O Ano Novo I

O tempo indeterminado, Seth Siro Anton (1973-)
Antes do relógio bater a meia-noite hoje, todos vamos prestar atenção nele. E desta vez vamos vê-lo de maneira bem diferente do que normalmente o vemos. Diferente de quando olhamos para ele quando acordamos, quando temos que pegar a condução, na hora do almoço, ou indor a um compromisso. Porque na última noite do ano, aquele relógio que usamos sempre vai marcar uma hora diferente, uma hora que tem um sentido bem especial.

Isso é bom! Porque em todas as outras horas do ano nós agimos de acordo com ele, para estarmos no tempo certo no lugar certo, para encontrarmos alguém, para fazermos algo na hora certa, e isso é ele quem determina. Mas na última noite do ano nós não agimos assim. Nós não vamos a lugar algum. Alguns de nós estaremos na igreja, outros em casa, outros ainda em algum lugar propício para esta ocasião, mas estaremos apenas esperando. O relógio não estará mais mandando em nós. Porque de repente é o tempo que nos move em vez do relógio.

Os últimos momentos do ano estão chegando, e esses momentos são diferentes, porque estaremos tentando ouvir o que normalmente se passa em silêncio. Logo mais nós ouviremos a voz do tempo falando. Nós estaremos ouvindo o barulho desta noite tão fora do comum. Nós estaremos ouvindo o barulho do Ano Novo chegando. E quem de nós não sente um frio na espinha quando a meia-noite chega? Seria pelo fato de termos uma percepção diferente desta noite da que temos nas outras noites do ano? Sim, mas há razões para isso, e eu gostaria de tentar sugerir algumas.

A primeira é porque os relógios são redondos, pelo menos a maioria deles. Mas o que vou dizer se aplica aos não redondos também. Os ponteiros, ou mesmo os dígitos, voltam sempre para o ponto inicial, nunca vão, além disso. Isso faz com que tenhamos a ilusão de que tudo nessa vida se repete. Ficamos com a falsa impressão de que podemos sempre começar de novo do zero amanhã. Se o relógio pode, por que nós não? Mas nessa noite nós experimentamos o tempo de uma maneira singular. Nessa noite o tempo se move, e não mais em um círculo, mas se move numa linha reta. Embora pessoas acreditem que em algum lugar há um relógio gigante que marque a passagem do ano, e que ele faz tudo começar de novo, esse relógio não existe. Por isso nós temos que visualizar a passagem do ano como uma linha reta. Uma linha que leva a marca de cada ano que passa. Assim, nós deixamos atrás de nós um trecho após outro. Nessa linha o ponteiro não se volta para onde estava antes.

Uma vez que as ações foram concretizadas nós não podemos neutralizá-las ou dizermos que vamos fazer tudo de novo amanhã. Em cada trecho dessa linha reta nós fizemos alguma coisa, nós escolhemos uma profissão, começamos uma amizade ou fizemos mal a alguém. Isso já se tornou parte do nosso passado. Gostaríamos de refazer muitas dessas coisas de outro jeito se pudéssemos voltar atrás, mas ninguém pode. É impossível. Nós só podemos ir para frente e levando conosco toda a bagagem do passado.

Deixem-me mudar de figura para explicar melhor porque vemos o tempo diferente. Vamos visualizar essa linha reta do tempo como um corredor comprido e cheio de portas. A cada Ano Novo nós abrimos uma porta nova daquele corredor. O problema é que não existe uma maçaneta do lado de dentro da porta. Não podemos voltar e abrir essa porta e entrar em outra porta qualquer e começar de novo como os ponteiros do relógio fazem. Mesmo que não queiramos admitir, todos sabemos que um dia aquele corredor terá um fim. No fim do corredor chegaremos à última porta, e então veremos que a linha circular do relógio não funciona nesse corredor, que o círculo do relógio não passa de uma ilusão ou de uma fantasia do ser humano.

O fim de cada um chega, o fim desse ano está chegando, e nós sentimos nessa hora o tempo de modo diferente. Sentimos que cada momento de nossa vida é precioso, cada momento é singular, e que cada momento nunca mais voltará. Sentimos que o tempo corre para frente e sentimos também que ele corre para um fim. Sentimos que somos finitos, mas carregamos sempre conosco esse conhecimento do fim sem percebermos. Sem estarmos conscientes do fato estamos sempre pensando na morte. E todos fazemos isso a toda hora através de frases curtas e corriqueiras, tais como: eu não tenho tempo, eu não posso agora, estou com pressa. (continua)



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A fé infantil

Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. Lucas 2.40
A visitação, el Greco
Quando perguntado sobre a partir de que idade deveriam ser as crianças batizadas, o meu velho pai sempre respondia com outra pergunta: Desde quando uma criança começa a crer em Jesus Cristo? Depois de comprovada a natural e consequente dúvida ele mesmo respondia: João Batista começou a crer no ventre materno, logicamente fazendo alusão à visitação de Isabel por Maria, quando ambas estavam milagrosamente grávidas.


Mais uma vez me recuso a entrar na milenar discussão sobre o batismo infantil, porém não posso deixar de verificar a pobreza da literatura cristã que para elas é produzida. Não falo apenas do repetitivo ciclo das lições doutrinárias da Escola Dominical, que parece não considerar a necessária evolução dos cristãos em todos os períodos da sua vida religiosa, mas também do nivelamento sempre abaixo da capacidade que as nossas crianças têm demonstrado em outros segmentos da vida.

Simplesmente lendo este texto acima, o qual foi sugerido pelo Calendário Litúrgico para hoje, não consigo sequer imaginar que Jesus tenha recebido de Maria e de José uma educação semelhante aos parâmetros daquela que administramos nas igrejas às crianças de hoje. Não consigo ver Jesus crescendo desta maneira com as lições das revistas atuais. Por outo lado fica pensando também sobre qual o quesito nos propiciaria ser possível fazer uma avaliação tão positiva como a que o evangelho fez da infância de Jesus: Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.

