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Corpus Misticus, autor indecifrável, copiado do site http://www.theriverbeneath.org/corpus-mysticum |
O interesse por esta palavra na Bíblia vem, em grande parte, pelo seu emprego cristológico nas epístolas paulinas. Para descrever a soberania de Jesus Cristo, Paulo não teve a preocupação com a complexidade dos seus sentidos e a utilizou em
diversas metáforas, o que formou a complexidade do tema. Apenas por razões expositivas, e sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, vamos ver alguns destes sentidos.
diversas metáforas, o que formou a complexidade do tema. Apenas por razões expositivas, e sem qualquer pretensão de esgotar o assunto, vamos ver alguns destes sentidos.
Cristo, cabeça de ângulo. Além do seu sentido no hebraico e no grego, que designam a cabeça de um homem ou animal, além do seu emprego para descrever atitudes de sentimentos complexos, como alegria ou luto, estas línguas dão a esta palavra um sentido metafórico no mundo inanimado para representar o primeiro, como começo de uma estrada ou de um ano; o mais alto, como o topo de uma árvore ou de uma montanha. É exatamente neste sentido que se deve entender a imagem transmitida pelo salmo 118,22: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular. Esta imagem, que é por diversas vezes retomada pelos autores do Segundo Testamento, é conferida a Cristo, pois não é ele a pedra principal que coroa o novo templo, garante a sua unidade e lhe dá sentido? Mas ainda há alguns autores que preferiram ver nesta pedra de ângulo o fundamento sobre o qual repousa todo o edifício.
Cristo, cabeça do universo. Um segundo uso metafórico da palavra cabeça quer designar aqueles que andam na frente, para destacá-los dentre aqueles que são sempre guiados, a cauda. O Senhor te porá por cabeça e não por cauda; e só estarás em cima e não debaixo. (Dt 38,13) A cabeça da mulher é o homem, a cabeça do homem é Cristo e a cabeça de Cristo é Deus, tentava, desta forma, Paulo organizar à distância a igreja de Corinto que sofria a forte influência negativa das mulheres recém convertidas do culto de Diana, que queriam ter nesta igreja o mesmo status que possuíam naquele templo. Cristo certamente é o chefe é há várias alusões ao seu primado e excelência sobre todos os seres: I Co 11,3 – Cl 2.10 – Ef 10.22, são algumas delas.
Cristo, cabeça da Igreja. Quando Paulo chama Cristo de cabeça do corpo, está querendo destacá-lo dentre os demais membros. Pela teologia paulina, através do batismo e da Eucaristia a igreja une-se a Cristo, tornando-se seu corpo, que atua segundo o seu comando, realizando a sua vontade no plano de Deus de salvar o mundo. Mas Paulo faz questão de reafirmar que há uma real diferença entre Cristo que já cumpriu com a sua meta, o corpo de cristãos que ainda tentam caminhar nesta direção e o mundo que geme e sofre aguardando a manifestação de Cristo através do seu corpo, que é a igreja. Não que esta seja a portadora de todas as esperanças de Deus, pois como disse Jesus: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as pedras clamarão. (Lc 19.40) Foi com o propósito de mostrar a responsabilidade que pesa sobre nós que Paulo definiu Cristo como o esposo, ou seja, a cabeça da igreja.
Conexão entre estas metáforas. Paulo abusou do direito de interligar estas diversas representações de Cristo, primeiramente associando Cristo à ideia de um novo templo, ainda antes que o antigo viesse a ser demolido pelos romanos em 70 d.C. Cristo é a pedra rejeitada pelos construtores, mas que Deus transformou em pedra angular da nova construção. Não é sem razão que Cristo aparece nas epístolas paulinas como cabeça da igreja e cabeça do universo, mesmo que a equivalência entre estes dois elementos quase não exista, Paulo vem reafirmar que a igreja é a parte do universo que pode honra-se com o título privilegiado de corpo e esposa de Cristo. Para que também venha a se unir a Cristo como parte de seu corpo, o universo precisa se submeter ao seu primado, e isso já basta para torná-lo imaculado e santo, pois segundo Paulo, Deus assim o quis: Desvendando-nos Deus o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra. (Ef 1.10)
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