o que já foi feito em termos de exaltação, não somente da mulher, mas de qualquer ser humano na história até então. Nenhuma outra religião, nenhuma outra doutrina, nenhum outro líder religioso ousou fazer o que Jesus fez naquele instante. Nesse mesmo diálogo, Jesus convoca Maria Madalena a proclamar a sua ressurreição: ...vai ter com meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Vai e dize-lhes que estou vivo. Vai e dize-lhes que eu ressuscitei. Vai e dize-lhes que eu vou para o meu Pai e meu Deus. Vai e dize-lhes que por causa disso que ele agora também é vosso Pai e vosso Deus.
Quando Jesus incumbe Maria Madalena da responsabilidade de ser a primeira anunciar a sua ressurreição, está fazendo dela mais do que uma missionária, mais do que uma bispa, mais do que uma apóstola. Jesus faz o impensável, o inimaginável. Assim como Deus fizera antes quando quis transmitir a promessa a Abraão, e posteriormente quando quis anunciar a vinda do Messias à Virgem Maria. Quando Deus quer dar uma Boa Nova à humanidade, quando quer dar uma notícia extremamente boa, uma novidade da magnitude da ressurreição, ele não faria uso de outro ser, mas usaria exclusivamente um dos seus anjos. É disso que Jesus a chama. Vai meu anjo, vai e anuncia a todos que eu venci a morte. Jesus faz de Maria Madalena o anjo da nova fé, o primeiro arauto da igreja que nasce da ressurreição.
Maria Madalena é a precursora dos enviados de Deus, ela sim é o verdadeiro anjo da Igreja. Apóstolos, missionário e bispos, todos os outros vem bem depois. Primeiramente o anjo que anuncia, todos que vem a seguir são figurantes. Agora sim, agora podemos entender que não era gratuito o ódio que Gregório Magno nutria por Maria Madalena. Ela era o anjo da Igreja, e ele era apenas mais outro Papa. Podemos entender também que não foi a toa que poucas palavras sobre Maria Madalena e poucas referências ao seu nome foram registradas nos evangelhos. Isso é a prova cabal que testemunha a vocação da discípula perfeita. Aquela que nunca precisou ser repreendida, que não fazia questão de sair na foto, que nunca teve interesse em projetar a própria imagem. Aquela que fazia questão de diminuir, até mesmo de desaparecer, para que seu mestre crescesse. Aquela que esteve sempre presente, que pregava a Cristo com a própria vida, sem que fosse necessário abrir a boca, sem que para isso fosse preciso ser convocada.
Ninguém daquela época, nem mesmo Lucas precisou escrever os atos da mulher primordial, da discípula obstinada nem do anjo Maria Madalena. E é mais que notório que esta vocação deixada por Maria Madalena se mantenha tão viva e presente nas igrejas de hoje. Qualquer um das muitas igrejas cristãs sejam católicas, protestantes, pentecostais, tenham elas a tendência que tiver progressista, avivada, engajada socialmente, em qualquer uma, a maioria do rol é sempre composta por mulheres. Qualquer pessoa que sobe num púlpito tem a mesma visão que Jesus teve quando pregado no alto da cruz, que o seu grupo de seguidores fiéis era quase que exclusivamente composto por mulheres. Mulheres que com a sua presença, com a sua obstinação e com o seu amor, herdados da discípula do passado, são a razão da sobrevivência das igrejas de hoje.
Na escrava da salga, a quem a maldade dos homens tentou marcar a ferro como prostituta endemoninhada, para que mais tarde fosse rotulada como a pecadora por excelência, Jesus viu uma mulher, viu uma obstinada discípula e na expressão mais verdadeira da palavra, viu um anjo.
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