Em uma recomendação que tem por finalidade precípua orientar o comportamento de pessoas quase que estritamente não adultas, o evangelista João na sua primeira carta sugere: I Jo 2.12-14 - Filhinhos, eu vos escrevo, porque vossos pecados vos foram perdoados pelo seu nome. Jovens, eu vos escrevo, porque vencestes o Maligno. Crianças, eu vos escrevo, porque conheceis o Pai. Sem querer parecer tendencioso, mas tenho para mim que João enfatizou a atitude da criança como a mais importante, e a classificou como a geradora das demais. Para ele, as crianças tiveram a única atitude que poderia servir de caminho para que as duas também citadas e tantas outras pudessem ser levadas a cabo: Crianças, eu vos escrevo, porque conheceis o Pai. 

Tudo parte daquilo que ensinamos às crianças sobre Deus. Tudo parte do Deus que as apresentamos. Tudo parte do conhecimento que começa a se formar em suas mentes ávidas e curiosas sobre este ser que vai ser definitivo em suas vidas.
É exclusivamente por essa razão que a Bíblia se preocupou tanto em deixar parâmetros para a educação religiosa dos nossos filhos. Não é a toa que ela responde antecipadamente muitas perguntas que os nossos filhos fatalmente nos farão, e uma delas é sobre o conhecimento de Deus. Quem é Deus? Diz o Deuteronômio que quando os filhos dos hebreus faziam aos seus pais essa pergunta, eles respondiam algo assim: Olhe para nós, para a nossa família, veja como somos felizes. Mas antigamente não era assim. Nós éramos muito tristes porque éramos escravos no Egito. Mas Deus , o nosso Deus, nos tirou de lá com mão poderosa e braço estendido para o espanto de todos os povos. Esse é Deus, meu filho. Esse é o nosso Deus.

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A caverna de Adulão

Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão. I Sm 22:01a
Caverna de Adulão, Tissot
Como pode ser que coisas como essas aconteçam? Davi não tinha prestigiado Saul? Não tinha glorificado a Deus? Não foi ungido para ser rei? Meu Deus!Como pode ser que coisas como essas aconteçam? Isso é o mínimo que Davi deveria ter pensado enquanto olhava para fora da caverna e via os penhascos rochosos abaixo.

Rejeitado, fugitivo, um homem sem país e agora sem exército e sem recursos. Ele havia acabado de se fingir de louco para se manter vivo. Quando tudo parecia que ia bem, acontece o inimaginável. Como a vida pode chegar a este beco sem saída? Todos sabemos que a esperança adiada entristece o coração. Não foi a toa que Davi se identificou com Jó, quando este viu que as calamidades que o abateram não faziam qualquer sentido: Jó 30.19-20 e 23 - Deus jogou-me no lodo. Tenho aspecto de poeira e cinza. Clamo a ti, mas não me respondes; estou em pé, mas para mim não atentas. Bem sei que me levas à morte, à casa do ajuntamento destinada a todos os viventes.

Deus havia escolhido Davi a dedo Davi para ser o herdeiro do trono do rei Saul sobre Israel. Deus desistiu de Saul devido à sua idiotice. Deus instruiu o profeta Samuel para fazer uma chamada de casa de família de Jessé. Davi era o menor da ninhada e nem mesmo seu pai o considerava um candidato ao trono. Jessé falha em não ver o potencial do filho, mas Deus não.

Contudo, após se sentir praticamente rei de Israel, depois de triunfar sobre Golias, depois de ter a confirmação pela unção do profeta, Davi conheceu os porões do submundo. O ponto mais baixo ponto da sua vida foi quando ele precisou fugir da fúria de Saul se refugiando em Gate, e de lá, com medo de ser morto pelo rei desta cidade, afinal Davi matara o seu maior guerreiro, foi se esconder na caverna de Adulão. Davi fugiu para essa caverna como último recurso, onde ficou sozinho e totalmente perturbado. Ao se sentir abandonado por Deus, não tenho dúvida de que ele se fez a seguinte pergunta: É assim que Deus treina o próximo rei de Israel?

Tais são os caminhos de Deus. Os caminhos pelos quais conhecemos a injustiça, vivemos a crise, passamos por isolamentos e as dúvidas crescem exponencialmente. Davi escreveu o salmo 142 para definir exatamente o que sentia nesse momento de sua vida. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação. Quando dentro de mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando, me ocultam armadilha. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.

Vamos todos entrar na Caverna de Adulão em algum momento da nossa vida. A dúvida pode ser a tal caverna. A perseguição pode ser a tal caverna. A doença pode ser a tal caverna. Luto pode ser a tal caverna. Conflitos nos relacionamentos pode ser a tal caverna. No entanto, não há nenhuma caverna escura o suficiente para nos escondermos de Deus. Charles Swindoll descreve o papel que o isolamento da caverna fez na formação de um líder: Davi foi levado para o lugar onde Deus pode realmente começar a moldá-lo e a usá-lo. Quando o Deus Soberano nos leva ao nada, é para redirecionar as nossas vidas, e não para acabar definitivamente com elas.

É bem certo que alguns de nós vão entrar na caverna de isolamento pelos nossos próprios pecados. Alguns de nós vão entrar por causa do orgulho, da arrogância e da presunção. Mas ainda assim, Deus vai usar a caverna de isolamento para nos livrar da índole que nos levou a tomar decisões que nos levaram para a caverna de isolamento. Deus vai usar esse tempo para moldar as nossas vidas para que elas, nesse processo, tenham o efeito do chamado que ele tem para nós.

A caverna também é o lugar para processar a nossa dor e receber consolo de Deus para as nossas vidas e para o benefício de outros. Os resultados das experiências dos muitos dos servos de Deus que foram colocados na caverna são pérolas do pensamento cristão, como essas: Dn 2.22 - Ele revela o profundo e o escondido. Ele sabe o que está em trevas, e a luz habita com ele. Is 45.3 - Eu te darei os tesouros das trevas e as riquezas escondidas em lugares secretos, para que saibais que eu, o Senhor, que te chama pelo nome. Eu sou o Deus de Israel . Jó 12.22 - Ele descobre coisas profundas das trevas, e traz à sombra da morte a luz.

Não foi a toa que Nelson Mandella esteve isolado numa caverna por vinte e sete anos antes de se tornar o Davi de sua nação e o nosso maior exemplo do quanto de bem a caverna pode nos fazer.

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O que é SONHO?

