Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda? Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia retirado, por haver muita gente naquele lugar. Leia João 5.1-17
Paralítico de Betesda, Palma il Gionane em 1592 |
Fora da autoridade da Bíblia não poderia haver razão alguma que alguém contestasse esse postulado da doutrina cristã. Sob qualquer ponto de vista, o mínimo que se pode exigir daquele que espera de Deus uma bênção, é que este acredite que ele exista, que tenha o poder de executá-la, e que esteja disposto a concedê-la. Esta é a primeira e mais fundamental lógica para se estabelecer ou mesmo iniciar uma relação direta e sincera com Deus, porque, como disse Paulo: Sem fé é impossível agradar a Deus.
Quando falamos deste tipo de fé não queremos de forma alguma associá-la diretamente àquilo que chamam de fé de poder. Não estamos falando da fé que alguns pregadores usam como meio de conquista, por que este é do tipo de fé que os imperadores tinham nos seus exércitos, ou da fé que Jó tinha nas suas riquezas. Ou seja, não estamos falando na fé condicionada à cura, ao bem estar e à prosperidade, nem da fé que vem a partir da experiência que foi benéfica a nós ou mesmo da experiência vitoriosa de outra pessoa. Jó, na sua opulência, conhecia bem um Deus que era barganhador, que trocava louvores por bênção. Somente na penúria e no abandono que ele pode ver a face do verdadeiro Deus.
É exatamente no abandono e na penúria que se dá o encontro de Jesus com o enfermo, paralítico, ou qualquer outro nome que se queira dar, de Betesda: no abandono de quem não podia contar com a solidariedade de quem quer que fosse, e na penúria da sua própria incapacidade. Há trinta e oito anos aquele homem jazia nessas lamentáveis condições em meio a outras tantas pessoas em condições lamentáveis sem que alguém se dispusesse a ajudá-los a entrar no tanque, que era onde num rasgo de esperança, supunham vir a cura. Era um verdadeiro cada um por si Deus por todos. Mas que Deus era esse? O Deus que privilegiava apenas os mais afoitos? O que se compadece apenas dos que o conhecem? O Deus que curava tão somente os que nele creem? Pelo menos isso é o que a nossa religião diz ser definitivo. Isso é o que os nossos grandes dogmas, que foram criados a partir da nossa conveniência, afirmam ser preponderante.
Mas infelizmente, para o nosso desespero, é exatamente a segurança neste tipo de fé que a Bíblia diz se tratar de uma grande besteira, de um equívoco imperdoável e de uma falta de entendimento inconcebível. Ela diz que Deus pode muito bem se agradar da nossa fé, mas não de forma alguma fica restringido por ela, porque o seu plano de salvação consiste em fazer muitas coisas que não lhe agradam, pelo contrário, lhes são de profundo pesar, mas que ainda assim são necessárias. A fé é importante, mas não é capital. Que o digam Naamã, Tomé, o paralítico de Betesta e tantos outros. Jesus não fez muitos milagres em Nazaré, porque a nossa concepção o milagre está restrita à evidência do extraordinário. Jesus fez tantos milagres ali como em qualquer outro lugar, porque a sua presença era o grande milagre. Mais do que curar sem fé, Deus nos cura a despeito da nossa fé. (continua)
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