O Espírito do Natal

Jeú e Jonadabe, ilustração de Acordar a Torre, janeiro/1998 
Portanto, por meio do Filho, Deus resolveu trazer o Universo de volta para si mesmo. Ele trouxe a paz por meio da morte do seu Filho na cruz e assim trouxe de volta para si mesmo todas as coisas, tanto na terra como no céu. Cl 1,20
Leia IIRs 10.15- 27

Já estamos vivendo os preparativos natalinos pelo menos dois meses antes do Natal. Para os shoppings e grandes magazines estamos em pleno Natal e a disputa pelo 13° da gente está cada vez mais acirrada.  Todo esse reboliço nos traz ano após ano a mesma pergunta: Será que esse tão propagado, antecipado e financiado Espírito do Natal realmente tem poder para mudar as circunstâncias e as pessoas? Antes de respondermos a isso, será que existe de fato um Espírito de Natal? Será que existe mesmo algo que nessa época do ano transforma para melhor a atmosfera em que vivemos, ou é apenas mais um mito que se criou em torno da expectativa de um Natal e um novo ano que mudará para sempre o rumo das nossas vidas? Para darmos qualquer resposta a essa pergunta precisamos analisar os prós e os contras, ou seja: as coisas que apontam este sentido e as que indicam um sentido contrário. Penso que a leitura de II Reis 10.15-27 pode servir muito bem como exemplo do que é um contra, uma negação do clima de Natal que se pretende com toda esta preparação.

Vamos recapitular este instigante texto bíblico: Esta é a história de uma iniciativa de paz que entre dois grupos de pessoas que se estabelece com a finalidade de tramar a erradicação de um terceiro grupo. Jeú, um soldado de caráter violento que se tornara rei de Israel pela força, queria solidificar um tratado de paz que fizera com Jonadabe, chefe de uma tribo de costumes austeros e primitivos, num encontro que poderíamos chamar de “coração sincero circunstancial”. Resolveram entre si que doravante iriam viver bem e em comum acordo, contanto que para isso que juntos fizessem alguém se dar muito mal. Pode parecer uma associação estranha aos olhos da modernidade, mas imagino que algo bem parecido acontece atualmente no Oriente Médio. Para que houvesse paz entre árabes e israelenses, os palestinos precisariam deixar de existir, ou simplesmente sumir do mapa. Entretanto, não há como comparar estas duas situações, porque não se pode julgar o episódio bíblico do passado distante a partir dos valores cristãos do século XXI. Existe uma defasagem de pelo menos 2.700 anos de civilização entre nós e eles. No entanto, por mais que se releve os critérios vigentes na época, ainda assim é uma cena terrível, dramática e lamentável.

Jeú, sob o falso pretexto de realizar um grande culto em louvor a Baal, o maior deus de seus históricos inimigos, os filisteus, manda convidar todos os seus seguidores, intimando-os sob pena de morte a estarem presentes ao culto. Certificando-se de que não há nenhum seguidor do Deus de Israel infiltrado no meio deles e, aproveitando-se do êxtase da adoração que acompanhava o culto a esse deus, manda matar a todos os que ali estavam. Pegando esse gancho que a história nos oferece eu chamo a atenção de vocês para uma associação um tanto bizarra, que vai tentar trazer o clima do texto bíblico para a situação atual, tendo como pano de fundo a expectativa do Natal.

É interessante frisar que o mesmo texto celebra dois momentos: no primeiro o sucesso do encontro de duas pessoas tão diferentes, de comportamentos tão radicalmente opostos, de choques de opiniões tão claros, mas que conseguem conviver porque ambas responderam positivamente a uma questão fundamental. Tens o coração sincero para com o meu coração, como é o meu para com o teu? A palavra sincero, YASHA, que no português significa sem cera, é a chave para este entendimento inesperado. Sinceridade circunstancial de coração foi o segredo do sucesso daquele encontro, e pode ser que seja também o segredo do nosso Espírito de Natal. Pois é a época do ano em que esquecemos determinadas diferenças e nos propomos a sermos mais amorosos com parentes, amigos e vizinhos.  A época do ano que nos importamos com a situação financeira do lixeiro, do carteiro e do zelador do prédio. Esse é um problema tão extenso que os grandes cientistas econômicos, depois de estudos profundos, estabeleceram um percentual para este fim: recomendam que 10% do 13° sejam dividido entre eles.

Tudo é valido porque é Natal, ainda que eu durante o ano eu tenha xingado o carteiro pelas insistentes más notícias, ou reclamado diariamente com o síndico deste ou daquele servente do condomínio. No Natal o espírito muda, e se converte temporariamente num clima de cooperação e de aceitação. Parece que nós estamos revivendo o texto bíblico em que há um clima de comunhão de pessoas de caráter diferentes, de regiões diferentes, de índoles diferentes, mas que, apesar disso, permanecem unidas por um ideal: o culto ao Deus Jeová ou Jahveh, como queiram. Uma cena realmente tocante. 

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Um Deus esbanjador (final)

O filho pródigo entre os porcos,
Albrecht Dürer (1471-1528)
Caindo em si pensou: Quantos trabalhadores do meu pai tem comida de sobra e eu estou aqui morrendo de fome? Esta simples frase nos diz textualmente que o filho pródigo viu a si mesmo, viu o estado em que se encontrava, viu quem ele foi e quem ele era. Isto não é nada fácil, olhar a si mesmo com toda honestidade, olhar para dentro de nós mesmos com franqueza e profundidade. Eu não sei até que ponto nós podemos realmente fazer isso. Estamos sempre nos cercando de justificativas, de desculpas e engendramos todo um processo de autodefesa que fica muito difícil, através disso tudo, olharmos a nós mesmos e
enxergamos como somos de fato. Isso é uma coisa que dói tanto que eu e você evitamos ao máximo fazer conosco. Mas o rapaz fez. Uma coisa é certa: somente quando conseguimos ver como realmente somos é que conseguimos ver o que poderíamos ser. Vendo como somos neste exato momento, nós podemos ver o que podemos nos tornar. Vendo como somos é que nós podemos vislumbrar o que poderíamos vir a ser.

É exatamente isso o que a terra distante tem a nos oferecer. Isto é tudo o que podemos esperar da terra distante. Mas este é um dom que nunca é esperado. Somente quando estamos por inteiros na terra distante é que conseguimos enxergar o que temos feito com o dom da vida quando ela é vivida completamente independente e alienada de Deus. Porque eu estou vivendo deste jeito? Como é que eu consigo ser tão idiota? O mais humilde empregado do meu pai vive muito melhor do que eu estou vivendo. Qualquer pessoa dentro da sua propriedade come uma comida melhor e se sente muito mais abrigada do que eu aqui nesta terra distante. Eu vou voltar lá e dizer para ele: Pai eu pequei contra o céu e contra o senhor. Já não sou digno nem de ser chamado de seu filho. O que eu peço humildemente é que o senhor me trate como um empregado qualquer.

Notem bem que o pai não foi atrás dele naquele país, o pai não foi até o chiqueiro em que ele se encontrava. O pai permitiu a vergonha, o pai não o livrou daquela sensação de desgraça total. Ele não tentou pegar o seu filho pela mão para resgatá-lo da cruel realidade daquela terra. Ele não fez nada disso. Aqui está o amor esbanjador novamente. Estou sempre escutando pessoas me perguntarem assim: Deus realmente nos manda dificuldades? Deus realmente nos assalta nas encruzilhadas da vida com vergonha e desgraça?  E eu respondo: você acha que ele precisa fazer isso? A vida que nós levamos já não nos envergonha o suficiente? Os pecados que cometemos já não nos trazem desgraças em abundância? Mas logo que aparece a menor dificuldade nós gritamos logo: Deus, o que significa isso na minha vida? Por que eu estou passando por todo esse sofrimento? E Deus tão pacientemente está lá nos esperando para nos fazer refletir sobre uma outra pergunta: Deus, o que é que está acontecendo comigo? Que significado tem essas coisas na minha vida? O que o Senhor está querendo me fazer ver? O que tem de errado que o Senhor quer me mostrar?

Assim como o filho pródigo, às vezes caímos em nós mesmos. No caso dele, foi a fome que o obrigou a voltar, mas dentro de cada um de nós existe uma fome que nem toda a comida do mundo jamais conseguirá satisfazer. Esses problemas da nossa vida não são exatamente os problemas que temos, eles são apenas o resultado da nossa condição básica. O que acontece ao redor de nós, as dificuldades, as vergonhas e as desgraças, nos obriga a abrir os olhos e reconhecer o que está acontecendo dentro de nós. Vida sem Deus simplesmente não é vida.

Eu ainda quero dizer mais uma coisa sobre o amor esbanjador de Deus. A parábola nos fala desse amor esbanjador que está sempre nos esperando cada vez que voltamos para o Pai. Ele tem estado esperando. Ele tem os olhos fitos naquela estrada que leva à terra distante. Ele tem estado ansioso por nós. Então veja como está Deus hoje. Veja justamente isso: ele é o pai que vê o filho perdido de longe e corre para encontrá-lo. Coitado daquele velho, ele já não podia correr tão depressa para abraçá-lo como gostaria. As suas pernas já não aguentavam mais acompanhar a agonia de seu coração repleto alegria por receber aquele filho que voltava ao lar. De tudo o que você já ouviu sobre Deus, tenha certeza de uma coisa: Deus sofre para nos ter de volta, mas o menor sinal de fé, a mínima intenção do nosso retorno ou a nossa mais sutil resposta, desatrela o seu imutável e incomensurável amor por nós. Podemos crer nisso? Neste exato momento o seu Deus, o meu Deus está correndo para nos abraçar para nos dar tudo o que fomos buscar longe dele.