Sonho de Pedro, Domenico Fetti em 1619
Texto baseado em um diálogo com o rev. Jonas Rezende.
Na concepção dos antigos o sonho punha a pessoa em contato com o mundo dos deuses, dos espíritos e do sobrenatural, sendo que muitas vezes eram considerados como revelação do futuro ou de coisas ocultas. Também em Israel os sonhos eram muitas vezes considerados como presságios, e outras vezes como exortação ou aviso da parte de Deus.

A Bíblia poucas vezes tenta explicar o seu aspecto psicológico, como fez o Eclesiastes 5.2s: Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. Por motivos diferentes a antiguidade vê neles também a possibilidade de uma manifestação da personalidade profunda. Essas duas perspectivas não são incompatíveis, pois se Deus age, através do íntimo do ser humano que age.

Os povos anteriores a Israel e seus vizinhos contemporâneos viam nos sonhos possibilidades múltiplas, daí a terem muitos intérpretes a serviço dos seus reis. A lei de Moisés era severa no combate aos profetas sonhadores que seduziam o povo a apostatar. Por conta disso, em Israel, não parece ter havido intérpretes oficiais de sonhos. Mas Jeremias denunciava os profetas que falavam dos sonhos dos seus corações como se fossem Palavra de Deus. Por outro lado, Deus também se revela aos profetas em sonhos e em outros textos os sonhos são considerados como enviados por Deus. Mas como os sonhos eram obscuros só podiam ser interpretados por sábios, magos e adivinhos. Em Israel tudo isso era abominação, portanto, explicar sonhos era uma prerrogativa divina que alcançava a pessoa como um dom, ou como uma manifestação do Espírito de Deus.

Como o plano original de Deus para o seu povo já havia sido dado a conhecer previamente aos patriarcas, uns poucos acertos pontuais se faziam necessários. Os sonhos de Daniel, Zacarias e Joel apenas vêm confirmar o que já havia sido prometido: Jl 2.28 - E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões.

A reflexão mais profunda sobre a profecia fazia com que os profetas verdadeiros fossem distintos dos falsos. Com os sonhos acontecia a mesma coisa. Ainda assim, em tempos mais próximos o sonho deixou de ter relevância. A Bíblia não faz citação de sonhos durante a fase madura do profetismo. Apenas a palavra profética tinha peso, pois era a forma mais objetiva com que Deus se revelava ao seu povo.

O Segundo Testamento não fala de qualquer sonho de Jesus, mesmo porque nele o Pai é revelado sem intermediários. Mas ainda assim eles estão presentes. No Pentecostes, Pedro anuncia a realização da profecia sonhada por Joel, de como o Espírito se revelará nos últimos dias. Este apóstolo tomou ciência da necessidade de pregar o evangelho aos gentios através do conhecido sonho do lençol que desce dos céus repleto de alimentos considerados impuros.

O Livro dos Atos dos Apóstolos fala detalhadamente das visões noturnas de Paulo e de como essas manifestações o confortaram, o reanimaram e o guiaram no seu ministério. Mas estranhamente não lhe transmite qualquer ensinamento ou doutrina. Até mesmo a sua grande experiência sobrenatural narrada em II Co 12, após quatorze anos ainda lhe era um mistério. Mateus também se vale dos sonhos para relatar algumas revelações, tais como: a maternidade de Maria, a prevenção aos magos contra Herodes e o inquietante sonho da mulher de Pilatos: Mt 27.19 - E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito.  

A Bíblia conhece assim esse modo de revelação que Deus empregou nos velhos tempos. Neles, ela vê uma revelação destinada a esclarecer sua vontade ao indivíduo, que não por poucas vezes poderia ser um pagão. É essa revelação, que subordinada à sua Palavra, se dirige a igreja de hoje. Uma revelação que se manifesta por excelência na pessoa de Jesus, o Cristo.



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O velho é mesmo um traste?

O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano. Plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o SENHOR é reto. Leia Salmos 92
Simeão e Ana, Aert de Gelder (1645-1727)
Texto do rev. Jonas Rezende.
Diante da escalada de morte que extermina nossos velhos nas casas de repouso, verdadeiros depósitos de condenados, também pelo descaso das famílias; numa sociedade em que o velho é traste, a começar da própria palavra, camuflada por uma expressão um tanto tola, como é terceira idade; acredito que este salmo, de autoria desconhecida, é muito oportuno.

O cenário é semelhante ao de tantos outros: a comparação entre aqueles que temem a Deus e os que só praticam a iniquidade. Os perversos serão punidos, mas os justos florescerão como a palmeira. E o salmista destaca que, ainda na velhice, eles darão frutos.

Não apenas entre os antigos hebreus, mas em diversas culturas, o papel dos velhos era de reconhecida importância social. Nas chamadas gerontocracias, o velho chegava mesmo a exercer o poder de governante. É interessante que o presbítero, figura central na organização da Igreja cristã, era o velho que colaborava com a sua experiência, como indica o próprio significado da palavra grega. E aí estão os estudiosos de diferentes áreas defendendo o ponto de vista de que muito se perdeu com a ausência dos avós, dentro da família atual.

E lamentável, mas com apenas quarenta anos aqueles que ainda irão viver uma outra metade de vida já estão alijados dos concursos e de grande parte das funções sociais. E a marginalização dos nossos velhos derruba seu autoconceito, de tal modo que eles próprios terminam acreditando na mentira de que só lhes resta morrer. Ser velho deixou de ser uma bela estação da vida - quando ainda s pode exercer a sexualidade, ter papel positivo dentro da família e em muitas outras esferas da sociedade - para ser alvo de verdadeira punição. A aposentadoria vil, na esmagadora maioria das vezes, s transforma em condenação injusta e cruel; perspectiva de miséria no fim da vida.

Mas o salmista, em nome de Deus, continua apregoando que o ser humano é capaz de frutificar na velhice, cheio de seiva e de verdor.

