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Parábola da figueira estéril, Jan Luyken (1649-1712) |
As formas externas da religião de Israel o identificavam como povo de um determinado Deus dentre uma variedade enorme de cultos, seitas e rituais existentes naquela época. Era uma religião milenar que havia conseguido, além de respeito, inúmeras concessões dos
romanos, o que era muito bom. Contudo, estes preceitos da religião judaica foram criados para ser o resultado da sua experiência de fé com Deus e não um substituto conveniente desta experiência. Se formos fazer uma analogia com o texto, diríamos que para a figueira, que aqui representa o povo de Israel, as folhas tinham se tornado mais importante que os frutos.
Como seria bom se pudéssemos terminar esta reflexão, que se iniciou ontem, apenas com o relato histórico da experiência ruim pela qual historicamente passou Israel. Como seria bom se estivéssemos apenas reconsiderando os valores que já havíamos aprendido com estes sinalizadores da Bíblia. Como seria bom que o episódio de Jesus com a figueira não tivesse qualquer implicação com o ministério da igreja nos dias de hoje. Mas, além do fato incontestável da Palavra de Deus ser eterna e de servir para todos os povos e em todas as épocas, somos forçados a reconhecer que, em virtude das circunstâncias que nos cercam, ela é demasiadamente apropriada para os dias de hoje. Esta passagem tem algo importante a dizer para nós, ela fala à igreja de todas as formas. O perigo da folhagem sem fruto está bem presente em nosso meio.
Temos a apresentar os mais grandiosos templos que o Cristianismo já construiu. Várias igrejas possuem tempos expressivos em horários nobres das melhores TVs mundiais. Não poucas são aquelas que possuem o seu próprio canal de televisão ou rádio. A viabilidade do uso da Internet possibilitou a máxima velocidade na divulgação de mensagens, eventos e programações evangélicas. Mas todos esses esforços e resultados significam muito pouco aos olhos de Deus, uma vez que o mundo não tem se modificado e a vida das pessoas não tem sido transformadas através das nossas parafernálias. O que adianta ter todo esse aparato se a sociedade como num todo não reconhece em nós novidade de vida? Temos que entender também que a mensagem não é somente para a igreja, mas ela é bastante pessoal, porque ela levanta uma questão sobre cada um de nós. A menos que as nossas atividades na igreja, as nossas orações e a nossa presteza para o serviço esteja de fato produzindo fruto, estamos correndo o enorme perigo de secar como a figueira.
Fruto não é nada disso que temos apresentado em nossos relatórios, não é a quantidade enorme de locais de culto que estamos construindo, não é o tempo em que o nome de Jesus é pregado e nem o aumento do percentual de evangélicos no Brasil. Fruto não é nada do que fazemos ou deixamos de fazer pela consciência ou por boa vontade. Fruto é o somatório daquilo que Jesus deseja fazer em nós, mais aquilo que ele deseja fazer por meio de nós, e isso é a certeza de que não podemos dar frutos sozinhos. De nada adianta um sem o outro. O que Cristo faz em nós, através do relacionamento pessoal com ele, é a convicção de uma fé pessoal, de um desejo individual de querer a sua presença, é a nossa responsabilidade com a sua Palavra. Sem Cristo em nós não há vida cristã, é simples assim. Mas o que Cristo faz por meio de nós é a nossa responsabilidade para com os outros. A produção de fruto é conseguida através das nossas pessoalidades e não de entusiasmo. Paulo em Gálatas descreveu o que é fruto do Espírito que nada mais é do que Jesus tentando nos fazer iguais a ele. São eles: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Eu tenho muita dificuldade com todos e com cada um deles em particular, mas continuo tentando.
Esses são os frutos que Cristo quer produzir em nós. São estes os frutos que Jesus quer colher na figueira da nossa vida. Emoções, ativismo, boas intenções fazem parte da minha vida e atrapalham muito a produção dos frutos verdadeiros. Acredito que a maioria de nós seja assim. Por isso é mais fácil avaliarmos a produção de frutos em nossas vidas pelas constantes vezes que nossas atitudes contrariam e contradizem o verdadeiro fruto do Espírito. Agora, os frutos que Jesus quer produzir através de nós está resumido no seu mandamento maior. João 15, 12: Amem uns aos outros como eu amo vocês. E como Jesus nos ama? Está respondido no versículo 13. O maior amor que alguém pode ter por seus amigos é dar a sua vida por eles. Reproduzir a nossa fé nos outros é a única maneira de dar fruto.
Resta agora pensarmos na multidão que vem às nossas igrejas atrás de frutos e só encontra folhas, por minha culpa, por sua culpa. Pensarmos na quantidade enorme de pessoas desapontadas conosco e com o nosso ministério e o quanto os nossos frutos tem falhado. Não para desistirmos, não para nos considerarmos inviáveis, mas para voltar à sua palavra e refletir no conselho que Jesus deu aos seus discípulos. Se vocês tiverem fé em Deus...
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