Quando o rapaz ainda estava longe de casa, o pai o avistou. E, com muita pena do filho, correu, e o abraçou, e beijou. O pai o sufocou com tanto amor que ele nem conseguiu acabar o seu discurso tão bem ensaiado lá no chiqueiro. O pai nem o deixou confessar o seu pecado. O pai não resguardou o seu amor por um tempo para ver se o filho estava a ponto de merecer esse amor. O pai não esperou para ver se ele tinha se tornado bonzinho. Ele não esperou para abraçá-lo até que o filho estivesse à sua altura. Aqui está o evangelho todo em miniatura: o favor não merecido, o perdão concedido antes que o peçamos e amor esbanjador que sem exitar gasta tudo para nos resgatar do chiqueiro, para nos ter de volta.

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Um Deus esbanjador II

Filho prodigo na terra distante, James Tissot
Outra evidência do amor esbanjador do pai é que ele simplesmente deixou o filho ir embora. O pai amou o filho demais para detê-lo. Ele não era como nós, ele não era um superpai, ele sabia mais do que nós. Ele sabia que o amor não aprisiona, pelo contrário, dá asas. Mas também é certo que o nosso coração bate igual
ao daquele pai, quando ele sentia a agonia da separação. Acho que o filho sabia a dor que estava causando ao seu pai com aquela decisão. Eu penso assim porque esta questão envolve uma questão maior do que ela, porque sabemos bem quanta agonia causamos a Deus cada vez que resistimos ao seu amor, recusamos a sua direção e renunciamos à sua bondade. Não foram poucas as vezes que arrumei as malas, pedi parte da minha herança e parti para a terra distante, para lá viver para sempre. Terra distante é um impulso de rebelião. Ela é muito mais do que um lugar geográfico, ela é um estado da nossa alma. Você já se perguntou qual é a sua terra distante? O filho foi para o outro país decidido a não voltar, ele não queria ser dependente do pai nem mais uma vez. A maioria de nós é levada para a terra distante pela roda viva que é a nossa vida. Primeiro são as coisas simples que temos no início, depois são os nossos planos, depois as nossas posses, depois os relacionamentos mais íntimos, e por fim os nossos desejos.

Nós vivemos as nossas vidas longe de Deus. Ele fica lá em cima em algum lugar que nem sabemos onde fica e nem temos a certeza se realmente existe, e o que fica aqui embaixo é a nossa terra distante. A miséria tem muitas formas, nós não andamos vagando no mundo como fez o rapaz. Normalmente nós nos desviamos do nosso potencial através da rebeldia de não fazer nada, ou pela rebeldia de querer fazer demais. Que é possível falir financeiramente, todos nós sabemos. Mas o que muitos não sabem é que existe também a pobreza do sucesso financeiro. Este é um aspecto negativo na abordagem da Teologia da Libertação, porque entre aqueles tem e aqueles que não tem existe muita coisa em comum por baixo das aparências exteriores. Ambos podem não saber por que razão nasceram. Assim como também existem muitas maneiras de desperdiçar toda a herança que temos recebido. Nós estamos sempre querendo rejeitar ideais, sonhos e esperanças que temos herdado dos nossos pais e da nossa tradição religiosa. Nós estamos sempre querendo pouco a pouco trocar os nossos valores, mudar a nossa convicção sobre certo e errado e dissipar o nosso caráter verdadeiro tão rápido quanto o filho mais moço dissipou a sua riqueza. Nós usamos as coisas boas desta vida para finalidades erradas. Usamos o sucesso, o reconhecimentos, o acúmulo de bens para fins impróprios.

Qual é a ideia que fazemos daquele povo da terra distante, eles eram realmente maus? Aquela era uma terra de gente perversa que arruinou a vida daquele rapaz? Claro que não. Ruim foi o que o rapaz fez naquela terra movido pela falsa sensação de felicidade, é aqui que está o erro. Seu valor era frouxos e aí uma luxúria desenfreada tomou conta de seus impulsos. Mas não podemos condená-lo porque ele fez exatamente o que nós faríamos se estivéssemos com muito dinheiro em um país distante, onde tudo é permitido, porque nada importa. É o que faríamos se estivéssemos com uma fortuna em nossas mãos em um lugar onde podemos comprar qualquer pessoa ou qualquer prazer e onde não há regulamento, restrição ou fiscalização e não há ninguém para perguntar por que você está fazendo isso consigo mesmo.

Nós nos identificamos muito bem com esse rapaz. Ele tinha deixado o lar de uma vez para sempre. O dinheiro o permitiu um estilo de vida diferente. Somente uma coisa importava para ele: o que ele queria, quando ele queria. Afinal de contas a vida não era dele? O dinheiro que estava gastando não era o dele? Ele não tinha o direito de dirigir a sua própria vida? Não estava ele, naquela hora, no controle total da sua vida? Ninguém podia lhe dizer nada. Ninguém para dizê-lo como agir. Não tinha mais o pai para acordá-lo de madrugada e mandá-lo para o campo. Não tinha mais quem reclamasse dos seus atrasos ou da sua falta de compromisso. Ninguém poderia lhe dizer nada enquanto ele tivesse dinheiro.

Como essa história dói. Como ela chega tão perto de nós. É uma história que nos pergunta sempre o que estamos fazendo com o dom da vida. Ela o alerta constante a todos nós que, sem percebermos, estamos numa busca frenética atrás de significado. Numa corrida louca para acharmos propósitos e importância. Enchemos nossas vidas com aquilo que podemos sentir o gosto, com aquilo que podemos tocar, com aquilo que nós podemos comprar e com aquilo quem nós podemos vender. A nossa questão não é, como a do filho pródigo: o que vai acontecer quando o dinheiro acabar? Nossa pergunta é diferente: o que mais podemos extrair dessa vida, o que podemos mais devastar antes da morte chegar? (continua)

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Um Deus esbanjador

Retorno do filho pródigo,
Pompeo Batoni (1708-1787)
Leia Lucas 15.11-32
Necessitamos mais de amor, perdão e reconciliação do que de respirar, comer ou dormir. É justamente isto que Deus nos oferece, por que é isto que Deus é. Como é Deus? Ele é o pródigo, o esbanjador. Seu amor não conhece limites. Seu perdão não tem barreiras. Seu regozijo não admite  circunstâncias. O amor de Deus é extravagante mesmo. Vejam o que ele fez com uma humanidade ultraviolenta, perversa e egoísta. Vejam o que ele fez com uma humanidade inegavelmente perdida. E o que ele fez? Ele dissipou todo o seu amor com esta humanidade. Gastou tudo e deu tudo no calvário por esta
humanidade. Agora fica a pergunta: Deus foi mesmo um gastador, ou melhor, um desperdiçador? Foi profuso, foi excessivo? É claro que foi! E nós não fizemos absolutamente nada para merecer o que ele fez por nós, e é aqui que aparece o mistério e a maravilha de um Deus esbanjador.

Esta parábola foi ensinada por aquele que era a Palavra de Deus entre nós, e ele diz: Deus é assim mesmo. Devemos nos perguntar: que tipo de pai era esse da parábola que permite que o filho o aborde desta maneira? Que tipo de país ou cultura permite que o filho mais moço requeira e receba uma parte enorme do total dos bens da família? Alguém ainda imagina que este filho teria pedido a sua parte da herança caso ele tivesse dúvida da resposta do pai? O filho conhecia bem o pai. Mas ele foi malandro, ele escondeu bem o seu real propósito. Ele não disse para o pai que estava cansado da vida que levava e queria ser dono de si dali por diante. Mas o pai também conhecia o filho que tinha, e sabia qual eram as suas reais intenções. Mas mesmo assim a resposta do pai foi imediata. O pai estava pondo em prática aquilo que a vida toda ele tinha ensinado aos seus filhos, e a prova disso é o versículo 31 que diz: Tudo o que é meu, é seu.

Então por que um filho quis deixar um pai como este? Esta pergunta nos ajuda a lembrar da herança que temos recebido do nosso Pai Celestial: os recursos desta vida, o intelecto, a emoção, a vontade, a saúde e um mundo cheio de deleites da natureza para o nosso prazer. Temos que reconhecer todos esses recursos nos foram dados para que os administremos em ações de graças por eles. Mas é esse o nosso problema. Nós requerermos todos os recursos que Deus nos dá para vivermos sem ele, para vivermos a mentira de que tudo que temos é o resultado de nosso próprio esforço, capacidade e criatividade. É uma questão tão antiga quanto Adão e Eva. É a estupidez da independência. Estamos sempre nos esquecendo de que não podemos fazer absolutamente nada sem nos valermos dos dons naturais de Deus. Mas como o filho que foi embora, como nós tentamos, não é verdade? Parece que estamos sempre querendo provar a nós mesmos alguma coisa. Todos nós queremos ser a única coisa que não podemos ser: Deus das nossas vidas.