Agora, veja bem. Em muitas áreas sociais, nossos velhos aposentados estão sendo convocados de novo para ocupar suas funções, uma vez que não foram encontrados substitutos à altura deles. E há famílias que revisam a atitude de condenar os seus velhos aos asilos, quando a ternura dos vovôs pode ser um fator aglutinante na constelação familiar. Mas a mentalidade de criminosa discriminação da velhice está longe de ser banida. Aguardo o dia em que a poesia de Coelho Neto volte a ser verdadeira. E não mais pareça um cinismo repetir:

Não choremos, amigo, a mocidade, envelheçamos rindo,
envelheçamos como as árvores fortes envelhecem.
Na glória da alegria e da bondade,
agasalhando os pássaros nos ramos,
dando sombra e consolo aos que padecem.

Onde vamos deixar nossos avós?

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Natal na Alemanha de 39 II

Cartão de Natal alemão
Maria e Jesus estão no centro de Natal, dando-lhe significado e santidade. Podemos pensar em algo maior do que honrar a maternidade? Nossos ancestrais chamam este feriado de "Noite de Santa Mãe", pois é a expressão de nossos sentimentos mais profundos. A cada ano, milhões de mães alemãs experimentam o milagre do nascimento. No Natal, honramos o amor, a maternidade, e a família.

No dia em que o sol renasce, acreditamos na vitória da verdade, bondade e beleza. Para nós, o Natal é verdadeiramente o festival do amor, o festival da comunidade do povo, e o festival da luz da alma alemã.

Cada família celebra o Natal da sua própria maneira. Nós não tentamos prescrever como deve ser feito. Para quem é possível tirar os filhos da paisagem rígida do inverno, na tarde de Natal, eles os levam para ver as sementes brotando sob a neve e as rosas de Natal que estão florescendo. Depois eles retornam para o calor de suas casas com os olhos brilhantes e felizes, bochechas rosadas, e ficam do lado de fora esperando o sino para tocar atrás da porta da sala. É o sinal de que podem entrar e ver a árvore de Natal. Novas surpresas são descobertas na árvore, e é difícil conseguir a atenção deles, pois ela centrou-se na cerimônia tranquila que é introduzido por uma canção. Não se pode negligenciar a canção "Oh árvore de Natal", nem a nova canção "Noite de claras estrelas." As crianças retribuem recitando um pequeno poema, para em seguida sentarem-se no colo de seus pais para ouvir a história do "pastor menino que se tornou rei", ou a história do "bebê no berço, nas montanhas”. Velhas e novas músicas soam se misturam mostrando os aspectos mais sensíveis da nossa natureza alemã.

Se os participantes forem todos adultos, um deles pode falar brevemente do ir e vir da Natureza, do ir e vir das luzes e das pessoas. Pode falar da batalha, do trabalho, da comunidade na construção de suas casas ou do silêncio da natureza. Ele pode falar dos pais, dos irmãos, ou ler uma carta de alguém que luta pela defesa da pátria. Eles devem sempre se lembrar daqueles que se sacrificaram pelo povo, e devem recordar também as mães deles, o quanto a sua dor serviu para preservar a vida de tantas pessoas. Nesse momento, todo mundo vai se orgulhar de grandes feitos do nosso povo, e graças à Providência por nos dar um Führer quando mais precisávamos dele. Ele foi aquele que nos ensinou a ver as leis que regem nossas vidas, que nos deu de volta a nossa honra e liberdade.

Em seguida, os presentes são trocados. Essa não é a parte mais importante dessa data, mas os presentes que são dados devem ser considerados com cuidado. Dar presentes nunca deve se tornar uma mera troca de mercadoria, mas se deve dar apenas presentes que são apropriados àquela pessoa, e que vão lhe trazer prazer e alegria. Manter o segredo sobre os presentes é uma tradição tão importante quanto as velas na árvore de Natal.

Quase toda família tem um membro convocado para o trabalho de apoio à guerra, ou mesmo para serviço militar que está distância de casa. Nesta noite, todos aqueles que podem retornar à sua casa o fazem, mesmo que demore um dia de viagem. Todo o esforço é válido para se comemorar o Natal em família. Se não for possível, vamos tentar fazer algo que minimize o problema. Em nossa literatura, temos lindas histórias de celebrações do Natal de alemães em terras estrangeiras ou em mares estrangeiros. Histórias que registram a saudade e o sacrifício daqueles que estão fazendo de um trabalho de vital importância na noite de Natal e, portanto, não podem se juntar às suas famílias.

Quando celebramos o Natal alemão, incluímos no círculo da família todos os que são de sangue alemão, e que afirmam sua etnia alemã, todos aqueles que vieram antes de nós e que virão depois de nós, todos aqueles a quem o destino não permitiu para viver dentro das fronteiras de nosso Reich, ou que estão fazendo o seu dever em terras estrangeiras, entre povos estrangeiros. Onde quer que os alemães vivam, seja na selva brasileira, sob o sol de África, nas alturas dos Cárpatos, ou em meio à confusão de Nova York, eles se voltam seus pensamentos para a terra natal na época do Natal. Seus olhos seguem as nuvens se movendo na direção do solo alemão. Seu desejo de voltar para a sua casa cresce, e suas memórias de infância voltar como eles recordam palavras alemãs de sua mãe. Assim, os laços entre os alemães de ambos os lados da fronteira vão crescer ainda mais fortes. Para encerrar a celebração da véspera do Natal, o ministro do Reich, Rudolf Hess, fala pelo rádio aos companheiros mais distantes, dizendo que a pátria nunca vai esquecê-los, que eles pertencem à grande família alemã, que ela voltou a aumentar e que tem um grande futuro.

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Natal na Alemanha de 39 I

Propaganda nazista durante a II Guerra
O solstício de inverno
A celebração comunitária de Natal real, que não pode realizar este ano, devido às exigências da guerra, é o solstício de inverno.

Por muitos tem sido uma parte de nossas celebrações de Natal que já não pode ser celebrado sem ele. Ele deve de modo algum substituir a celebração do Natal dentro da família. Este antigo costume de nossos antepassados deve aprofundá-lo e enriquecê-lo. A celebração do solstício de inverno não é uma questão para as organizações partidárias, mas sim uma questão de todo o povo. A comunidade deve participar na celebração do solstício de inverno, no entanto, os eventos serão diferentes de lugar para lugar. Em lugares menores, toda a comunidade da aldeia pode reunir em torno de um fogo. Nas grandes cidades, tem que ser feito por grupos locais, ou até mesmo por organizações específicas. A experiência da comunidade, em tais casos, é mantida por acender o fogo, ao mesmo tempo, e por voltar a um local de encontro central para uma reunião da comunidade. As tochas vêm isoladamente, mas devem ser jogadas no fogo comunitário. Esse fogo deverá ser mantido aceso até 24 de Dezembro. Em 24 de dezembro, as famílias devem acender uma vela nesse fogo e usá-la para acender as velas da árvore de Natal em casa. Este costume parece bem adequado, pois significa o crescimento da comunidade e da centelha da visão de mundo que o Führer acedeu em nossos corações.


