E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. At 1.4
![]() |
A última ceia, Tintotetto |
No espaço de uma semana esse mundo maravilhoso desmoronou. Quem antes vira seu mestre ser aclamado como Messias, o via agora pregado numa cruz entre dois ladrões. Eles estavam por baixo, desanimados, derrotados e quem sabe até desesperados. Aí aconteceu o inimaginável, Cristo estava vivo. Deus o tinha ressuscitado. Nada mais os impedia de sair pelo mundo e o transformarem radicalmente. Eles sabiam que esta era a boa nova que deveria ser anunciada, e também queriam correr para compensar as suas falhas durante a paixão e morte de Jesus, quando o abandonaram. Eles estavam prontos, mas Jesus os manda esperar. Isto é o que diz o nosso texto. Que ordem insuportável é essa? Será que não há cegos precisando enxergar, aleijados que precisem andar ou pobres que precisem conhecer o evangelho? Mas ordem era esperar em Jerusalém semana após semana até o dia de Pentecostes. Onde estava a sabedoria desta espera?
Primeiramente, eles precisavam refletir sobre a natureza do Reino de Deus, pois, como Jesus mesmo disse, ele é difícil de achar, ele é bastante evasivo. Ainda que Jesus falasse exclusiva e exaustivamente sobre ele, o Reino de Deus, até hoje, continua a ser muito difícil de ser compreendido, continua, do mesmo modo, evasivo. Eles tinham que compreender que o Reino de Deus é segundo o Espírito de Deus. O modelo de vida que eles tinham era o do Império Romano, que saía pelo mundo para conquistá-lo e dominá-lo pela força, é também o nosso modelo. Esse é o militarismo está presente até nos nossos hinos tradicionais: “Avante, avante ó crentes, soldados de Jesus”. Esse é o Vini, vide, vince (vim, vi e venci) da filosofia. Eles tinham que compreender que o Reino de Deus não exigia o domínio absoluto sobre outros credos e nem a conquista de desmesurada de adeptos, mas deveria fazer com que as pessoas passassem a sem guiadas pelo Espírito.
Outro fato que precisava ser compreendido é que o Reino de Deus possui força própria. Ele não pode ser possuído, conduzido e nem controlado por ninguém. Até gostaríamos de fazer, mas não podemos não. Gostaríamos de fazer todo joelho dobrar e toda língua confessar que Cristo é o Senhor. Mas o Reino de Deus não é moldado desta forma. Então o que podemos fazer? Somente deixá-lo acontecer. Somente descobrir os seus sinais onde e quando eles aparecem. Existe um abismo de diferença entre tentarmos expulsar os males do mundo, agindo como se fôssemos sozinhos e imprescindíveis e atacarmos esses mesmos males entendendo que estamos no conflito, mas que a luta é de Deus. A briga é dele, não é minha e nem sua. Agimos como se não soubéssemos disso, e os nossos estudos, nossas orações e nossas pregações caminham no propósito de tomarmos conta do Reino e fazê-lo acontecer em nosso tempo, segundo a nossa vontade. Mas o Reino de Deus tem o seu próprio tempo, a sua própria vontade. (continua)
0 comentários:
Postar um comentário