Há outra razão pela qual o filho quer ser independente. O que ele não podia emular ele tentou eliminar. Ele queria exceder ou mesmo igualar as qualidades que havia encontrado em seu pai. Ele queria ser uma pessoa tão boa quanto seu pai era. Ele queria ser tão generoso quanto o pai, mas nos seus próprios termos. Ele tinha que fazer da vida dele o que bem entendia, então o desejo de deixar o pai foi confundido com a felicidade. Aqui estava o erro dele. Ele achou que a indulgência egocêntrica lhe traria a felicidade, e é isso que o nosso mundo pensa. Tinha que provar que ele era tão bom quanto o seu pai se fazendo sozinho e isso quase o destruiu. Existe um nome para isso é nós conhecemos bem. É pecado. Na base de tudo estão pecado. Ele cometeu muitos pecados, sabemos disso pelo que Jesus disse dele naquela terra distante. Contudo, a raiz principal de tudo foi o pecado da rebelião consciente ou independência, como queiram chamar. O desejo de ser grande sozinho.

Não estou dizendo que ele não tinha direito de quebrar os laços familiares. Não estou dizendo que ele não podia ter vontade de romper com os vínculos paternais. Não estou dizendo que ele não tinha a necessidade de fazer a sua própria vida. Todos sabemos que nunca seremos o que realmente queremos ser enquanto formos dependentes de nossos próprios pais. Numa das poucas vezes que vi um programa de televisão, a proposta era distinguir os maridos que eram mandados pelas mulheres dos que não eram. Quando viu que todos, menos um, se dirigiram para o grupo dos mandados, o apresentador do programa perguntou a esse solitário marido: O que você está fazendo aí? E ele respondeu: Não sei não, foi a minha mulher que mandou. Tem que haver uma hora que temos que dizer não, porque nunca seremos nós mesmos sem rompermos com esses laços. Mas por outro lado, nós também nunca seremos nós mesmos até estarmos em uma comunhão submissa com as pessoas à nossa volta, com a natureza e com o nosso Pai Celestial. (continua)

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Vontade de Deus e vontade dos homens

Salomão com as mãos no Templo.
Portal da Catedral de Leon, França.
Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei. Atenta, pois, para a oração de teu servo e para a sua súplica, ó SENHOR, meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que faz, hoje, o teu servo diante de ti. Para que os teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, sobre este lugar, do qual disseste: O meu nome estará ali; para ouvires a oração que o teu servo fizer neste lugar. Ouve, pois, a súplica do teu servo e do teu povo de Israel, quando orarem neste lugar; ouve no céu, lugar da tua habitação; ouve e perdoa. I Rs 8.27-30
 

Nunca faltou ao fiel a Deus a noção do quanto o Senhor é grande. Mesmo que não pudéssemos quantificar ou enumerar esta grandeza, sempre soubemos da diferença absurda que nos separa dele. Dizia um astrofísico recentemente: Deus não é maior do que nós pensamos dele atualmente, ele é maior do que possamos vir a pensar. Deste modo, nunca faltou também louvores e orações que, dirigidas a ele, evocassem a sua grandeza diante da nossa pequenez, e a oração de Salomão que inaugura o templo, citada acima, não fugiu a esta regra. O grande problema nesta oração, como na maioria esmagadora das orações que fazemos é que a introdução que enaltece o poder de Deus sempre vem acompanhada de uma intenção velada, que mais revela a nossa vontade do que propriamente o nossa disposição em viver segundo a vontade de Deus, o que seria a atitude mais natural a se tomar quando este reconhecimento é clarificado em nossa consciência. Bernard Shaw percebeu muito bem isso quando declarou: O homem simples não ora, só pede.

Logicamente que esta observação não parte de alguém que é invulnerável a esta tentação, muito menos de quem um dia já fez disso uma regra de vida. Ela parte da indignação de quem reconhecidamente se vê como mais um interesseiro seguidor desse Deus, que também reconhece absoluto, e que nesta hora está se perguntando o seguinte: Se a grandeza de Deus é tão evidente, se a sua vontade é tão perfeita e se o amor com que nos ama é indescritível, por que, diante de tudo isso, ainda insisto em fazer conhecida a minha vontade obscura, incerta e egoísta?

Esta é apenas mais uma das negligências evidentes e indiscutíveis das quais ano após ano, em vão, tento me livrar. Contudo, ainda não está longe de se configurar como a mais grave delas. O que me causa ainda mais indignação é quando me flagro na posição de Salomão, que após ter construído o primeiro Templo de Jerusalém se coloca na posição de quem pode negociar e fazer exigências. Ou seja, quando transformo qualquer realização minha em nome desse amor que me constrange em objeto de barganha.

Uma das perguntas mais frequentes que faço ao casal de noivos que entrevisto antes de aceitar o convite para oficiar o seu casamento é esta: Se vocês acreditam que Deus abençoa indistintamente a qualquer pessoa, e que não faz acepção de quem invoca e de quem não invoca a sua bênção, por que vocês estão fazendo absoluta questão de se casarem na igreja? É bem certo que não faço esta pergunta com o intuito de desencorajar ninguém a celebrar diante de Deus a sua união de amor. Mas com a intenção de mostrar a grande responsabilidade que tem aquele que invoca a sua bênção, em relação àquele que apenas a recebe naturalmente. A questão aqui existente é por que não me faço frequentemente esta pergunta antes de me dirigir a Deus em oração, principalmente nas orações que inicio enaltecendo a sua grandeza? Deveria me perguntar sempre se é justo pedir o que deseja o meu coração diante da responsabilidade de fazer conciliar a minha vontade imperfeita com a perfeita vontade de Deus? Deveria eu me considerar merecedor de receber as bênçãos suplicadas, quando na realidade deveria me sentir um servo inútil por ter feito apenas aquilo que é a minha obrigação?

Sei bem que a própria Bíblia recomenda orar sem cessar, e que todos os nossos desejos devem ser colocados explicitamente para Deus em oração, mas em tudo isso tem que haver a conscientização do absurdo. Tem que haver a prova do meu crescimento na fé, e mais ainda, tem que mostrar cada vez mais que a minha confiança na sua providência está cada vez mais influenciando e transformando os vários aspectos da minha vida.
Para que a nossa oração não seja a de um homem comum, muitos aspectos devem ser observados. Esta meditação não tem pretensão alguma de defini-los todos, mas uma coisa seria certa: antes de iniciarmos uma oração, seria muito interessante que tivéssemos a sensatez de fazer uma autoavaliação do objeto da oração, para assim fazer deste momento único com Deus um ato de louvor e adoração agradável a ele, e que faça uma verdadeira revolução em nossas vidas.

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Queria agradecer, mas não sei como

O retorno do filho pródigo, James Tissot
Quero manifestar publicamente a minha gratidão a Deus pelo transcurso do meu 60° aniversário que acontece justamente hoje, dia vinte e cinco de outubro. Mesmo após todos esses anos ainda não sei bem o que deveria privilegiar nesta ação de graças. Não posso dizer com certeza que foram os livramentos em que minha
vida esteve em risco, e que não foram poucos. Não saberia dizer se foram pelas vezes que consegui escapar das investidas do regime ditatorial sobre mim, e olhem que ele esteve bem próximo de riscar do mapa. Não sei também seria pelos pais e avós que me legaram a fé que hoje professo, se pela família que sempre me apoiou, mesmo quando não concordava com minhas decisões, ou pelo filho fantástico que me deu um neto mais fantástico ainda. Não poderia deixar de agradecer pela igreja na qual congreguei, e muito menos pela que hoje congrego. Pela revolução definitiva e sem volta que causou em mim o seminário metodista. Pelos grandes e pequenos amigos, principalmente por aqueles que comigo estavam nas várias vezes que vi o Diabo de perto. Como se pode ver, motivos não faltam, mas ainda não encerram o meu desejo de manifestar esta gratidão que me toma de assalto neste dia.

Quem sabe, talvez eu devesse inverter a direção e começar a ser grato pelas vezes que saí ferido e derrotado, quando o livramento parece ter chegado tarde? Quem sabe agradecer pelo prejuízo que os anos de chumbo da ditadura brasileira me causaram? Não sei bem se seria certo agradecer pelas vezes que fiz minha mãe chorar, pelas vezes que decepcionei o meu pai ou por quando não honrei a memória dos meus avós. Será que estas coisas visivelmente ruins não teriam contribuído mais do que as coisas boas para a formação da pessoa que sou hoje? O balanço atual entre bênçãos e derrotas é positivo? Pode ser também que não seja. Se eu for fazer uma relação entre as tantas manifestações de vitórias, de conquistas e realizações que vejo serem anunciadas em todos os locais, por diversas pessoas e em nome desse Deus a quem oro neste momento, fico até na dúvida se tenho motivos para agradecer realmente.

