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Pedro e Paulo confrontam Simão, o mago, afresco de Filippino Lippi (1406-1469) |
Como é ruim viver sob o signo do medo. As pessoas do morro do Alemão e da Rocinha estão experimentando uma pálida sensação de liberdade depois que os traficantes foram expulsos. Por alguns depoimentos que ouvi, não me pareceu que todos a aceitaram muito bem, pois estão ainda dependentes de algumas das facilidades
que o tráfico oferecia. Contudo, muitas outras comunidades que ainda não foram pacificadas e que ainda vivem oprimidas pelo poder paralelo, seja do tráfico ou das milícias, desejam intensamente este bem para si. Era mais ou menos assim que funcionava o profetismo naqueles tempos. Quando os profetas anunciavam a vontade de Deus, o povo de Israel não dava muita atenção, mas os povos vizinhos ficavam sonhando o quanto seria bom se os seus deuses pudessem ser garantia contra essas coisas. Imaginem o povo árabes ouvindo isso: Agora vocês podem descansarem paz. Nunca mais precisarão gastar com armamentos para a guerra, a partir desse momento fica estabelecido o fim da miséria, ninguém mais precisará recorrer ao terrorismo, não haverá mais fome e todas as epidemias serão erradicadas sumariamente.
que o tráfico oferecia. Contudo, muitas outras comunidades que ainda não foram pacificadas e que ainda vivem oprimidas pelo poder paralelo, seja do tráfico ou das milícias, desejam intensamente este bem para si. Era mais ou menos assim que funcionava o profetismo naqueles tempos. Quando os profetas anunciavam a vontade de Deus, o povo de Israel não dava muita atenção, mas os povos vizinhos ficavam sonhando o quanto seria bom se os seus deuses pudessem ser garantia contra essas coisas. Imaginem o povo árabes ouvindo isso: Agora vocês podem descansar
Mas não é justamente essa a proposta de Deus em Cristo, uma vida plena e sem temor do desconhecido? Agora, não mais uma promessa individual ou para um grupo isolado. Agora as promessas são para toda a criatura. O versículo mais conhecido da Bíblia diz que Deus amou o mundo, não à igreja ou os cristãos. Jesus, enquanto esteve na terra, mostrou certa preocupação com a igreja, porque ela ainda era pequena, frágil, incipiente. O Cristianismo de hoje não está mais ameaçado, a não ser por ele mesmo. Pelo contrário, é uma potência bem ameaçadora. Talvez seja por isso que tenha criado um universo paralelo onde se imagina ser o único objeto do amor de Deus, e por isso odeia tanto, discrimina tanto. É por isso que pede tanto para que Jesus volte, para que venha buscar a igreja e queimar os demais. Já observaram que para muitos muçulmanos o espanto noturno somos nós, o mundo cristão? É preciso urgentemente mudar esse enfoque, é preciso anunciar que ninguém mais precisa temer o espanto noturno, a seta que voa de dia, a mortandade que se propaga na escuridão e nem a peste assola ao meio dia. Mas também precisamos urgentemente deixar de sermos espanto. Esse era o grande diferencial da mensagem cristã, a libertação de todos os temores está ao alcance de todo o mundo: Não há mais judeu nem grego, nem servo nem livre, nem homem ou mulher. Foi justamente a fé nessa mensagem que impulsionou os cristãos primitivos. Foi a convicção de que isso era possível que, não somente os deu coragem para enfrentar o desprezo, a discriminação, a tortura e própria morte de peito aberto, mas foi o que também os fez entender que precisavam anunciá-la a todos os povos, pois esta não poderia ser uma bênção individual ou para um grupo distinto.
Os cristãos do primeiro século, olhavam a história da humanidade em que povos concebiam que somente seria possível alcançar a paz através da morte dos inimigos, e entenderam a mensagem desta forma: Como cristão, eu até posso gozar de paz se segurança, mas essas nunca serão completas enquanto as pessoas à minha volta estiverem atoladas no medo e na superstição. Anunciaram com as suas próprias vidas que a paz não é a ausência de conflito, mas o estabelecimento definitivo da justiça. Quando os discípulos disputavam posições e cargos, Jesus censurou seriamente essa ânsia de poder: É muito melhor que vocês fiquem no Reino de Deus, à sombra do Onipotente, acometidos por doenças, acidentados, feridos, mancos ou estropiados do que ficarem com perfeita saúde, prosperidade, mas mergulhados até o pescoço em infindáveis crises existenciais, temendo até mesmo o velho e manjado quarteto sinistro.
Eu não sou pregador de ficar ditando regras ou ensinando comportamentos, prefiro falar dos bons exemplos. Prefiro falar daqueles que levaram Deus a sério, que mesmo debaixo da opressão babilônica, como era o caso do salmista, ou sob o impiedoso domínio romano, que era como viviam os primeiros cristãos, conseguiam enxergar tão claramente outra realidade diferente da que se apresentava, por mais terrível que fosse sequer os abalava. Eles davam sim uma bela banana para quarteto sinistro. Simplesmente o poder dizer isso sem medo de consequências já seria uma bênção sem medida para aquela gente. E vocês podem crer que seria uma bênção enorme para muita gente hoje também.
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