O fogo solstício de inverno todos os anos leva milhões de alemães à floresta de inverno para forja-los fortemente juntos em uma unidade inabalável. E o fogo solstício sempre foi um proclamador de germanismo ao longo de nossas fronteiras. No passado, o fogo solstício nunca foi um fogo sacrificial a uma espécie de ser divino. Era sempre uma lembrança, um símbolo, uma afirmação do nosso povo às leis eternas da vida. Queimava em momentos de provação e em tempos de alegria. Ele foi aceso em 1813 durante as guerras de libertação, e pelo movimento da juventude antes da guerra. Afastou-se de vez do estábulo de Belém e das canções de Hosana ao Filho de Davi. Friedrich Ludwig Jahn descreveu com as seguintes palavras:
Enquanto nosso povo permanece fiel aos costumes de seus pais, enquanto as chamas queimam a partir do topo das montanhas no solstício do verão e do campo no solstício do inverno, tanto mais vai brilhar a chama do entusiasmo que vai explodir em chamas quando as pessoas mais precisarem dele, a chama em que os traidores, encrenqueiros e mentirosos que ameaçam o nosso povo vai reconhecer em seu fim merecido.

O costume se desenvolveu para lembrar os mortos da guerra quando eram jogadas as coroas no fogo. Durante vários anos, a SS organizou um festival de danças onde a força e a virilidade ressaltavam. A última parte da marcha para o local do incêndio é silenciosa. O discurso no local do incêndio deve ser breve e convincente. Ele deve ser um apelo à ação, e não simplesmente uma declaração de que os nossos antepassados. A experiência das chamas altas, das estrelas de inverno, e da paisagem alemã coberto de neve significam para nós bem mais do que as palavras.

O Natal na família alemã
Para nós alemães, o ponto alto da véspera de Natal são as velas acesas na árvore dentro do círculo de familiares e parentes. Quatro semanas antes, é acesa a guirlanda de Natal com suas quatro velas vermelhas. No dia de Ruprecht, 6 de dezembro, Papai Noel vem para as crianças. A partir de então não há ruído e nem música durante longos dias, as pessoas fazem pequenos presentes. As crianças pequenas assistem tudo o que acontece durante estes dias. Uma mãe dificilmente saberia responder a todas as suas perguntas, mas repetidamente ela fala sobre o Papai Noel e os seus ajudantes, os elfos e anões, de Frau Holle, a partir de contos de fadas de Grimm, Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, de Hansel e Gretel e todos os outros. O Natal é um momento para nossos filhos ouvirem contos de fadas. 

Quando raiar o dia, os filhos, com olhos brilhantes, serão mais agradecidos e mais amorosos com seus pais, e a mãe vê que todo o trabalho e amor que ela colocou na preparação da festa foram recompensados. Afinal, o que é o Natal sem as crianças, o que é a vida sem o sacrifício que uma geração faz para a outra? 
(Compilado de um texto da época)
(continua)

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O que é MANJEDOURA?

Francisco preparando o presépio em Greccio, Giotto 1297
A despeito de todo romantismo que se criou a partir da narrativa bíblica de Lucas 2, seria bom que se observasse a ênfase que o evangelista dá a este capítulo em particular da história de Jesus: Lc 2.7 - e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Lc 2 - E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. Lc 2.16 - Foram apressadamente e acharam Maria e José e a criança deitada na manjedoura. Esses são três argumentos que servem para nos dar a certeza de que Lucas acentua muito mais o fato de Jesus ao nascer ter sido colocado em um local exclusivamente destinado para uso animal como uma denúncia ao descaso vil e descabido para com a vida humana, do que propriamente, como avaliamos hoje, uma descrição de uma tranquila cena pastoril.

Mais tarde foi atribuída a Francisco de Assis a representação que se perpetuou ao longo dos séculos, onde se pode ver na mesma cena reis e pastores, pessoas e animais, homens e anjos, céus e terra. Um quadro vivo que atravessa gerações para mostrar que a verdadeira intenção deste santo era proclamar através desse seu belo e mudo sermão que a necessidade do diálogo entre as religiões, entre as classes sociais e a preocupação com os seres de outras espécies e com a própria natureza já era urgente desde o seu tempo.

A manjedoura tem permanecido como um dos símbolos mais fidedignos do Natal, ainda que na sua essência negue radicalmente os outros vários outros símbolos criados pela subversão que nós humanos criamos para este data. A manjedoura afronta as mesas fartas, os presentes caros, a sensibilidade momentânea e, se formos mais criteriosos colocaríamos o “bom velhinho” Papai Noel também nesse imbróglio.

Mas o que foi de fato a manjedoura de Jesus? Era o coxo onde comiam os animais que serviam os homens. A palavra podia significar um pequeno local da casa que era reservado para confinamento desses mesmos animais. Porém, quando não fazia referência às humildes casas dos camponeses, casas essas que possuíam apenas um cômodo, a palavra poderia significar também estábulo. Por mais que se façam definições, nunca se pode deixar de lado a ideia de um local infectado por restos de comida, excremento de animais e completamente impróprio para um ser humano, quanto mais um recém-nascido.

Além do evangelista Lucas e de Francisco de Assis, a história cristã registra também as denúncias proferidas através dos incansáveis sermões de um dos maiores conhecedores do texto bíblico da sua época, e o principal responsável pela sua tradução para o latim, na versão que é conhecida hoje com Vulgata, São Jerônimo. Este incontestável mestre da doutrina cristã denunciou com veemência a situação política e econômica do tempo em que viveu, a partir da mensagem simples do Natal: Trocamos a significação humilde que a manjedoura de madeira e barro veio trazer pela suntuosidade de manjedouras feitas com ouro e prata, dizia ele desta heresia contra a mensagem do Natal, ao qual chamou de luteum illud praesepium, ou amarelo presépio ilusório.