O que fazer com esse amontoado de bênçãos e fracassos? Negar que as pessoas citadas acima estejam de fato recebendo tudo e muito mais do que eu consegui até hoje, através de uma prática de fé que não foi tão onerosa quanto a que me baseei todos esses anos? Reconhecer que estou predestinado a não ser contemplado com bênçãos desta natureza? Do que estou reclamando? Eu nunca fui o cristão que realmente pretendia ser. Nem de longe fui o pai, o filho, o amigo ou o marido que projetei em mim mesmo. Voltando aos bem aventurados cristãos de hoje, será que sou somente eu que me sinto assim? Tenho que confessar que até pouco tempo atrás eu pensava exatamente desta forma, até um dia eu li com atenção o capítulo 7 da carta de Paulo aos romanos, principalmente quando ele diz: miserável homem que sou. Esperem aí, quem disse isso não foi o Zé das Couves, foi o apóstolo Paulo, o teólogo que mais entendeu a mente de Cristo e que mais colocou em prática os seus ensinamentos. Paulo, como eu, também queria fazer o bem, mas não fazia, queria deixar de fazer o mal, mas não conseguia. Ele tinha algo dentro dele que o impulsionava a fazer justamente o contrário do que ele pretendia. Acho curioso que ele não chamou esta força estranha de demônio, de encosto ou de qualquer desses frequentes e presentes inimigos responsáveis pelas doenças e infortúnios. Ele chamou isso de pecado: o pecado que habita em mim.

Mas graças a Deus, aqui estou eu agradecendo de novo, que somos somente eu e Paulo que nos sentimos assim, não é? O restante da cristandade não faz nem ideia do que isso quer dizer ou do que representa na vida de alguém. Mas vamos apenas pensar que seria possível que não fosse bem assim. Que a contabilidade da grande maioria dos cristãos não fechasse tão favoravelmente como costumam dizer. Vamos imaginar que a nossa oração mais sincera tivesse um não definitivo com resposta, ou que o Deus se recusasse a tirar de nós o espinho na carne. Ainda assim teríamos motivo para agradecer a não ser pelas dádivas universais, nome que Wesley deu a dons como o ar que respiramos, a água que bebemos ou o fato de estarmos vivos.

Quando Paulo diz: miserável homem que sou, Jeremias amaldiçoa o dia do seu nascimento e Jó diz ter sido um desperdício dois seios para o amamentarem, não seria uma tarefa impossível tentar encaixar um momento de gratidão nesta hora? Pela razão? Nem pensar. Pela contabilização entre sucessos e derrotas? Menos ainda. Mas se eu pegasse esta mistura de situações boas e más e as colocasse aos pés daquele que eu julgo ter a consciência muito mais elevada do que a minha. Se eu juntasse este misto de certezas e dúvidas e entregasse nas mãos daquele em quem eu tenho depositado a minha fé, e confiasse completamente na sua providência, eu não encontraria alguma razão para ser grato por tudo isso? Será que eu não poderia dar um respiro aliviado e dizer que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus? Para o bem da verdade, tenho que dizer que não sei. Mas uma coisa tenho certeza, só saberei o dia que realmente, de corpo e alma, eu tentar.

Sou muito grato àqueles e àquelas que, apesar de terem lido o que escrevi, ainda me de desejam um feliz aniversário.

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Profetismo, o bíblico e o atual V

João Batista batizando o povo, Nicolas Poussim
Depois de um longo vazio no profetismo de Israel, que durou também cinco séculos, interregno que os estudiosos chamam de período intertestamentário, entramos no Segundo Testamento com os profetas curandeiros. Embora a Bíblia mencione alguns poucos, como João Batista, Teudas, Judas, o Galileu (At 5.35s),
 e o próprio Jesus Cristo, que também era um curandeiro, a história judaica acrescenta um bom número a essa lista. Dentre estes que iniciaram o seu ministério profético se projetando através das curas que faziam, surgiram alguns que assumiram características militares, arregimentando consideráveis exércitos com o intuito único de promover a cura de toda a nação, que seria a expulsão dos romanos de suas terras e o livramento do seu jugo. Mas alguns desses profetas foram além, assumiram sobre si o papel de um personagem lendário, que somente era lembrado nos tempos de grande opressão: o papel de Messias, que, apesar de todo glamour e mistério que ainda cerca este título, significava simplesmente aquela pessoa tinha sido ungida, e cuja tradução para o grego resultou no nome Cristo. Contudo, seguir esse rumo nos tiraria da proposta inicial da meditação, que é estabelecer uma relação entre os se dizem ser profetas atualmente e os que a Bíblia chama de profetas.

Um profeta que merece total relevância é João, o batista. Apesar de todo crédito que merecidamente lhe damos, jamais alguém pensaria em colocá-lo no lugar em que Jesus o eternizou. Jesus simplesmente o considerava o maior de todos os profetas nascidos de mulher. Muito embora em suas pregações ou diálogos nunca fizesse menção a qualquer palavra dita por João, como fez frequentemente com Isaías e Jeremias, muito pelo contrário, foi adverso a ele em algumas ocasiões, Jesus tinha por João e pelo seu ministério um respeito inconcebível para muitos. Devemos nos perguntar: do que consistia de fato esta mensagem que fez com que o batista superasse todos os seus pares que viveram antes dele?

Para João o machado já estava colocado à raiz da árvore, e árvores como a figueira, eram símbolos conhecidos por todo o povo, e que acompanhava Israel a séculos. Sem se preocupar muito com a continuidade do plano de salvação de Deus ou pelo que viria a seguir, João via o fim iminente e prestes daquela nação, e dizia também que somente aqueles que se arrependessem, deixassem as cidades, os núcleos de perversão, e o acompanhassem no deserto, teriam alguma chance de escaparem com vida. Para João, Deus quer recomeçar uma nova nação a partir do deserto, como que um novo Êxodo se anunciasse como inevitável. Era textualmente o fim de tudo: o templo seria destruído, Jerusalém viraria ruínas novamente, e o único caminho que não levava ao exílio passava pelo arrependimento e pelo deserto.

É importante que se interprete o ministério de João como precursor do ministério de Jesus, mas que o segundo de forma alguma este anula ou enfraquece aquele. De fato o machado já está colocado à raiz da árvore, os galhos infrutíferos serão arrancados e queimados, e os que dão frutos serão podados para que deem mais fruto ainda. A dupla função do machado de João não foi suprimida com Jesus, foi de fato ampliada, e a profundidade do seu corte se dará pela avaliação da produção de frutos. É interessante que o símbolo fruto também foi empregado por João em suas mensagens. Dizia ele, pois, às multidões que saíam para serem batizadas:Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.

No meu entendimento há poucas mensagens tão atuais quanto esta na Bíblia. Posso dizer também que poucos foram tão explícitos em suas pregações como João. Ele não somente definiu as razões que levaram Israel a se tornar uma nação estéril, como determinou que frutos o seu povo deveria produzir a partir de então. Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. Foram também publicanos para serem batizados e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos de fazer? Respondeu-lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo.

Seria possível que Jesus realmente tivesse ignorado a mensagem de seu precursor quando não fez qualquer citação de trechos das contundentes mensagens proferidas e divulgadas por todos os lugares por onde andou, ou fez de fato o que desde o início de propusera a fazer? Levou-a além, levou-a ao pleroma, à sua plenitude mais consistente e mais fiel?

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Profetismo, o bíblico e o atual IV

Isaías recebendo a visão,
na Igreja Luterana São Mateus,
em Charleston, SC, USA
Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo. Então, disse eu: até quando, Senhor? Ele respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, as casas fiquem sem moradores, e a terra seja de todo assolada, e o Senhor afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo. Is 6.8-12

Com o início da profecia clássica estabeleceu-se mais uma questão. Israel estava acostumada com os profetas extáticos, indivíduos que se apresentavam vestidos com peles de animais e um largo cinto de couro, que faziam os seus oráculos em um estado de êxtase contagioso,
em meio a cânticos e danças, por vezes flagelando-se com seus instrumentos de corte. Contudo, dependiam da piedade alheia e estavam comprometidos demais com a religião do templo, local preferido de suas pregações, pois era onde angariavam mais esmolas. De uma hora para outra, o povo se vê desafiado pela pregação consciente de homens que até então eram tidos como pessoas comuns, saídos do nada, mas que conseguiam colocar seu dedo diretamente nas feridas da nação, expondo-as como sem possibilidade de paliativos para a sua cura. Profetas que anunciavam um fim iminente, não mais como um agouro ou maldição, mas como consequência das injustiças e iniquidades praticadas ali. Profetas cujas denuncias não poderiam ser abrandadas com esmolas ou sacrifícios, apenas pela conversão irrestrita aos desígnios de Deus. Enquanto que a mensagem dos extáticos privilegiava Israel como nação eleita por Deus para ser a sua esposa, os profetas clássicos diziam que Deus há muito havia abandonado este casamento, e que o motivo era o adultério com deuses estrangeiros. Israel não parava de se prostituir, pois em cada colina, em cada campo e em cada lar essa prostituição era visível. Mais do que palavras, estes profetas deixaram documentos escritos como prova cabal do processo que o próprio Deus instaurara contra a infidelidade daquele povo.

