Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu. E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos. Ora, vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício! Pois não vim chamar justos, e sim pecadores. Mateus 9.9-13
A vocação de Mateus, Caravaggio em 1599 |
A história toda causa uma tremenda indignação. Aos olhos dos decentes, dos piedosos, dos legalistas e das pessoas de bem isso não passa de um escândalo e de uma provocação ultrajante. Como um homem que se anunciava como rabino, se comporta desse jeito? Já não bastava ele sentar-se à mesa de comunhão com pessoas religiosa e socialmente proscritas. Agora ele vem e escolhe um deles para andar permanentemente ao seu lado? Seria como se hoje um cidadão altamente respeitado fosse flagrado com bandidos, em uma roda de viciados em drogas pesadas e de mulheres que trabalham em casas suspeitas. Quem seria então o mais desacreditado diante da sociedade: os delinquentes, ou quem se envolve com eles comendo e bebendo à luz do dia em suas mesas?
A escolha do publicano Mateus é o grande divisor de águas do início do ministério de Jesus. Ali ele deixa bem definido qual seria o objetivo primordial do seu ministério. Dali em diante ninguém deveria mais questioná-lo por suas atitudes pouco ortodoxas. Quando Jesus optou por ter entre os seus homens de confiança alguém que era o símbolo de toda a desconfiança, ele esperava, no mínimo, que muitas das cobranças de condutas futuras fossem evitadas. Mas ele pode constatar que quando o assunto é dinheiro nada prescreve, nada fica esquecido no passado e nada pode ser relevado. Ainda assim, Jesus ratifica a sua soberania sobre todas as normas de pureza e sobre todos os códigos de conduta: Pois não vim chamar justos, e sim pecadores.
Foi justamente essa quebra de paradigmas que levou Paulo a perguntar: Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Na escolha de Mateus Jesus faz isso tudo: confunde o sábio na sua sabedoria, o crítico, é rendido pelas suas próprias armas, o inquiridor fica sem respostas, mas aquele que nada espera alcança a misericórdia. Jesus não faz qualquer tentativa de justificar o comportamento de Mateus porque conta com Deus, como é pregado pelo profeta Oséias: Misericórdia quero e não sacrifício.
De um lado, estão os fariseus pensam que conhecem Jesus. Aqueles que esperam dele uma implacável autorretidão. Que o imaginam com a arrogância de quem se propõe a solucionar todos os problemas e curar todas as doenças. Do outro está Jesus que se propõe a mostrar-lhes o caminho, a insinuar que é possível, a viver como se o amanhã já fosse uma realidade.
Não se trata de dinheiro. Não é sobre o valor das ofertas. Não diz respeito às coisas materiais. Mas sim de mostrar diante de Deus uma atitude que, partindo do coração, alcance as outras pessoas. Mateus, segue-me, para uma missão você na qual você entenderá, de uma vez por todas, que não importa a doença, não importa o estado de saúde, não importa o que as pessoas digam ou pensem, não importa nem se o doente será curado. Eu escolhi você para ser a prova cabal de que no fim Deus espera que, sob qualquer circunstância, nós demonstremos misericórdia.
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