Em um dos seus sermões mais contundentes o meu mentor e co-escritor das mensagens deste blog, o rev. Jonas Rezende, disse: Somos totalmente tocados pela imagem de uma criança feita de barro numa cena fictícia de um passado distante e de um local desconhecido, porém, somos completamente insensíveis às crianças de carne e osso que dormem, mesmo nos dias mais frios, debaixo de nossas marquises.

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Quando tudo diz o contrário

José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente. Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Mateus 1.19s
São José, Gerrit van Honthorst em 1620
Não há como perceber os sinais do Natal, mais particularmente da presença de Deus no mundo, senão através da fé. Esta é uma regra que se encaixa tanto para as expectativas do antes, quanto para a sensibilidade do durante, e vai atingir a sua vigência máxima na reflexão do depois da vinda do unigênito Filho de Deus. Basta que atentemos na imprecisão dos sinais que nos deixaram as vozes da profecia que anunciaram a sua chegada, assim como na precariedade de provas apresentadas por aqueles que foram suas testemunhas oculares.


Esta é uma realidade para a qual ninguém se preparou, por isso, enquanto Jesus esteve no pleno exercício do seu ministério, ninguém foi investigar o passado para comprovar se os fatos atuais correspondiam com as promessas, nem tampouco se preocupou em colher provas mais palpáveis da sua presença. Muito do que se especulou antes dele, e muito do que está sendo investigado hoje não se faria necessário, caso os discípulos que o seguiam de perto tivessem assim procedido.

Tudo se justifica pelo simples fato de Jesus estar ali no meio deles, disponível para quem quisesse vê-lo ou inquiri-lo, o que mais se faria preciso? Os sinais que o seguiam eram prova cabal da sua messianidade e confundiam até os mais céticos adversários. É bem provável que tenha sido este o principal motivo do desleixo dos historiadores cristãos que viveram intensamente este momento. Por outro lado, não há como negar o grande tumulto que foi gerado pela sua presença naquele específico período da história.

Desse enredo, uma coisa sempre instigou: a constatação de que o epicentro de todo esse indescritível e único evento da história, que foi capaz de estabelecer a união indissolúvel entre a mensagem que veio de um passado longínquo através dos profetas, com a expectativa dos cristãos que já dura dois mil anos recaiu exclusivamente sobre a cabeça de um homem. Ele passou a ser uma figura central e de capital importância, o que é, infelizmente, muito pouco reconhecido e menos ainda valorizado pela igreja protestante. Ele é o pai terreno de Jesus, que ficou conhecido por nós como José o carpinteiro.

Pouquíssimas informações temos a seu respeito, sendo que algumas bastante controversas e outras muito mal interpretadas. Quanto à sua linhagem, Mateus o coloca como descendente direto de Davi, enquanto Lucas faz com que essa linhagem chegue a Jesus através de Isabel, seu verdadeiro parente sanguíneo. Outras diferenças podem também ser observadas, inclusive nomes diferentes são dados ao seu pai. Quanto o título de carpinteiro que costumamos identificá-lo, também não lhe é apropriado, pois deriva de mais de uma intuição do que propriamente de uma averiguação. Em Mateus 13.55, José é chamado de tekton, e esta é uma designação dos trabalhadores que praticam atividades com pedras, e não com madeira.

Mas as minhas questões sobre José não se baseiam nestes detalhes, e sim no fato dele ser apenas mais uma vítima inocente do grande enigma proposto por Deus desde a fundação dos séculos. Tudo o que lhe foi dito e todas as informações de que dispunha vieram através de um sonho fugaz. Pelo menos com José, Deus teria que ter sido mais explícito. Pelo para José Deus teria que ter aberto uma janela que descortinasse um futuro imediato. Pelo menos a José deveria ser mostrado o seu papel neste plano salvífico. Mas é aqui justamente que está o grande valor desse gigante da história da salvação: José não precisou mais do que uma intervenção sutil de Deus para confiar definitivamente nas suas promessas. José não precisou de algo muito próximo de uma alucinação para se entregar de corpo e alma a um projeto para o qual a sua expectativa de vida não contemplaria.

Quando tudo dizia o contrário. A lei quanto à gravidez suspeita da prometida ao casamento era passível de apedrejamento em punição semelhante a do adultério. Os soldados romanos não aquartelados a um longo tempo naquela região, não de furtavam em estuprar as adolescentes judias, independentemente delas terem sido prometidas em casamento ou não. As traquinices da juventude são coisas comuns a qualquer geração. Então? O que fez José superar todo esse preconceito e aceitar um filho que tinha certeza que era seu? Somente a submissão irrestrita à vontade de Deus, aliada a um amor incondicional pela pessoa que lhe era próxima, no caso Maria, pode nos dar um indício. Prova que bom mesmo, somente através da incerteza da fé.

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Não seja excessivamente justo

Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões.
Leia Salmos 25
Jael e Sicera, James Northcote em 1787
Texto do rev. Jonas Rezende
Se você ler sobre o doutor Fausto, em Goethe ou Thomas Mann; ou romance O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, ou ainda a novela O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson, que, para muitos estudiosos, antecipou em uma década os estudos de Freud - se você ler esses ou outros trabalhos semelhantes, entrará contato com o lado menos visível da personalidade humana. Mesmo as pessoas mais puras, e até os santos e místicos, têm impulsos destrutivos e agressões, apenas sob controle. Talvez, seja isso que os mais diferentes salmistas, que tornaram possível  Saltério à disposição de todos, eles mesmos, de modo franco e transparente, sempre mencionam suas faltas e seus pecados.

No presente poema de Davi, além do pedido, colocado no início da meditação, para que Deus se esquecesse dos pecados que cometera na mocidade, o salmista está como que esmagado pelo sentimento culpa. Veja só o que ele diz: Bom e reto é o Senhor, por isso ta o caminho aos pecadores... Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito... considera as minhas aflições e a sofrimento, e perdoa todos os meus pecados.

