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Juízo Final, afresco de Michelangelo |
Olhando por outro ângulo, se não é assim, qual é a vantagem de ser cristão? Ou pelo menos qual é a vantagem de ser cristão quando não se pensa dessa forma. Se o livramento não está condicionado à fé, para que então crer? Por que rememoramos o sacrifício de Cristo como a vitória definitiva sobre o mal? Pelo menos foi isso que nos ensinaram séculos de
mensagens triunfalistas. Talvez seja esse o motivo de muitos povos orientais não acreditarem que Jesus seja o Messias. Eles olham as promessas contidas no AT e as comparam com a situação atual e só podem concluir uma coisa: o Messias não veio ainda. Mas por que estou me referindo a essas coisas? Por conta disso eu peço a vocês que me acompanhem nessa longa volta que pretendo dar.
mensagens triunfalistas. Talvez seja esse o motivo de muitos povos orientais não acreditarem que Jesus seja o Messias. Eles olham as promessas contidas no AT e as comparam com a situação atual e só podem concluir uma coisa: o Messias não veio ainda. Mas por que estou me referindo a essas coisas? Por conta disso eu peço a vocês que me acompanhem nessa longa volta que pretendo dar.
Israel nunca foi uma nação proeminente se comparada às potências de sua época. Os hebreus não foram grandes conquistadores nem grandes inventores. Mesmo no seu apogeu, com Davi e Salomão, seu domínio passou daquela estreita faixa de terra. Podemos dizer também que nem foi nem propriamente o monoteísmo que fez diferença. Povos mais grandiosos também eram monoteístas, e alguns possuíam Messias que na época possuíam muito mais seguidores. O fator que colocou Israel no cenário mundial e na História Geral foi o radicalismo da sua fé. Os babilônicos, os egípcios, os caldeus, os assírios, os persas, os medos, os macedônicos, os gregos e romanos sempre lhes foram infinitamente superiores, muito mais influentes e muitíssimo mais poderosos. Seus deuses eram adorados em templos tão maiores e tão mais suntuosos que faziam o templo de Salomão parecer um conjugado no subúrbio. Todos esses povos, contudo, por mais ricos que fossem, por mais tecnologia que possuíssem, por maiores e mais poderosos que fossem seus exércitos, por mais opulentos que fossem os seus templos, indistintamente todos, fossem reis ou servos, pobres os ricos, todos eles viviam assombrados pelo quarteto sinistro.
Nós sempre imaginamos que os autores bíblicos abusaram da licença poética, que as palavras usadas por eles eram apenas figuras de linguagem, e que não deveriam ser interpretadas literalmente. Pensamos que são expressões que o autor se valeu para dar poesia e riqueza ao texto. Lido nos dias de hoje, este salmo provavelmente teria associações com fatos do cotidiano. O espanto noturno, para os europeus, talvez fosse o desemprego, pois muitos não sabem se vão estar empregados no dia seguinte. Quem viveu os áureos tempos de inflação no Brasil deve se lembrar bem disso. A seta que voa de dia poderia ser uma bala perdida, por que não? Indistintamente todos esses elementos contidos no salmo poderiam ser identificados no mundo atual com as ameaças perigosas que convivemos, mas com uma ressalva: todos teriam as suas causas na maldade humana, e em situações que com jeitinho e boa vontade poderiam ser resolvidas. Mas se vivêssemos naquela época iríamos entender que não era tão simples assim. Mas se você vivesse naquela época, com certeza ia conhecer e muito provavelmente ia morrer de medo do quarteto sinistro. Os seres que tanto os judeus quanto seus vizinhos mais temiam, que nunca compreenderam e que jamais ousaram controlar.
Embora a flecha fosse uma arma conhecida, a seta que voa de dia está representada no texto com algo que não se sabe a sua origem nem seu o destino. O salmo fala do terror que atua traiçoeiramente à noite, numa hora que ninguém espera. Fala da peste que se aproveita da escuridão para se alastrar e da epidemia que faz estragos horrendos em plena luz do dia. Não está tratando de acidentes comuns ou doenças corriqueiras, mas algo cuja procedência estava nos feitiços que invocam demônios terríveis. Para aqueles povos não havia uma noite de sono sem que o espanto noturno não os aterrorizasse, não dava sequer um passo sem temer que a seta que voa de dia os atingisse. Quanto mais avançada a civilização, tanto maiores eram os seus medos; Medos que nem toda riqueza, nem todo poderio militar, nem todo um panteão de deuses poderiam sequer minimizar. A verdade é que eles viviam sob o signo do medo, e qualquer maldição, qualquer mau agouro, qualquer palavra hostil, era uma porta aberta para a entrada do quarteto sinistro.
Na tentativa desesperada de afastá-lo faziam qualquer coisa: usavam amuletos, faziam mandingas e praticavam toda uma sorte de infindáveis rituais caros e complexos, que lhes consumia tempo, dinheiro, muitas vezes a própria saúde, e o que é pior, consumia também muitas vidas de crianças inocentes. Somente por estes dados nós podemos verificar que não se tratava de um mal comum, ou mesmo de uma ameaça simplesmente plausível. Era o mais completo horror diante do desconhecido, o pavor diante dos poderes malignos que os demônios supostamente possuíam.
Nesse clima instaurado de terror é que se revela o verdadeiro sentido do salmo, que se pode realmente experimentar a força dessas palavras. Quando o salmista, um sujeito baixinho e franzino disse: Se você habitar o esconderijo do Altíssimo, poderá descansar à sombra do Onipotente, porque Deus, o nosso Deus é suficientemente poderoso para nos guardar de todas essas coisas. Confiando em Deus, você não vai precisar temer o espanto noturno, nem ficará acuado por causa da seta que voa de dia. Muito menos perderá o sono por causa da peste que caminha na escuridão, ou terá crises de pânico por causa da mortandade do meio dia. Não quer dizer que ficaremos livres de todos os males, doenças ou que algum infortúnio que porventura possa nos acontecer, mas vocês verão que estes males tem causas naturais, e não são de forma alguma pragas do quarteto sinistro. Você não o temerá, e ele jamais terá a palavra definitiva, porque você vai perceber que quem está no controle, quem governa o universo é Deus. Tentemos agora imaginar a revolução que isso causou, que transtorno ocasionou na vida daquelas pessoas.
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