Se há um detalhe intrigante nessa narrativa do evangelho de João é a decisão inesperada que alguns discípulos de Jesus tomaram de retornar às suas antigas atividades, que para a maioria era a pesca. Pelo que o texto deixa transparecer, não foi uma decisão impensada ou mesmo repentina, foi uma decisão tomada com consenso porque era isso que realmente eles sabiam fazer, era essa profissão deles. Mas, não é esse o motivo que a faz estranha, mas sim o momento da vida desses discípulos que ela é tomada. Foi justamente naquele intervalo entre a crucificação e o
Pentecostes, ou seja, o final do ministério terreno de Jesus e o que marcou o início do ministério da igreja. Por ser um momento crucial na história da igreja, caberiam bem algumas perguntas: O que representaria o “vou pescar” para um grupo que fazia três anos que não pescava? O que seria voltar a pescar profissionalmente para quem havia trocado essa atividade pelo chamado para ser pescador de homens? O que significa o “vou pescar” na vida de alguém que havia largado tudo para inaugurar um novo projeto, uma nova proposta de vida? Poderia ser entendido como uma desistência? Um retrocesso? O sinal de arrependimento por ter seguido o Messias errado?
Pentecostes, ou seja, o final do ministério terreno de Jesus e o que marcou o início do ministério da igreja. Por ser um momento crucial na história da igreja, caberiam bem algumas perguntas: O que representaria o “vou pescar” para um grupo que fazia três anos que não pescava? O que seria voltar a pescar profissionalmente para quem havia trocado essa atividade pelo chamado para ser pescador de homens? O que significa o “vou pescar” na vida de alguém que havia largado tudo para inaugurar um novo projeto, uma nova proposta de vida? Poderia ser entendido como uma desistência? Um retrocesso? O sinal de arrependimento por ter seguido o Messias errado?
A história de Israel está pontilhada de narrativas sobre falsos Messias. Até João Batista foi e ainda é considerado um Messias. É bem certo que havia no ar um clima de desilusão com a morte de Jesus. Não se pode negar que a experiência do fracasso na cruz era latente. Os discípulos de Emaús foram enfáticos em demonstrá-la na sua inteireza: Nós pensávamos que era ele quem ia redimir Israel. Aquele ideal do escolhido de Deus, do soberano e poderoso Messias, não fazia muito tempo que havia acabado na cruz, e a ressurreição ainda era um vislumbre, um acontecimento ainda não totalmente assimilado. Então, como aceitar que a era messiânica havia chegado se o poder opressor dos romanos continuava real, os corruptos sacerdotes e o tirânico farisaísmo ainda pesavam sobre o povo, as injustiças dos ricos contra os pobres insistiam em permanecer? Fica difícil não pensar em um retrocesso, fica difícil imaginar que aquelas pessoas não tiveram saudades de um estado anterior de felicidade, quando ainda viviam na rotina de sempre. O momento que estavam passando era de incertezas, de apreensão. Seu líder morrera na cruz e o único caminho que se apresentava além da cruz era o caminho de volta.
Talvez, para a visão teologia dos nossos dias, essa seja uma conduta inaceitável para alguém que havia testemunhado a vitória de Jesus sobre a morte. Jesus já havia se manifestado no meio deles, inclusive, tirando as dúvidas dos mais descrentes, como foi o caso de Tomé. Mas mesmo se olharmos por esse ângulo vamos descobrir que algumas outras situações podem se tornar plausíveis, como por exemplo: Não caberia para eles a ideia que uma vez que Jesus vencera a morte, eles se tornariam inúteis, não precisariam mais se preocupar com a difusão do evangelho? Porque assim como foi a ressurreição, dali para frente tudo aconteceria de modo milagroso. Todos creriam no evangelho assim que soubessem que Jesus estava vivo, e todos se converteriam a nova fé. Esse seria um claro sinal que os discípulos poderiam relaxar e dali pra frente cuidar um pouco das suas vidas, que haviam sido interrompidas bruscamente pelo chamado do seu mestre.
Bom, se os discípulos pensaram assim ou não jamais saberemos, mas prevalece o fato de que todos voltaram às suas origens, exatamente ao mesmo lugar e à mesma circunstância em que Jesus os encontrara três anos antes. Se voltarmos um pouquinho nos evangelhos, veremos que Lucas, narra que o chamado dos discípulos aconteceu numa noite que seria, como a do nosso texto bíblico de hoje, mais uma noite frustrada de trabalho, não fosse a intervenção milagrosa de Jesus que ficou conhecida como “a segunda pesca maravilhosa”. Uma noite semelhante àquela que Jesus os chamou para serem seus discípulos, para serem pescadores de homens.
Mas ainda insisto em dizer que alguma coisa tinha errado com aquele “vou pescar”, porque ele é um indício muito forte do constrangimento que aquela situação causou ao próprio autor deste evangelho. Ele nunca disfarçou a intenção de exaltar a figura de João acima dos demais apóstolos, dando-lhe um título que até hoje não é bem aceito por muita gente: “o discípulo a quem Jesus amava”. Mas observem que na hora em que João está comprometido com o equívoco da decisão, ele é identificado simplesmente como um dos filhos de Zebedeu. Para todos os efeitos, quem estava ali não era João, o discípulo amado, era João, o filho de Zebedeu. Mas no momento em que é o primeiro a reconhecer que é Jesus quem está à beira do lago, imediatamente volta a ser “o discípulo a quem Jesus amava”. O pescador João pode errar, o filho do Zebedeu também, mas o discípulo a quem Jesus amava, nem pensar. Deve ser daí que vem algumas ideias de perfeccionismo vigentes em nosso meio. Refiro-me principalmente aos conceitos de infalibilidade e fortaleza que muitos pastores assumiram diante das suas comunidades.
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