Os profetas clássicos ficaram conhecidos como profetas maiores, Isaías, Jeremias e Ezequiel, e profetas menores, os demais profetas escritores. Uma distinção que não levou em conta a importância da sua mensagem, senão a quantidade de textos escritos. Uma avaliação mais acurada iria distingui-los como profetas pré exílicos, os profetas que atuaram durante o exílio babilônico e os pós exílicos. Isso sim nos daria a dimensão exata da sua mensagem, pois esta estaria diretamente ligada à sua época, ao seu destinatário e aos eventos que faz alusão.

É exatamente aqui o início da tensão entre o verdadeiro e o falso profeta. Os clássicos censuravam os extáticos por serem mentirosos, impostores, que faziam predições por dinheiro, que agradavam o rei, que também falavam em nome de outros deuses, e que, pregando paz e prosperidade, faziam o povo esquecer o pacto firmado com Deus no Sinai. Mesmo assim não negavam que estes tivessem sonhos e visões autênticas, a censura voltava-se contra os seus oráculos distorcidos da verdade. Tamanha era a indignação dos profetas clássicos contra a iniquidade, que aliando isso ao temor que tinham de Deus, acabaram concluindo que os profetas extáticos nada faziam senão anunciar a mensagem que um espírito de enganação, que vindo da parte de Deus, se propunha a enganar o povo para que este não se viesse a se converter à mensagem dos profetas clássicos, que aos olhos destes era incontestavelmente verdadeira.

Este é um dado no mínimo curioso à nossa compreensão. Deus envia seus profetas com mensagens claras e verdadeiras, mas também permite que haja a falsa profecia, que mesmo anunciada como se fosse sua, serve apenas para ludibriar o povo. Tentemos nos colocar no lugar desses profetas fazer uma avaliação da situação em que se encontravam. Ter que pregar uma mensagem dura de denúncia contra os erros dos seus amigos, parentes próximos e das pessoas que mais ama neste mundo, sabendo de antemão que elas já estão condenadas porque não ouvirão a sua mensagem, e mesmo aqueles que a ouvirem não entenderão, a ainda os que a entenderem, não crerão e não serão salvos. Não foi sem motivo que indistintamente todos esses profetas tentassem de ao máximo se livrarem deste oneroso encargo. Não foi também sem motivo que eles passaram por terríveis crises existenciais. Mas sem sombra de dúvida, foi o que deu resultado positivo, o que conseguiu preservar o plano de salvação original de Deus. Não é a toa que eles conquistaram esse lugar nas nossas pregações atuais, nos nossos parâmetros de conduta e, em especial, na nossa gratidão a Deus pelas suas vidas. (continua)

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Profetismo, o bíblico e o atual III

Profeta Isaías, Rafael
Quando os perversos se multiplicam, multiplicam-se as transgressões, mas os justos verão a ruína deles. Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delícias à tua alma. Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz. Pv 29.16-18

Quando chamamos um desses homens de profeta usamos uma palavra que foi traduzida do termo hebraico nabi, que é uma expressão que eles mesmos não conheceram, pois esta palavra foi usada com este sentido somente quando a profecia era coisa do passado. Eles eram conhecidos no seu tempo como dãbãr, que quer dizer portadores da palavra, n’um,
que significa oráculo ou massã, que quer dizer visão ou sentença. Mas isso não invalida o fato de que eles estivessem convencidos de que só poderiam fazer as suas profecias se estivessem debaixo da autoridade de Deus, e estas não eram comunicadas apenas com palavras. Era comum empregarem mímicas, pantomimas ou mesmo trechos musicados. Ainda assim, a palavra nabi não era unicamente empregada com a finalidade de designar os profetas do passado, como os concebemos hoje. Ela poderia ser usada também para designar um “homem do espírito”, como eram chamadas as pessoas que realizavam os seus oráculos em estado extático (de êxtase). Por outro lado, o termo grego prophetés, que se imagina ser a versão grega mais apropriada para nabi, nunca é empregado para quem faz predições ou adivinhações do futuro. O grego utiliza esta palavra para identificar aqueles que falam em nome de Deus revelando coisas obscuras ou aquilo que está acima da compreensão do homem comum. É importante observar que os profetas clássicos, como Jeremias e os outros, nunca chamaram a sim mesmo por esses nomes. Já Amós (7,14) e Miquéias (3,8) vão além, aparecem rejeitando-os incondicionalmente. Zacarias, Ageu, Naum e Habacuc são chamados assim pelos editores de seus escritos. Apenas Ezequiel se permite chamar deste modo. Isaías dá a entender que é um nabí, mas o faz considerando o fato de que manteve relações sexuais com uma profetisa, fazendo-se assim um profeta simplesmente por ser marido da profetisa (8,2).

Quando escavamos as raízes desta palavra observamos que ela era empregada de modo completamente diferente das conotações que a damos hoje me dia. Embora estes profetas do Primeiro Testamento gozassem de um certo prestígio diante do povo, de forma alguma eram intocáveis ou irrepreensíveis. A expressão “ai daquele que tocar em um ungido do Senhor” não foi dita por qualquer destes profetas e sim pelo rei Saul, que quando se viu ameaçado de morte apelou vergonhosamente para uma suposta ligação com Deus com o intuito de se livrar da condenação iminente. Além disso, a associação unção e profecia só foi levada efetivamente ao pé da letra na sucessão de Elias por Eliseu, e ainda assim não podemos dizer que foi uma unção formal. Contrariado por ter ser sido substituído pela sua hesitação diante de Jezebel, Elias acintosamente joga sua capa sobre Eliseu eu um flagrante gesto de indignação. Ninguém ungiu qualquer dos profetas escritores. Eles mesmos, por sua própria intuição, se dispuseram a pregar a mensagem de Deus, que nunca era para conciliar ou acomodar uma situação iníqua. Suas línguas estavam sempre afiadas para denunciar as injustiças que campeavam impunemente em Israel, o que os fazia pessoas detestáveis pelos governantes e poderosos da sua época.

Seria impensável que naquela época um profeta fosse chamado para compor o governo, como fazem os partidos políticos de hoje. Mesmo aqueles que nasceram na aristocracia do palácio ou do sacerdócio, como Isaías, Jeremias e Ezequiel, revoltaram-se ferozmente contra a sua própria classe, tornando-se por elas proscritos. Seria impensável também que uma voz profética se prestasse para fazer política em favor deste ou daquele governante, como fazem abertamente os líderes de grandes igrejas atualmente. Havia sempre apreensão pelas suas presenças, e a tensão se instaurava imediatamente após as suas pregações.

Definitivamente a Palavra de Deus não pode subir em um palanque, quanto mais tomar partido em eleições. Ela foi dada aos profetas para vigiar e denunciar tudo o que lá de cima está sendo prometido e não cumprido. Ela é o parâmetro que deve se manter fiel, porque é assim que a própria Bíblia a apresenta: não havendo profecia o povo se corrompe. (Pv 29-18)

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Profetismo, o bíblico e o atual II

A visão e Ezequiel, Rafael
Esses vídeos podem não nos dizer exatamente o que é a profecia, mas com muita clareza eles nos dizem o que ela não é. Eliminando de saída esta quiromancia digital travestida de profecia, vamos mergulhar fundo no tempo voltamos três mil anos no passado para analisar as suas raízes e propósitos iniciais.

Após tomar posse da Terra Prometida, os hebreus se organizaram em clãs autônomas, ligadas por leis consensuais e humanitárias, como também por uma religião que poderíamos chamar de monólatra. O
conceito de monolatria é diferente de monoteísmo, porque este último crê na existência de um único Deus, enquanto que a monolatria escolhe um para adorar em meio a um panteão. Curioso também é o fato de que esse Deus não possuía um único nome, era invocado segundo conceitos e regionalismos próprios do clã. Se para uns era El Shadday, o Deus Todo Poderoso, para outros era conhecido como El Elion, ou Deus das Alturas, isso apenas para exemplificar. Quando a liberdade desses clãs era ameaçada por povos vizinhos, Deus levantava juízes para livrá-los da escravidão, sendo assim, levantou Débora, Sansão, Gedeão, Otoniel e outros mais que lideraram o povo neste momentos de crise. Passada a crise, a vida voltava ao normal e os juízes às suas atividades comuns.

Mas o povo hebreu passou a invejar as nações vizinhas que tinham reis que dominavam sobre eles. Eles queriam ter um ídolo visível, alguém em quem se espelhassem e de quem se orgulhassem. Algo muito parecido acontece nas igrejas da periferia, cujo templo é a construção mais suntuosa do local, seu pastor tem o melhor carro e a mais bela casa. Eles queriam se projetar na figura de alguém que aparentemente lhes fosse superior. Apesar de todos os conselhos para desistirem da ideia, elegeram um rei pelos critérios da época. O mais alto, o mais forte, o mais bonito, esse serve para ser rei. Imediatamente após o povo eleger o seu primeiro rei, Deus levantou o seu primeiro profeta, como se estivesse dizendo: vocês querem ter um rei, pois terão também profetas. E assim nasce a profecia em Israel, muito mais para controlar os desmandos do rei, estabelecer limites ao seu poder e direcionar o seu governo. Estava estabelecida s oposição divina ao instrumento máximi de poder sobre o povo.

