Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo... Lucas 10.19
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Marion e Anita Way |
O casal de jovens missionários, que já tinha uma filha, não se deu conta que estava acintosamente transgredindo as leis de intolerância, de ódio e de segregação vigentes naquele país africano. Por conta da sua pregação, que consistia basicamente de ações concretas do amor era exigido pelo evangelho de Jesus Cristo, foi perseguido, preso e finalmente deportado. Desta vez calaram o Mario pela força das armas.
Mas este casal parece que tinha uma atração vocacional para servir em ambientes de conflito, e não é que vieram parar no Brasil justamente no período turbulento dos anos de 1960? O incorrigível Mario e sua família escolheram servir a Deus na pior região desta nação: na cidade do Rio de Janeiro, a mais declarada opositora do regime ditatorial, e no pior local desta cidade: no morro da Providência, no Centro. Uma comunidade que era composta basicamente de famílias de soldados que foram compulsoriamente “desalistados” após o término da Segunda Guerra, e que não teve qualquer assistência do governo para voltar aos seus estados de origem. Àquela situação deu-se originalmente o nome de Favela, nome que foi estendido a todas as comunidades que não tinham as mínimas condições de habitação.
Foi ali que por mais de uma vez o Mario transgrediu a ordem e enfrentou o poder das armas. Agora enfrentava a inflexível lei do tráfico de armas e de drogas. Nas diversas situações em que as crianças do ICP estiveram sob ameaça, o Mario, de dedo em riste, enfrentava indistintamente policiais e traficantes fortemente armados, e os enquadrava com uma autoridade que deixava todos completamente atônitos.
Essa é a autoridade que o poder das armas não tem e que o poder político desconhece. Mas é a autoridade diante da qual as forças do mal temem e tremem. É a autoridade daquele que tem a consciência plena de que está a serviço de Deus, de que foi comissionado por Jesus Cristo para pegar nos escorpiões e enfrentar as cobras, mas que ao mesmo tempo se dispõe a assumir os riscos e aceitar as consequências desses atos.
Mario nos deixou órfãos esta semana. Simplesmente dar a este homem um título, seja de diácono, de missionário ou mesmo de pastor, seria diminuir em muito o grau de influência do seu incomensurável ministério. Por algumas vezes o vi como opositor. Eu cuidava dos interesses da Federação de Jovens, que fazia retiros de Carnaval no Acampamento Clay, que era administrado pelo ICP, tendo o Mário como seu responsável direto. Eu achava que tinha direito a um bom desconto, por se tratar de encontro de jovens da igreja, e que patrocinava duzentos delegados no congresso que acontecia na Semana Santa. O Mario, por sua vez, conhecia profundamente a necessidade de receber a quantia total para usá-la no trabalho do ICP. Desta vez o conflito era comigo. Após calorosas discussões o desconto era negado, mas ele sempre arrumava um jeito de nos favorecer de outra forma, selando a paz entre nós. Nestas vezes era ele quem calava a minha boca com seus argumentos.
Expresso aqui a minha admiração e respeito pelo homem, pelo casal e pela família que atravessou fronteiras para ensinar aos cristãos do Brasil como se prega um evangelho subversivo, e como faz para enfrentar os escorpiões e cobras, armados exclusivamente com a Palavra de Deus e com atitudes exigidas pelo evangelho.
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