A figueira é a chave

Jesus e a figueira estéril,  James Tissot
Leia Marcos 11,12-24
O que faz uma igreja ser boa? Quais são os itens que fazem uma congregação ser notável? Como se avalia a eficácia de uma igreja? Como a maioria dos cristãos imagina a igreja como um fim em si mesma, as respostas mais evidentes seriam dadas a partir dos elementos comuns de
uma igreja, tais como o número do rol de membros, a frequência aos cultos, a harmonia das músicas, a objetividade da pregação, a quantidade de alunos na Escola Dominical, a fraternidade entre os membros, e é isso mesmo. Esses são os fatores que indicam o sucesso de uma igreja para aqueles que veem a igreja local como um lugar aonde se vai para a inspiração, o congraçamento, o enriquecimento espiritual ou o encorajamento. Todos esses são critérios são válidos e servem para medir a eficiência de uma igreja. Mas por incrível que pareça não é nem de longe um indício de que a igreja está cumprindo o papel para qual foi designada. A igreja não é o lugar que nós vamos aos domingos e sim o que somos entre um domingo e outro. Essa que chamamos de igreja é apenas o local de preparação para que venhamos a ser a igreja que nos acompanha todos os dias da semana. A verdadeira medição da potencialidade de uma igreja é dada pelo que o sermão, os louvores e o ensino nos induzem a fazer durantes os outros dias. A prova derradeira é o fruto que seu povo produz. Então o que significa isso?

Vamos consultar o autor do projeto que chamamos de igreja para ver o que ele nos diz, porque não há dúvidas quando ele afirma que a estatura espiritual de uma igreja é medida pela sua capacidade de produzir frutos. O texto do evangelho de Marcos que narra os últimos acontecimentos do ministério de Jesus, nos traz essa inconcebida atitude contra uma pobre figueira estéril. Esse crime ecológico flagrante. Para entendermos o intrigante contexto precisamos saber de duas coisas importantes: Primeiramente, as folhas de uma figueira nunca precedem os frutos. Ela pode até encher-se de folhas enquanto frutifica, mas nunca antes. O normal seria que as folhas viessem depois dos frutos. Portanto, se uma figueira estava cheia de folhas seria natural que ela estivesse também cheia de frutos. O segundo dado nos é dado pelo próprio evangelho quando diz que não era época de figos. Naquela região a época da Páscoa é a estação da seca, não se pode dizer com certeza, mas acontecia entre março e abril, e a época dos figos era entre junho e julho. Talvez aquela árvore estivesse em uma localização privilegiada que a permitia ser prematura, alguma fonte não natural a regava constantemente. Este é mais um motivo para que ela tivesse também frutos, por que se era prematura para a folhagem, deveria ser também para os figos. Podemos concluir que a vida daquela figueira consistia em produzir folhagem somente, por isso, embora o texto de Marcos não diga que Jesus a amaldiçoou, foi Pedro quem o disse, vamos ficar por hora com a palavra de Pedro.

A figueira era um símbolo de Israel, a árvore de Deus no Éden. Exatamente por isso Pedro se preocupa com ela e pede a Jesus uma explicação para o ressecamento total da figueira. Mas Jesus em vez de resposta dá um conselho: Lembrem-se disso. Se vocês tiverem fé em Deus... Mas o que tem isso a ver com a figueira seca? O que Jesus quis dizer com isso? É preciso perceber nas entrelinhas desta frase que parece tão fora do contexto a chave para abrir todo o entendimento, tanto do texto como da atitude de Jesus. O grande problema de Israel era justamente esse: a falta de fé em Deus. E é a partir daí que passamos a entender por que todo alvoroço por causa de uma simples figueira. Ainda não era por motivação ecológica toda aquela indignação. O aspecto visível ou a aparência externa da religião de Israel transparecia através do conhecimento e da experiência do povo de Deus com Deus. O Primeiro Testamento diz isso de cabo a rabo. Jesus faz com que esta árvore tome o lugar de Israel na questão, pois ele achou somente folhas de ostentação e nenhum fruto. Ele estava fazendo a denúncia que os regulamentos, os rituais e as restrições tinham se tornado mais importante que as ações efetivas em nome de Deus, e Jesus estava interessado nos ensinos mais importantes da lei, como a bondade, o perdão e a justiça, pois ele sabia bem que estes frutos não poderiam ser produzidos sem a confiança total em Deus. Jesus falou muito em seu ministério da necessidade de produzir fruto. No sermão da montanha ele disse: Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.

Esta última semana de Jesus, a ressurreição de Lázaro, a entrada triunfal em Jerusalém, a limpeza do templo, traçaram as linhas da batalha e anteciparam o conflito da sua mensagem com as forças contrárias a ela. A figueira despontou para Jesus como prova viva da indignação de Deus contra toda a falsidade religiosa praticada em Israel. A reação pouco entendida de Jesus contra a figueira assinala a impaciência de Deus contra essa aparência de fé. Eles, assim como nós hoje, orgulhavam-se de ser o povo de Deus, e não há nada de errado em pensar assim, desde que, além das formas externas da religião, como as citadas acima, não venham a se sobrepor aos verdadeiros frutos que a caminhada confiante na Palavra de Deus pode produzir. (continua)

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários:

Postar um comentário