Apesar de possuírem uma percepção além do normal e enxergarem outras possibilidades, os profetas não escolheram seus destinos, e não consta que qualquer deles tenha ficado feliz ou orgulhoso pelo seu chamado, pelo contrário. Vieram das mais diversas classes sociais, alguns eram príncipes, outros sacerdotes e outros simples camponeses. Mesmo que tenham influenciado decisivamente a história de Israel, a Bíblia manteve silêncio sobre a vida pessoal deles todos, não revelando maiores detalhes da vida pregressa destes homens e mulheres. Isso apenas aumenta o mistério do por quê essas pessoas colocavam as suas vidas em risco para anunciar uma mensagem que apenas eles ouviam.  Impressionante também é o fato de que eram classes sociais diferentes e de várias regiões, mas indistintamente todos ouviram o mesmo chamado. Eles criam piamente que era Deus quem os inspirava a falar, mesmo que não tivessem qualquer garantia sobre este fato. Outra característica marcante era a sua excentricidade: Jeremias vagava pelas cidades com uma canga de bois nas costas, Oséias fez questão de querer de volta a ex mulher que já tinha se tornado prostituta, Ezequiel mais parecia um vidente alucinado do que propriamente um homem de Deus, e Isaías perambulou nu por três anos.

Samuel ao ungir o primeiro rei judeu assinalou o início de uma guerra declarada entre profetas e reis que duraria mais de cinco séculos, e é aqui que a história deste povo se divide em duas lideranças. Quando uma figura assume a liderança política, o rei, a outra assume a liderança espiritual, o profeta. Mesmo que inicialmente agissem como indivíduos, arrebanharam um sem número de seguidores próximos, estabelecendo através deles uma escola profética. É deste grupo que surge o primeiro profeta na concepção exata da palavra. Elias não somente é o primeiro profeta como também o primeiro a assumir os riscos do seu chamado. Juntamente com Eliseu forma a dupla de profetas que fará surgir a profecia regularmente instituída por aqueles que nos deixaram mais do que simples histórias a seu respeito, nos legaram a base moral de toda civilização ocidental, os profetas escritores. (continua)

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Profetismo, o bíblico e o atual I

Profeta Isaías, Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770)
Eu gostaria de tentar fazer uma sequência de reflexões sobre o profetismo, onde se originou, quais eram os preceitos que o levaram a ser criado e o que o fazia ser tão diferente da magia e dos encantamentos dos sacerdotes pagãos. Isso mesmo, precisamos tentar descobrir urgentemente porque todos os povos da antiguidade tinham cartomantes, quiromantes,
necromantes, adivinhos, agoureiros, videntes e prognosticadores e só Israel tinha profetas. Faz-se mais do que necessário entender este fenômeno único da história da humanidade e quais são os seus reflexos nos dias de hoje. Fundamentado nessas particularidades tentarei ao máximo fazer com que este ensaio não extrapole a proposta de uma análise franca e honesta deste fenômeno religioso, para que juntos cheguemos a um consenso do que realmente é a profecia e quais são as suas implicações e abrangências na nossa vida.

Antes de tudo, preciso que vocês assistam e reflitam sobre estes dois vídeos.


http://tvbrasil.ebc.com.br/reporterbrasil/video/32069/

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Agonia no Jardim

Agonia no Jardim, Rembrandt
 E, saindo, foi, como de costume, para o monte das Oliveiras; e os discípulos o acompanharam. Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação. Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. [Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em
agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.] Lc 22.39-44
Tendo Jesus dito estas palavras, saiu juntamente com seus discípulos para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim; e aí entrou com eles. E Judas, o traidor, também conhecia aquele lugar, porque Jesus ali estivera muitas vezes com seus discípulos. Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas. Jo 18.1-3

Este é o nome frequentemente dado aos momentos de angústia que antecederam a paixão e morte de Jesus no final do seu ministério terreno. É uma expressão bastante usada por teólogos, pregadores compositores e artistas plásticos ao longo da história da igreja. É também uma expressão de consenso porque as Escrituras nos abrem brechas que nos permitem, de uma forma bastante nebulosa, entrever este trecho em particular da vida de Jesus, também chamado o Cristo. Contudo, uma investigação mais acurada nos textos indicados acima, e que expõem mais intensamente este capítulo crucial do ministério de Jesus, vai revelar que eles não abordam o tema Jardim e agonia em conjunto. Ou seja, no texto que fala em Jardim não existe explicitamente a agonia, e no outro que fala sobre a agonia não se encontra a palavra Jardim.

Não estou fazendo este comentário para mostrar erros na Bíblia, mesmo porque não é a Bíblia que faz esta ligação, e sim aqueles que a leem como um texto monolítico, isento das características dos seus autores. Muito menos para criar mais polêmica sobre um assunto que já se mostrou tão complexo. Muito mais do que revirar picuinhas o interesse aqui é mostrar as diferentes visões que os evangelistas tiveram de uma mesma situação, diferenças estas que foram assinaladas pela época, pela finalidade e pela situação em que os textos de Lucas e João foram escritos. Sabe-se que os estudiosos concordam que o evangelho de Lucas foi escrito por volta do ano 80 de nossa era, enquanto que o de João pelo menos vinte anos mais tarde. Muito embora para a história como ciência este intervalo não seja tão relevante, os acontecimentos da época e os destinatários para quem foram escritos fizeram toda a diferença. Nunca podemos perder o foco da invasão de Jerusalém e da destruição do Templo que ocorreu no ano 70, o grande divisor de águas da história de Israel e consequentemente da história da igreja primitiva, cuja sede situava-se ali.

Por tudo isso, João e Lucas escreveram este dois textos que, com o tempo, nos acostumamos a fazer uma leitura sobreposta, como se um completasse as informações que faltam no outro. É bem certo que este tipo de abordagem não nos dá a dimensão exata da mensagem que os evangelistas individualmente quiseram transmitir. Para Lucas, este é o momento em que Jesus mostra toda a fragilidade da sua humanidade. Embora Jesus já tivesse passado por situações de perigo iminente, esta era a que se mostrou definitiva. É o momento em que Jesus está prostrado, e de joelhos na terra é encontrado pelos soldados que vieram prendê-lo. Jesus mostra-se completamente a mercê de Judas e de seus acusadores, e impotente declara ser aquela hora a hora dos poderosos e do poder do mal. Talvez fosse esse o retrato fiel da comunidade de fieis a Cristo assistida por Lucas. Uma comunidade perseguida, vendo seus membros serem torturados e mortos, sem poder para esboçar qualquer reação. Lucas de forma alguma poderia apresentar um Jesus diferente, pois se o Mestre não tivesse sofrido e se sujeitado passivamente ao poder do mal em favor do Reino de Deus, eles também não precisariam fazê-lo, e igreja sucumbiria ante a falsa ilusão de viver um evangelho sem agonias ou perseguições.  

João, por sua vez, mostra um Jesus no controle total da situação, que se declara de peito aberto ser ele mesmo o Messias, coisa que preservara oculta durante todo seu ministério. Sem demonstrar qualquer temor diante do perigo, não questiona a vontade de seu Pai, que estava sendo consumada naquele ato. Quando Jesus assim se apresenta tão seguro de si, quem cai na terra de joelhos não é ele, e sim os soldados que vieram prendê-lo. Desprovidos de qualquer poder ou autoridade sobre ele, recebem a ordem de deixar livres os discípulos. Com o transpor do primeiro século e o esfriamento da expectativa da sua volta pra breve, a igreja precisava realmente adquirir uma nova postura. Mesmo sob ameaça ela tinha que levar adiante o desafio da mensagem do evangelho, e isso só teria efeito se Jesus fosse mostrado como aquele que tem, apesar das circunstâncias insistirem em negar, a última palavra e a autoridade sobre todas as coisas.

Pode muito bem ser inspiradora e tocante a imagem de Jesus em agonia num belo e florido jardim. Logicamente que não sou eu quem vai tentar anular esta figura criada nas mentes mais brilhantes que a arte já concebeu. Mas é meu dever dizer que por trás do romantismo que a cena nos transporta, existe a realidade de que o evangelho tem que ser pregado com coragem e autoridade, porque somente desta forma saberemos o grau das aflições que certamente nos sobrevirão. 

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Nós e Nossas Orações (final)

Agonia no Jardim, Giovanni Bellini (1430-1516)
Tradução, feita por João Wesley Dornellas, em maio de 2005, do capítulo inicial do livro “The Plain Man´s Book of Prayers” (“Orações para o Homem Comum”).


