Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. Apocalipse 21.8
As bodas de Caná, Tintoretto em 1561 |
Seriam as parábolas histórias para ilustrar a verdade? Talvez, mas devemos ter sempre em conta que ninguém, nem mesmo os discípulos, agarravam-se a todos os elementos das parábolas. Vejam a parábola dos trabalhadores da décima primeira hora. Nela o proprietário é livre para agir em sua infinita graça. Se por um lado destrói muitas expectativas, por outro dá muito mais do que é esperado. Sua liberdade não se limita a valores, e a sua graça não é uma questão de cálculo. Sem entrar na questão meritória, a parábola nos ensina que os seres humanos precisam compreender-se como inteiramente aceitos por Deus, independentemente das suas condições, e que sua existência não é uma questão de realização própria, conseguindo obter tudo o que deseja o coração, mas que é definida pelas prioridades do Reino.
Nas três parábolas de Lucas 15 sobre o perdido que é encontrado, Jesus afirma: Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores. Observe que foi o tipo de pessoas mencionadas no início do capítulo que levou Jesus a contar estas parábolas. Vejam também que é uma mensagem de aceitação incondicional de Deus para com os seres humanos. Para Jesus, os cobradores de impostos e os pecadores nunca estarão irremediavelmente perdidos, por isso Jesus come com eles, por isso anda no meio deles.
No primeiro século da nossa eram as leis sobre a alimentação que ocupavam o centro da pregação e da moral judaica. Eram elas que determinavam, com maior peso, o grau de pureza ritual. Em Levítico 10:10 encontramos: Você é a distinção entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo. Neste contexto, o tipo de comunhão à mesa praticado por Jesus constituiu um ataque frontal aos fundamentos da distinção bíblica entre puros e impuros. A altura e a largura da aceitação amorosa do pai do pródigo é nova e inesperada, tanto para ele, que se achava perdido, quanto para o irmão mais velho. Pois este último não se entende aceito incondicionalmente, mas somente através da relação de retribuição por bom comportamento.
A análise da importância que o Reino de Deus tinha para Jesus, aqui ligeiramente esboçada e carecendo de meditação e pesquisas mais profundas, tem várias implicações importantes para o Cristianismo. Em primeiro lugar, constitui um aviso contra o capitalismo espiritual, esse mal invadiu a igreja e que orienta o nosso pensamento sobre o Reino. Uma análise segura vai nos propiciar uma eficiente defesa contra a mentalidade venal de uma doutrina que estimula investimento no Reino, não pela sua justiça, mas através de oferendas, que em última análise, nada tem de Cristianismo e muito tem de paganismo. Em segundo lugar, esta análise vai nos mostrar o perigoso caminho que lava a busca de bênçãos e retribuções comp promessas do Reino. Quando Jesus taxativamente advertiu sobre a nossa incompetência de fazer elocubrações sobre o fim dos tempos, ao mesmo tempo nos disse para não perdermos tempo tentando imaginar as bênçãos celestes de longo prazo, pois os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e nem penetrou em coração humano algum o que Deus te preparado para os que o amam. A ação concreta em favor do Reino deve sempre tomar a forma do presente e ter em mente a necessidade do agora, se é que podemos assim definir o tempo do evangelho. O presente é feito de amor, e o amor, como disse Mestre Eckhart, é sem porquê.
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