Repare também que Davi diz: a intimidade do Senhor é para os que em. Creio que seria mais natural se ele falasse: a intimidade Senhor é para os que o amam, você não acha? Afinal o salmo começa tão belo: Faze-me, Senhor, conhecer os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas... tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia. Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e da tua bondade... De repente, a culpa desponta, e o salmista, como podemos também ver em outras páginas, de sua autoria ou não, parece tornar-se vítima do sentimento de pecado, do medo e da punição.

O pastor e psicanalista junguiano John Sanford enfrenta corajosamente o problema da sombra que existe em nossa mente. Diz-nos que não adianta negá-la, porque ela é parte importante de não acha? nós mesmos. A sabedoria está em desenvolver mecanismos de controle e aprender a administrar as pulsões que atuam em nosso comportamento. Para Sanford, é desse lado desconhecido que surge o humor, a fantasia, os atos falhos - realidades que estão longe de ser apenas negativas. E o pastor-psicanalista compara Paulo de Tarso e Jesus. Paulo se atormenta como o salmista diante de seus impulsos sombrios, e clama: miserável homem que sou! Jesus não se constrange de usar o chicote para expulsar os vendilhões do templo, não quer ser chamado bom, e enfrenta com serenidade as tentações do deserto. Jesus chega mesmo a nos ensinar: sejam espertos como as cobras e sem maldade como as pombas.

O salmista era fruto da sua época, mas nós podemos ter uma vida mais equilibrada e mais feliz diante de Deus, diante do outro e diante dos impulsos da nossa mente, que precisam ser controlados sem culpa ou medo. Sem temor e tremor. É só vivermos mais pacificados com a nossa sombra. Lembrar que a Bíblia adverte: não seja excessivamente justo, uma frase tão parecida com o ditado romano: direito em excesso, injustiça excessiva. E não deixar de fazer o último pedido do salmista:

Ó Deus, redime Israel de todas as suas tribulações.

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Um auto para o seu Natal III

Cristo entra em Jerusalém, Hippolyte Flandrin (!809-1864)
Texto do rev. Jonas Rezende que retrata um Jesus mais velho, não mais um menino. Um Jesus que tem responsabilidades e compromissos. Esse é um jogral para 6 ou 8 pessoas de ambos os sexos. Um jogral para jovens e não juvenis. Está dividido em 3 partes pela limitação de espaço desse blog. Parte final.


Foi assim, no silêncio pulsante,                                          (contando uma história, calmamente)
que Deus profetizou sobre a história da Terra
e que os homens, nem sempre, entenderiam a libertação.
Chegaria o momento em que Deus mandaria,
como seu profeta especial, o próprio filho,

Mas os homens o desprezaram...                                      (com pesar)

Confesso que saber disso me entristeceu,                          (contraste triste / alegre)
mas o som da palavra HOMEM me pareceu engraçado e sorri.
Ele continuou:

Meu filho será crucificado!                                                (profecia triste)

Entendi o que era cruz,                                                    (com gravidade)
e dessa vez foi Ele que sorriu tristemente.  
Mas, como Jesus se aproximava, Deus concluiu apressado:   (esperto)

A chegada de Jesus será uma festa!                                   (profecia feliz, esperança)
Todos os homens que nascem têm o seu natal,
mas o de Jesus Cristo,    
sempre será O Natal !                                                                                                   : 

Então, caí de joelhos e pela primeira vez senti o que sempre foi a oração: 

Jesus Libertador,                                                             (louvando)
Hoje é o dia da esperança.
As crianças brincam de maneira mágica
com luzes coloridas e piscantes, na dança dos segundos.    
Teu amor nos dirá como descobrir, nos mapas do céu estrelado,    (louvor)
a rota dos navegantes e das estrelas bailarinas.
Teu amor nos falará como descobrir também                      (deslumbrado)
nas cintilações fascinantes dos astros
código da comunicação com o Amor maior.

Quem faz isto?

Quem nos oferece tudo isto?

Quem nos perdoa por tudo isto?

Somente tu, Jesus Cristo.                                                 (afirmação)

Mas um belo dia, Jesus,
tua semente sofrida partirá em busca de vida.                    (esperança, novidade)
Porque nascer, morrer, crescer é belo e misterioso.             (cobre o rosto, se esconde,),
Revelação completa, como se vê na vida da borboleta:
No início é a estranha larva protegida no casulo.                (contorce, espreguiça)
Transmuta-se e eis a crisálida!                                          (escapa,se endireita)
Metamorfose perfeita: É o voo da borboleta !                     (se abre e voa)

Uma só realidade faz ver a vida na morte
que ao fim é incumbida de ser   da vida..
E Deus finalizou assegurando:

Tu, ó homem és a borboleta!                                             (aclamação!!)  
Tu, ó homem és Melquezedeque!

Antes do mundo ser sonhado                                            (sabedoria, autoridade)
meu filho Jesus não   ignorava a cruz.

Ele   sempre soube que teria de esvaziar-se de sua glória,   (carinhosamente)
despojar-se do instinto social de posse e de pose,
tornar-se Servo do mundo,
para mostrar que o destino é nosso! E de mais ninguém !    (segurança)             

AMÉM.                                                                           (épiico, crescente, triunfante)
      
O Jesus do sagrado galope tudo aposta nos seres humanos
e faz deles o grande parceiro,   aliados e amigos fiéis,                 
companheiros que nunca abandonam o Senhor.
O Senhor que inscreveu no seu elmo
o que disse o profeta do Eterno,
sobre a festa maior do Natal:
O nome do Filho será:                                                     Proclamando

Fechando as pastas. Marcando passo firme, indo à frente,
Maravilhoso Conselheiro!

Deus Forte !

Pai da Eternidade!
Príncipe da Paz!                                                              (CANTANDO)

Fechando as pastas. Marcando passo firme, indo em frente,
Maravilhoso Conselheiro!

Deus Forte !

Pai da Eternidade!
Príncipe da Paz!                                                              (CANTANDO)

Conclamando, chamando, desafiando alegremente       
Quem no Cristo está pronto a apostar?     