O dia do fim de ano, pela manhã.
Ó Deus, nosso Pai, hoje recordamos como nos permitiste chegar a este momento, e te damos graças por todos os momentos transcorridos. Damos-te graça por todas as experiências porque passamos, pois
sabemos que nelas e por meio delas nos estiveste amando com teu amor eterno. Pela alegria e pela aflição; pela tristeza e o gozo; pelos sorrisos e pelas lágrimas; pelo silêncio e pela canção: nós te damos graças, ó Deus. Por guardar a nossa saída e a nossa entrada; por permitir-nos realizar nosso trabalho e ganhar a vida; por proteger-nos até este momento: Nós te damos graças, ó Deus. Por tudo de novo que aprendemos, e pelas novas experiências porque passamos; se pudemos fazer um pouco melhor o nosso trabalho, se conhecemos algo mais da vida. Pelos amigos que estão ainda mais unidos a nós, e pelos seres queridos que seja cada vez mais queridos: Nós te damos graças, ó Deus. E hoje, ao recordar os anos passados, te damos graças em especial por Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre. Ajuda-nos a seguir adiante seguros de que, assim como nos tens abençoado no passado, o futuro estará também para sempre em tuas mãos; por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

O dia do fim de ano, à noite.
Ó Deus, nosso Pai, nesta noite contemplamos este ano que está nos abandonando. Há muitas coisas pelas quais precisamos do teu perdão. Pelo tempo que temos perdido; pelas oportunidades que recusamos; pela ênfase que pusemos em coisas erradas; por todas as faltas que cometemos: Perdoa-nos, ó Deus. Há também tantas coisas pelas quais devemos dar-te graças. Pela saúde e o vigor; pela proteção  em tempo de perigo; pela cura em tempo de enfermidade; por teu amparo no dia da angústia; pela luz do dia e a orientação diária: Damos-te graças, ó Deus. Abençoa aqueles que tiveram um ano feliz e faze com que te agradeçam. Abençoa aqueles que tiveram um ano triste, e ajuda-os a olhar o futuro com olhos confiantes. E, por fim, ajuda-nos durante o ano que vai começar, para que o vivamos de modo tal que, ao concluí-lo, não só tenhamos um ano mais de vida mas que haja sido um ano mais perto de ti. Isto pedimos por teu amor. Amém.

No primeiro dia do ano, pela manhã
Eterno e sempre bendito Deus, que renovas todas as coisas, nós te damos graças por hoje nos permites iniciar um ano novo. Aqui em tua presença, faremos nossas resoluções para os dias futuros.
Resolvemos ser fiéis e verdadeiros para com todos aqueles que nos amam e leais com nossos amigos, de maneira que nunca levemos preocupações a suas mentes nem tristeza a seus corações.
Resolvemos viverem no perdão e na bondade para que, como nosso Mestre, possamos fazer sempre o bem.
Resolvemos viver em diligência e esforço, para que possamos usar plenamente os dons e talentos que nos tens dado.
Resolvemos viver em bondade e pureza, para que possamos resistir à tentação e, também, ser fortaleza para outros que são tentados.
Resolvemos viver em simpatia e gentileza, para que possamos levar consolo aos tristes e entendimento aos que estão confusos.
Resolvemos viver em calma e autocontrole, para que nenhum aborrecimento nem paixão possam turbar nossa própria paz e a dos demais.
Resolvemos viver em plena obediência e em perfeito amor a ti, para que, fazendo a tua vontade, encontremos nossa paz.
Ó Deus, nosso Pai, que nos deste graça para tomar estas resoluções, concede-nos também força para cumpri-las durante o decorrer deste ano. Por Jesus Cristo,m nosso Senhor. Amém.

No primeiro dia do ano, à noite
Ó Deus, nosso Pai, temos chegado ao fim deste primeiro dia do ano. Ajuda-nos a não esquecer nunca de quão rápido transcorre o tempo e a utilizar cada instante da melhor maneira possível. Ajuda-nos a recordar que as oportunidades que surgem não se repetem com frequência, de maneira tal que saibamos aproveitá-las tão logo se nos apresentem. Ajuda-nos a recordar que não sabemos quando se concluirá o nosso tempo e, assim, faze com que em todo momento tenhamos tudo preparado para o encontro contigo.
Ó Deus, nosso Pai, no final deste primeiro dia do ano, já ficou demonstrado o quanto é difícil guardar as resoluções que tomamos. Ajuda-nos a recordar que sem ti nada podemos fazer, de modo que estejamos assim sempre contigo, para que em tua protetora presença nossa vida esteja a salvo do pecado. Pedimos isto por teu amor. Amém.

Em tempo de angústia
Ó Deus, nosso Pai, nós sabemos que te afliges quando estamos angustiados; e em nossa tristeza vimos hoje a Ti para que nos dês o consolo que só tu podes dar. Dá-nos a segurança de que, em perfeita sabedoria, em perfeito amor e em perfeito poder, tu ages sempre para o nosso sumo bem. Dá-nos a certeza a certeza de que a mão de um Pai nunca fará brotar uma lágrima inútil em seu filho. Faze-nos seguros de que teu amor aceitará mesmo aquilo que não chegamos a compreender. Ajuda-nos hoje a não pensar nas trevas da morte mas sim no esplendor da vida eterna, para sempre na tua presença e em Ti. Ajuda-nos também a encarar a vida com graça e coragem; e a achar valor para recordar sempre que o melhor tributo que podemos render a um ser querido não é o das lágrimas mas o fato de que alguém mais se agregou a nuvem invisível de testemunhos que nos rodeia. Consola-nos e sustem-nos, fortalece-nos e protege-nos, até que nós também cheguemos às verdes pastagens e às águas tranquilas e voltemos a nos encontrar com aqueles a quem amamos e que perdemos por algum tempo. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Em tempos de decisão
Ó Deus, tu sabes que devo tomar hoje uma decisão que afetará minha vida toda. Ajuda-me a escolher o caminho correto. Concede-me tua orientação e, com ela, a humilde obediência para aceitá-la. Ajuda-me a não escolher aquilo que eu quero mas a fazer aquilo que tua vontade deseja para mim. Que eu não me deixe vencer pelo temor ou pela esperança de ganhar, pelo amor egoísta ao que é fácil e cômodo, por ambições pessoais, pelo desejo de fugir ou pela busca de prestígio. Ajuda-me hoje a dizer-te em profunda obediência: “Senhor, que queres que eu faça?” e a esperar logo tua orientação e aceitá-la. Escuta esta minha prece e faze-me chegar uma resposta tão clara que eu não possa equivocar-me. Isto te peço por teu amor. Amém.

Em horas de tentação
Senhor Jesus, tu sabes o que significa ser tentado. Sabes o quanto me fascinam as coisas más e quanto me atrai o que é proibido. 
Senhor Jesus, ajuda-me a não cair.
Ajuda-me a lembrar sempre o respeito que me devo a mim mesmo e que eu não posso fazer coisa assim.
Ajuda-me a pensar nos que me amam e a saber que não devo causar-lhes desilusão ou pesar.
Ajuda-me a recordar a invisível nuvem de testemunhos que me rodeia e a saber que não devo entristecer aos que já se foram mas que continuam estando para sempre junto a mim.
Ajuda-me a recordar tua presença e a achar nela segurança. Isto eu peço por teu amor. Amém.

Ao haver cometido uma falta e caído em tentação
Ó Deus, meu Pai, tu sabes que hoje caí em tentação e agi mal. Trouxe vergonha a minha pessoa, angústia aos que me amam e dor a Ti. Ó Deus, em tua misericórdia, perdoa-me por Jesus. Ajuda-me a ter suficiente valor não só para confessar o meu pecado e pedir-te perdão, mas para pedi-lo também a quem ofendi, maltratei ou injuriei. E para fazer tudo o que estiver ao meu alcance a fim de consertar as coisas. Livra-me de angustiar-me demasiado, de ter remorsos demasiados e ajuda-me a corrigir o erro e o mal que fiz. No futuro, ajuda-me a não voltar a fazê-lo e dá-me uma consciência pronta e sensível e, ainda, graça para obedecê-la sempre. Ajuda-me a andar com Jesus e, em sua companhia, estar a salvo do pecado e poder fazer só o bem. Isto eu lhe peço por teu amor. Amém.

Na ocasião de uma notícia má
Ó Deus, nosso Pai, ainda que nos sobrevenha uma desgraça, concede-nos firmeza e concede-nos que a enfrentemos com serenidade. Ajuda-nos a ter a certeza de que nunca seremos provados além do que podemos resistir. Dá-nos a segurança de que a tua graça nos basta para que a nossa fraqueza enfrente sem medo qualquer obstáculo que se nos oponha. Dá-nos a confiança de que no vale das sombras escuras tu estarás presente para consolar-nos e proteger-nos; e que, quando tivermos que atravessar o rio, tu estarás conosco para nos sustentar e levar-nos à outra margem.Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Por ocasião de uma boa notícia
Ó Deus meu pai, que me proporcionaste a vida, te dou graças hoje pela boa notícia que recebi. Eu rendo graças porque me fizeste triunfar; porque minha esperança se cumpriu, meu sonho transformou-se em realidade e meu desejo se viu satisfeito. Livra-me hoje e no futuro de todo orgulho e vanglória. Ajuda-me a recordar que sem Ti nada posso fazer. E guarda-me assim, ao longo dos meus dias, em humildade e gratidão a Ti; por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém

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Nós e Nossas Orações VI

Dia dos animais, José Assunção (1911-?)
Tradução, feita por João Wesley Dornellas, em maio de 2005, do capítulo inicial do livro “The Plain Man´s Book of Prayers” (“Orações para o Homem Comum”).

