Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra. Salmo 34.19
Jesus chorou, Tissot em 1886 |
No que tange a nossa fé, esta é a hora que o mundo cristão precisa ter respostas suficientes para dar aos vários segmentos envolvidos, além de ter que responder íntima e honestamente esta mesma pergunta para si. Sem qualquer pretensão de formular um manual prático, gostaria de tentar entender o que se passa na mente e no coração das pessoas que, a partir de diferentes pontos de vista, analisam esta sucessão de mortes injustificáveis sob qualquer ponto de vista.
Primeiramente queria me referir aos ateus, a quem dedico um profundo respeito, pois no início da nossa história, como igreja, também fomos assim chamados, e devemos nos orgulhar muito disso. Estes podem se permitir ter sensações a partir de uma resposta mais imediata e definitiva. Assim me disse um ateu ainda ontem: não foi Deus quem fez isso, porque nunca é Deus. Neste caso, a nossa resposta não deve ser de forma alguma defensiva. Nós não fomos nomeados defensores de Deus, e muito menos guardiões da sua Palavra. Fomos escolhidos para sermos suas testemunhas, para testemunhar o que ele fez e continua fazendo em nossas vidas. Para isso, não precisamos fazê-los crer em Deus, e sim que creiam que estamos todos envolvidos de corpo e alma nessa tragédia, e que ela nos afeta profundamente. Precisamos fazê-los entender também que nossa fé não contempla permanentemente razões que expliquem situações como essa. A hora é de condolência e não de caçar culpados.
Em segundo lugar, me dirijo aos cristãos de modo geral, que agora se encontram atônitos se perguntando o que fazer. Este é o exato momento de fazer valer o que a fé nos ensina: quem tem alimento, divida com quem não tem; quem tem duas túnicas, dê uma a quem não tem nenhuma. A solidariedade expressa em termos práticos e eficazes. Mas nos compete também um segundo momento. A urgência de enfrentar um sistema que obriga a um terço da população mundial a viver em situações sub-humanas.
Precisamos deixar de lado, assim como fez o Papa do Aquecimento Global, a ideia de que temos capacidade de interferir na natureza, a ponto de sermos os causadores de tragédias como essa. Esses são fenômenos naturais que acontecem de tempos em tempos, e não temos como prevê-los e não podemos evitá-los. Mas podemos fazer com que pessoas não vivam em rota de colisão com eles. A nossa atitude, tanto nos púlpitos como nas relações pessoais, deve ser a mesma que Jesus teve quando viveu as calamidades do seu tempo: não sou culpado e nem inocente, mas tenho que arcar com as minhas responsabilidades.
Um terceiro grupo merece também consideração. Aqueles que entendem que foi realmente Deus o causador. Eu diria que este é o grupo mais difícil de se lidar. Este é o complexo de culpa mais subliminar que existe. Podem ter a certeza de que nesta hora eles estão procurando alguma culpa no povo filipino que justifique este castigo tão traumático. Essas pessoas agem dessa forma com as outras, porque agem assim consigo mesmas. Quando algo ruim as acontece, vasculham o mais sombrio recanto de sua alma para descobrir a ação ou a omissão que o arrastou ao mal. É muito difícil fazer ver a essas pessoas que coisas ruins podem acontecer a pessoas boas, da mesma forma que coisas boas acontecem a pessoas más. Esses precisam da conversão que foi oferecida por Jesus a Pedro, após esse o ter negado três vezes: você errou e errou muito, mas você é um erro, você é filho de Deus amado e aceito sob qualquer circunstância.
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