Mas eles nunca mais devem dizer estas palavras: “A mensagem do SENHOR é uma carga.” Porque, se alguém disser isso, eu farei com que a minha mensagem se torne realmente uma carga para ele. O povo tem torcido as palavras do seu Deus, o Deus vivo, o SENHOR Todo-Poderoso. Jeremias 23.36
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Não tenho ouro nem prata, Lester Yocum (1954-) |
A primeira, e talvez a que desencadeou todo o processo, aconteceu quando a atenção da igreja se voltou para si mesma. Na época da declaração Pedro: não temos prata nem ouro, apenas Jesus de Nazaré. Os objetivos estavam bastante claros e tudo concorria para que eles fossem alcançados. Não havia campanhas financeiras, cada um contribuía conforme propunha o seu coração. Não havia desconfiança do uso dos recursos e nem enriquecimento dos seus líderes. Apenas isso fazia com que todo o povo os repeitasse, os amasse e os admirasse, numa relação igual e contrária a tudo que se pode constatar nos dias de hoje.
A reboque desta veio a valorização hierárquica de uma função em relação às outras. Já não se podia mais dizer que a igreja era um corpo único e coeso, guiado por apenas um cabeça, que era Cristo. Já se observava os sinais claros da separação entre os membros que preferiam este àquele apóstolo, por considerá-lo mais importante ou mais “espiritual” que os demais. No linguajar atual, mais ungido. Não foi sem razão que Paulo chamou a si e aos demais apóstolos de lixo do mundo e escória do universo, colocando os apóstolos em último lugar na membresia da igreja. Ele quis cortar o mal pela raiz e dizia sempre: se há algo pelo qual me glorio, esta é a minha fraqueza, pois ela me mostra o quanto sou dependente da cruz de Cristo.
Com a supervalorização do clero, veio também a discriminação aos não cristãos. A palavra gentio, que antes deveria ser a motivação do amor da igreja, passou a ser o objeto da perseguição com vistas à extinção. Às palavras de Jesus dadas a conhecer por Paulo: todo joelho se dobrará e toda língua confessará, foram agregadas o infeliz acréscimo: nem que para isso precisemos subjugá-los ou até matá-los. Durante séculos a igreja preferiu a morte dos não cristãos à sua livre decisão de não aceitar o evangelho como lhes era pregado.
Foram os embargos aos projetos mais essenciais e as adulterações às mais simples propostas que transformaram o movimento que transtornaria o mundo em mais um entrave ao plano de salvação de Deus para a humanidade. Por todos os lados vemos que as pedras estão clamando. Em todos os segmentos encontramos pessoas que, desassociadas de qualquer igreja ou movimento cristão, tem realizado a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Mais do que o medo do fim dos tempos, deveríamos temer o fim da utilidade da igreja para o projeto de Deus, pois ela para mais nada prestaria senão para ser jogada fora e pisada pelos homens, se é que isso já não está acontecendo.
John Wesley, um dos maiores visionários da fé cristã certa vez disse: Eu poderia regozijar-me (tão pouco ambicioso eu sou para ser o mentor de qualquer doutrina ou partido), se o nome metodista nunca mais fosse mencionado, mas fosse queimado no esquecimento eterno. Wesley pensava assim da igreja a qual tanto amou e a qual tanto se doou. Mas por amar mais a proposta de Jesus de um novo governo, sentenciou sumariamente o nome desta mesma igreja, não sem antes deixar aos cristãos um fio de esperança, quando projetou para o mundo cristão um futuro possível, no qual nós ainda poderíamos receber um julgamento favorável do mundo: Talvez um dia, alguns de vocês que odeiam aquilo pelo qual eu sou chamado, possam vir a amar aquilo o que realmente eu sou.
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