Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Mateus 8.10s
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Jesus e o centurião, Paolo Veronese |
Não precisamos retroagir muito no evangelho de Mateus para nos depararmos com o mais famoso sermão de Jesus Cristo: o Sermão da Montanha, onde ele traçou as diretrizes mais imediatas para aqueles que têm o Reino de Deus como prioridade de vida. Não foi por mero acaso que foi Mateus quem mais se estendeu nessa narrativa, pois seu intuito era mostrar aos judeus que em Jesus o próprio Deus estava cumprindo o que havia prometido a Abraão, Isaac e Jacó. Em Jesus o próprio Deus estava dizendo: eu faço o que digo.
Mateus observou e fez questão de narrar uma série de situações em que viu Jesus cumprindo fielmente as determinações que havia exigido dos seus discípulos naquele sermão. Se considerarmos que o versículo 1 do capítulo 8, que diz que Jesus finalmente desceu da montanha, veremos Jesus pondo em prática tudo o que disse anteriormente: curando um leproso, também curando a sogra de Pedro, acalmando a tempestade e ressocializando o endemoninhado gadareno. Mas é justamente na cura do servo do centurião que sua prática mais corrobora com a sua pregação. Este é um episódio ímpar e sem paralelo em toda a Bíblia. Nem mesmo à cura de Naamã pode ser comparado.
Vejamos toda a sua complexidade. O simples diálogo amistoso de Jesus com o oficial romano poderia ser considerado um ato de alta traição. Não havia quem representasse melhor o inimigo número um de Deus e de seu povo do que o Império Romano. Muitos daqueles que o ouvirão pouco antes consideravam que a sua pregação poderia servir para todos, menos para os romanos. Jesus havia falado que deveríamos amar os inimigos, mas não falou nada em amar os piores inimigos. Por isso é que imediatamente após o seu sermão, Jesus nos ensinou que devemos amar os cruéis e hediondos inimigos. Mas ele não parou por aí.
O simples fato de Jesus prestar este inestimável serviço ao centurião poderia ser entendido como um capítulo à parte, ou como algo excepcional que não deveria se repetir, não fosse o diálogo travado entre ambos. O centurião surpreende gratificantemente Jesus em vários aspectos. Primeiro, reconhecendo a sua indignidade: não sou digno que entreis em minha casa. Reconhece também o imerecimento do que estava pedindo. Caso Jesus não o atendesse, ele seguiria seu curso normalmente, sem ressentimentos. Aquele homem deve ter ouvido de Jesus: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. abriria a porta, crendo nisso ousou a se incluir entre os que pedem, os que buscam e os que batem à porta.
Em segundo lugar, o centurião conseguiu ver em Jesus uma autoridade bem maior do que aquela a quem servia como oficial do seu exército. Mais do que ninguém aquele homem conhecia o peso de uma autoridade. O fato de recorrer a Jesus, por menor e mais insignificante que fosse o seu pedido, era a prova cabal de que ele reconhecera em Jesus uma autoridade infinitamente maior do que todo o poderio do seu Império. Jesus tinha poder para trazer à realidade coisas que os Césares não podiam sequer sonhar.
Faça o que eu digo, porque eu faço o que digo. Jesus havia falado que aqueles que mantivessem a fé no Reino a despeito das circunstâncias receberiam o galardão. Muito mais que amar, cuidar das necessidades ou mesmo acatar uma como válida uma sugestão de um inimigo declarado, Jesus o destaca da multidão que o seguia, como também o exalta acima de todos os grandes de Israel. Em Jesus o discurso se aliou à prática, e finalmente transformaram aquele que era mais odioso inimigo em o seu mais fiel servo.
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