Quem?                                                                           PALMAS



Quem aposta no Cristo?                                                   (saindo espalhado)

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Um auto para o seu Natal II

Entrada em Jerusalém, Pietro Lorenzetti
Texto do rev. Jonas Rezende que retrata um Jesus mais velho, não mais um menino. Um Jesus que tem responsabilidades e compromissos. Esse é um jogral para 6 ou 8 pessoas de ambos os sexos. Um jogral para jovens e não juvenis. Está dividido em 3 partes pela limitação de espaço desse blog.
Parte II

Os pobres o acolheram com a generosidade de quem nada tem.   (elogiando)

Olavo Bilac imagina:                                                        (lendo o livro)
“Não houve sedas nem cetins nem rendas
no berço humilde em que nasceu Jesus,
mas os pobres trouxeram oferendas
para quem tinha que morrer na cruz

Foi exilado com Maria e José, como qualquer retirante brasileiro    (malandrinho)
ou algum filho da pobreza palestina,
Cresceu.   Criança... adolescente culpado sem culpa,
 (apenas algumas bobagens como fumar escondido...)

É verdadeira e histórica a sua apresentação ao povo.          (com certeza)
Bem assim: a circuncisão                                                 
e a visita ao templo,   em que ensinou os próprios doutores da lei.

Tudo com o testemunho do povo,                            (chamando atenção, dando aula)
que não despreza corretas manifestações.

Mais tarde, este mesmo povo, que era o seu,
forjaria um nome digno para ele: 

Jesus, filho de David !                                                      (todos louvando)

E justificaria uma linhagem real:

Tem misericórdia de nós !                                                (todos clamando)       

Como Jesus fez sinais que não se imitam,
muitos tentaram transformar o menino   num fazedor de milagres.
Alguém relatou, em linguagem questionável, uma narrativa:

Ocês num sabia? Uai !                                                      (como um Jeca Tatu)
O menino Jesus fez um passarim, de barro.  
Mordô, ajeitô bem direitim, soprô....fú. Nó senhora !!  
E num é que o bichinho avoô !!
                                                                 (Aguarda platéia se recobrar do riso)

É difícil acreditar em casos que lembrem crendices,             (com alegria)
mas se Jesus quisesse mesmo,
o passarinho não voaria?   Voaria!                                   
E seria o príncipe de todos os pássaros.

Vamos recordar o Natal                                                   (docemente)
e suas velhas emoções que povoam nossa alma
de infância eterna e saudáveis ilusões.                              

Quem sabe, se não daremos                                             (com entusiasmo)
- mais cedo do que esperamos -
um salto que nos coloque numa festa universal?                
Os próprios anjos disseram que era evolução normal:
Alegrem-se de verdade!                                                   (sonhador)

Imagine, there´s no haven...                                           (cantando)                                        
Nos disse   John Lenon –                                                 (com gravidade)
antes de ser calado                                                             
por seu sangue derramado
pelo braço desgovernado  
e a mente de um agressor.

Imagine... digo eu                                                                    (sonhador)
O mundo tem como Eixo,
um Deus com olhar de menino                                         
que engole pela retina todo o mundo que sonhou

E o homem desgovernado,                                               (alegremente)
mas que está predestinado a descobrir-se feliz,
aprende novamente a brincar o Carnaval !

ECCE HOMO AFECTUS !                                              (apresentando com alegria)

EIS O HOMEM AFETIVO !

O Presépio foi a profecia de São Francisco: no passado e futuro.    (com contraste)
Jesus e a perfeita unidade:                                              
Céus e terra,       
anjos e homens,     
homens e animais,
Sábios magos e simples pastores,
ricos e pobres.

Paz na terra entre os homens,                                    (docemente, o Pai acolhendo)
Palavra de Deus pelos lábios dos anjos
e a fidelidade dos seres humanos

OLHOS NOS CÉUS,                                                (olhar ao alto, ombros abertos, )

JOELHOS NA TERRA                                       (contritos, contrai abdômen, se curva)

E A BOCA NO MUNDO                                (encarando o publico, queixo para frente)
  
Noite de paz, noite de amor                                             (teclado e coro)Oh! que belo resplendor
Ilumina o menino Jesus
No presépio do mundo, eis a luz
Sol de eterno fulgor, Sol de eterno fulgor

Sol !   Sol de eterno fulgor !                                             (poder, grandiosidade)

Jesus, meu Mestre,                                                          (atônito)
teu hálito criador
ainda visita as gigantescas esferas mergulhadas num frio astronômico,
insuportável ao ser humano.
Eu tive, não sei se no corpo ou fora do corpo, Deus o sabe,
a espantosa visão de estrelas que coalhavam o céu azul marinho.
Ou seriam acidentes ainda insuperados da explosão formidável do Big Bang,
quando foi inaugurado o Universo?                                  

Sol !   Sol de eterno fulgor !                                             (grandiosidade, poder)


Olhei, nas lonjuras incalculáveis, um monturo sinistro                   (ignorância, pequenez)
e não soube como nomear a vastidão daquele cadinho infinito
que acabara de passar por uma metamorfose extraordinária.
Eu nem tinha consciência                                                
de ser uma existência à parte do espetacular poder,
por Deus testado nos abismos desalentados.

Noite de paz, noite de amor                           (teclado e coro)
Tudo dorme em derredor
Entre
 os astros que espargem a luz

Proclamando o menino Jesus
Brilha a estrela da paz, Brilha a estrela da paz

Brilha a estrela da paz...   A estrela da paz.                        (calmaria, acolhimento)




Fiz então o que de melhor me convinha:                            (recobra controle)
Procurei acalmar-me.                                                      
Tive a certeza
de que não poderia ser visitado por tantos conceitos... e por uma linguagem
que me localizava num tempo e espaço
que apenas estavam sendo inaugurados.

Mas sabia que o Autor do que eu via e sentia,                     (com fé)               
dentro e fora de mim,
dirigia aquele teatro cósmico que excedia todas as tragédias.

Concluí que eu mesmo me encontrava no epicentro marcado pela criação          (acolhimento)
porque Deus –nome que mais uma vez se formava inteligível em mim
– queria que o poderoso evento fosse testemunhado.
E eu me senti de repente mais que tão somente testemunha,
uma vez que Ele se comunicava comigo e, mesmo sem palavras,
me tratava como cúmplice e amigo.


Brilha a estrela da paz... A estrela da paz.                          (calmaria, acolhimento)

                                        (continua)



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