Orações para o Homem Comum
2º dia, pela manhã:
Ó Deus, nosso Pai, abençoa-nos e cuida de nós durante o curso
deste dia. Em nossas tarefas, fazemos diligentes, de modo que nos apresentemos sempre como obreiros que não precisam ser repreendidos. Em nossa hora de lazer, ajuda-nos a encontrar prazer só naquilo que depois não nos cause remorso. Em nossos lares, faze-nos bondosos e considerados, tratando sempre de facilitar os demais em suas tarefas e não tornando-as motivo de angústia. No trato com os semelhantes, faze-nos corteses e benevolentes. Em nossa atitude para conosco mesmos, faze-nos honestos ao enfrentar a verdade. E a cada instante deste dia, faze com que recordemos que tu, ó Deus, nos vês e que em Ti vivemos e nos movemos. Assim, concede-nos que não façamos nada pelo que nos sintamos envergonhados conosco mesmos ou doloridos com os que nos amam. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, Amém.

2º dia, à noite:
Ó Deus, nosso Pai, que nos exortas a orar por todos os homens, ao anoitecer recordamos em especial aqueles que necessitam de nossas orações. Abençoa os que estão sós e cuja solidão se faz sentir ainda mais ao anoitecer. Abençoa os que estão tristes pois, ao chegar a noite, eles sentem ainda mais a ausência de um ser querido a quem perderam há pouco tempo. Abençoa os enfermos que não poderão dormir esta noite e aqueles que se levantarão para aliviar a dor do que sofre. Abençoa os que não têm lar e que carecem de uma família que possam considerar sua.

Ó Deus, que estás em todas as partes, abençoa este nosso lar. E faze com que recordemos que Jesus é sempre nosso hóspede invisível, ajudando-nos, assim, que aqui jamais façamos ou falemos aquilo que lhe causaria tristeza ouvir. Cuida de nós durante a noite escura e dá-nos um descanso aprazível. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, Amém.

20º dia, pela manhã:
Ó Deus, nosso Pai, que nos deste o descanso noturno e que agora nos envias ao nosso trabalho de todo o dia, guia-nos e dirige-nos no decorrer deste dia. Ajuda-nos a trabalhar corretamente para que façamos tão bem nossas tarefas que poderíamos colocá-las diante de Ti. Ajuda-nos a falar corretamente e livra-nos de expressar-nos com leviandade ou de guardar silêncio covarde. Ajuda-nos a pensar corretamente e a cuidar tão bem de nossa mente e do nosso coração para que nenhum pensamento mau ou rancoroso tenha acesso a eles.
Ajuda-nos a viver como corresponde àqueles que começam o dia em Ti e que querem viver cada instante em tua presença. Concede que hoje nossas vidas possam resplandecer como luzes de amor e de bondade no mundo, a fim de honremos o nosso nome e ao Mestre, de quem somos e a quem queremos servir. Pedimos por teu amor, Amém.

20º dia, à noite
Ó Deus, nosso Pai, te damos graças pelo dia de hoje. Damos-te graças por nos haveres dado fortaleza e saúde do corpo e da mente para realizar nosso labor e assim ganharmos a vida. Damos-te graças por nossos entes queridos e por todos nossos companheiros e amigos sem os quais a vida nunca poderia ser a mesma.

Ó Deus, nosso Pai, nós te pedimos perdão por este dia. Perdoa-nos se fizemos mal o nosso trabalho e não como poderíamos tê-lo feito. Perdoa-nos se falhamos com um amigo ou entristecemos e contrariamos a quem nos ama. E agora, ao descansar, dá-nos a paz daqueles que têm depositado todas as suas cargas em Ti, e que sabem que seu tempo sempre se acha em sua mão. É no teu amor que pedimos. Amém.

26º dia, pela manhã
Ó Deus, nosso Pai, concede-nos tua bênção ao começarmos este dia. Concede que nossos lábios falem a verdade e que, sempre, falem em amor. Concede-nos mentes que busquem a verdade e que possamos assumi-la, mesmo quando ela nos cause aflição e nos condene; e que nunca fechemos nossos olhos ao que não queremos ver. Concede-nos mãos que trabalhem com dedicação e que tenham tempo para ajudar o outro em sua tarefa. Concede-nos que façamos da resolução um princípio porém livra-nos da teimosia e de querermos transformar as trivialidades em leis. Concede-nos graça para vencer as tentações e viver em pureza mas livra-nos da autojustificação que menospreza aqueles que porventura tenham caído no caminho. No curso deste dia dá-nos a fortaleza e a mansidão de nosso bendito Senhor. Isto te pedimos por teu amor. Amém.

26º dia, à noite
Ó Deus, nosso Pai, hoje houve coisas cuja simples recordação nos faz sentir envergonhados. Perdoa-nos se perdemos a calma com aqueles que nos fizeram ficar nervosos. Perdoa-nos se fomos rudes e ficamos irritados com aqueles que estão mais perto de nós e a quem mais queremos. Perdoa-nos se alguma vez fomos descorteses e desconsiderados com aqueles com quem estivemos em contato no nosso trabalho. Perdoa-nos se, impensada ou deliberadamente , ferimos os sentimentos de outra pessoa.

Ó Deus, nosso Pai, hoje também houve coisas que nos causam alegria ao recordar. Damos-te graças
pelo encanto das coisas que vimos, pelas coisas sábias que ouvimos e por todo o bem que pudemos fazer. Damos-te graças pelo tempo que passamos junto de nossos amigos e companheiros e com aqueles a quem amamos. Ó Deus, nosso Pai, antes de irmos a dormir, aceita nossa contrição por nossos pecados e nossa gratidão pelos dons do teu amor. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

2º domingo, pela manhã
Ó Deus, nosso Pai, nós te damos graças por este teu dia. Damos-te graças por este dia de repouso em que deixamos de lado nossos trabalhos cotidianos para dar descanso a nossos corpos, para refrescar as nossas mentes e para fortalecer os nossos espíritos. Nós te damos graças por este dia de culto em que deixamos de lado nossos cuidados e ansiedades para concentrar nossos pensamentos somente em Ti. Damos-te graças por tua Igreja. Damos-te graças pela comunhão que nela desfrutamos, pelo ensino que recebemos e pelas orientações que recebemos para nossa vida. Damos-te graças pela leitura de tua Palavra, pela pregação da tua verdade, pelos cânticos em teu louvor, pelas orações do teu povo e pelos sacramentos de tua graça. Concede-nos que neste dia recebamos tamanha força e guia que possamos andar contigo sempre e não te apartes de nós durante os dias que nos aguardam nesta semana. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

2º domingo, à noite
Ó Deus, nosso Pai, nós te damos graças por este dia que agora chega ao fim. Damos-te graças pelas horas que passamos entre as paredes deste lugar que chamamos lar. Damos-te graças pelo tempo transcorrido em comunhão com nossos companheiros e amigos. Damos-te graças pelas horas que passamos na companhia de nossos seres queridos. Damos-te graças também pelas horas transcorridas na igreja na comunhão de teu povo em adoração. Agradecemos por toda a verdade que ouvimos, pela orientação que recebemos e por todos os novos sinais de teu amor que presenciamos. Concede, ó Deus, que quando voltarmos amanhã a nossas tarefas e aos caminhos do mundo, possamos utilizar para tua glória tudo aquilo que recebemos de sua graça. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Domingo de Páscoa, pela manhã
Ó Senhor Jesus Cristo, que neste dia venceste a morte. ressuscitando de entre os mortos, e que vives eternamente, ajuda-nos a não esquecer jamais que tua presença ressuscitada se acha para sempre conosco.
Ajuda-nos a recordar,
que tu estás conosco em todos os momentos de confusão para nos guiar e nos dirigir;
que estás conosco em todos os momentos de tristeza para nos animar e nos consolar;
que estás conosco em todos os momentos de tentação para nos fortalecer e nos inspirar;
que estás conosco em todos os momentos de solidão para nos consolar e nos amparar;
que estás conosco até em nossa morte para nos levar à glória.
Dá-nos a certeza de que nada, nem aqui nem na eternidade, poderá separar-nos de Ti, de modo que em tua presença possamos encarar a vida com galhardia e a morte sem temor. Isto te pedimos por teu amor. Amém.

Domingo de Páscoa, à noite
Ó Senhor Jesus Cristo, perdoa-nos pelas vezes que temos nos esquecido que tua presença ressuscitada está para sempre conosco. Perdoa-nos pelas vezes que fracassamos em alguma tarefa por não pedir-te ajuda. Perdoa-nos pelas vezes que caímos em tentação por tratar de enfrentá-las sozinhos. Perdoa-nos pelas vezes que estivemos atemorizados pensando que estávamos sozinhos na escuridão. 
Perdoa-nos pelas vezes que caímos em desespero por querer lutar só com nossos próprias forças.
Perdoa-nos pelas vezes que dissemos e fizemos coisas das quais agora nos sentimos envergonhados ao nos lembrar que tu as viste e as ouviste.
Perdoa-nos pelas vezes que a morte nos pareceu tão terrível e a perda de seres queridos irreparável, porque nos esquecemos que tu venceste a morte.
Faze, Senhor, que nesta noite te ouçamos dizer outra vez: “Eu estarei aqui convosco até o fim do mundo” e que nessa promessa encontremos valor e forças para enfrentar tudo sem esmorecer.
Nós te pedimos por teu amor. Amém.

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