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Rev Jonas Rezende, foto de George Magaraia |
Paulo de Kruif abre seu livro A Luta Contra a Morte com uma frase que quase todos podem repetir com sentimento semelhante: não quero morrer. Fora do desespero máximo de um processo de depressão ou do suicídio heroico, como os dos kamikases, na Segunda Guerra, ou dos monges vietnamitas; e descontando exceções de místicos que, à semelhança do apóstolo Paulo, confessam com a alma: para mim o morrer é ganho ̶ fora estes poucos casos, o chamado anos atrás do instinto de conservação nos leva a endossar as palavras de Paul Kruif.
Mas apesar do medo ou da tristeza, é preciso pensar na morte, como fazem os filhos de core neste salmo. Leia todo o poema. Às vezes com melancolia, outras com um certo sentimento de rancor dos que enriquecem e são poderosos, apesar de injustos e perversos, a verdade é que o salmista fala da morte como inevitável. Por isso ridicularizam os que se julgam perpétuos ou dão seu nome às propriedades que possuem. E declaram que o ser humano se nivela aos animais, porque também perece: tal como ovelhas, são postos na sepultura; a morte é o seu pastor... a sua glória não os acompanhará.
Há mesmo um tom de melancolia, amargura e saudade a cercar esse assunto. Percebemos esse dom na afirmação de Davi: andamos sempre a um passo da morte. Às vezes a melancolia se faz pânico. Um famoso ateu suplicou diante da morte: dá-me morfina; não quero pensar na eternidade. De certa maneira, o próprio Jesus sofria ímpeto semelhante, quando orou: Pai, se for possível afasta de mim este cálice. Jens afirmou com absoluta razão: não ter medo nem esperança é igualmente desumano. Não é por isso que a Bíblia chama a morte de última inimiga?
Mas é preciso que se afirme que há um lado precário e impotente na morte. O apóstolo Paulo repete Oséias, o profeta, com nítido atrevimento: onde está, ó morte, a tua vitória? Tragada foi a morte na vitória... para mim o morrer é ganho.
A fé cristã anuncia a morte da própria morte, quando prega a ressurreição, escândalo para romanos e loucura para os gregos.
Um tipo de filosofia também desenvolve certo desdém diante da morte. Sócrates é um exemplo. E Anaxágoras dá um passo alem: pisa essa carcaça, diz ele, porque em mim mesmo jamais tocarás.
Mas, veja só. A morte tem um lado curioso e interessante, quando novela todos os homens, todas as formas de vida, como está claro neste salmo. Na Idade Média, o povo costumava dramatizar a dança da morte. Nessa teatralização, a morte assobiava fortemente chamando a todos, fossem qual fosse o seu status ou classe social. Todos eram igualmente convidados a dançar. E o mais importante é que o Papa, o rei, o judeu, o aleijado eram igualmente aceitos, nessa democracia niveladora e inseparável da morte.
Assim, diante da morte devemos nos lembrar, acima de tudo, de que é o próprio Deus quem aceita todas as pessoas. E que apenas o amor verdadeiro é mais forte do que a morte. Por isso esse amor sobrevive.
O escritor francês Victor Hugo, que cultivava a vida espiritual, tem um pensamento que é bem mais que simples jogo de palavras:
Quando você nasceu, todos sorriam só você chorava.
Viva de tal maneira que, quando morrer,
Todos chorem e só você sorria...
O meu amigo, pastor Jonas Rezende, para minha imensa alegria aceitou o convite para colaborar com uma meditação semanal para este blog (coisa de amigo mesmo). Autorizou pessoalmente que se publicasse trechos de dois dos seus grandes sucessos: os livros Salmos para o Coração, o texto de hoje é um deles, e Salmos para o Espírito, como o que foi publicado neste blog no dia 24 deste mês. Ambos lançamentos da Editora Mauad. Espero que aproveitem como eu estou aproveitando essa rara oportunidade de conhecer a interpretação do livro dos salmos através da visão inspirada e inspiradora deste grande pregador do evangelho, que é tido por muitos, inclusive por mim, como o maior orador sacro da nossa língua ainda vivo.
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