![]() |
Sermão da Montanha, Ferenczy Károly em 1896 |
O que é BEM-AVENTURADO?
|
Marcadores:
... na Bíblia
Read User's Comments(0)
Deus não é um patrão arrogante
|
Marcadores:
Voz do pastor
SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma. Leia Salmos 131
![]() |
Um apóstolo, Jacob Jordaens em 1623 |
Vejo o filósofo Roger Garaudy como um símbolo de busca e de mudança. Depois de ser durante anos secretário executivo do Partido Comunista francês, torna-se cristão e, mais tarde, muçulmano. Garaudy pode ser visto como o resultado de uma curiosa, mas compreensível síntese de Marx, Cristo e Maomé. Pois bem, para Roger Garaudy, colocar uma coroa na cabeça de Jesus não tem base no Evangelho. O Cristo seria rei apenas em sentido simbólico e final. Sua realeza se encontra no fato de que ele se faz servo de todos, como vemos no lava-pés e na morte de cruz.
Neste pequeno salmo de Davi, o rei confessa que não é soberbo nem está procurando grandes coisas. Pelo contrário. O salmista se vê como uma criança dependente nos braços da mãe. Suas palavras me lembram um episódio ligado a Albert Schweitzer, teólogo e filósofo, o maior intérprete de Bach, e médico. O gênio se fez, movimentado por amor e compaixão, missionário para servir os leprosos de Lambarene, na África. Um dia, quando desembarcava material pesado para o seu hospital, pediu auxílio a um nativo e recebeu uma categórica negativa, seguida da justificação: não posso fazer esse tipo de trabalho, porque sou um intelectual. O genial Schweitzer apenas retrucou em um tom conciliador: eu também quis ser intelectual e não consegui...
Admiro a corajosa e inovadora filosofia de Nietzsche, mas discordo quando ele diz que o cristianismo preconiza uma verdadeira moral de escravos. O filósofo alemão, em seu livro Assim falou Zaratustra, conta uma parábola sobre mudanças e metamorfoses: o espírito carrega pesados fardos, como o camelo; quer conquistar a liberdade, como o leão; e tem, como criança, a possibilidade de um novo começo.
Davi passou, em sua vida, por essas mudanças. Fez, como o camelo, trabalhos pesados e sacrificiais. Lutou com a bravura do leão, pela sua liberdade pessoal e pela libertação do seu povo. E aqui, neste poema marcado por uma comovente humildade, ele mesmo se compara a uma criança desmamada, calma e aquietada nos braços de sua mãe. Na retomada de tudo, o salmista quer apenas paz para Israel. Despojado como uma criança poderá servir melhor ao seu povo. Este não é o resumo da vida de Jesus, o menino eterno? O Cristo do lava-pés?
Com o espírito do presente salmo, experimente fazer esta oração:
Jesus, o teu desafio
é a vida de compaixão.
Quero ter teus olhos ternos,
tua boca abençoada,
mãos prontas para servir;
quero ter teu coração.
Ajuda-me, bom Jesus,
a tornar-me como és:
não fugir dos sacrifícios,
perdoar a cada irmão,
despojar-me do egoísmo
e viver teu lava-pés.
Repita novamente, com a força do coração, essa prece final.
Beatificação ou humilhação?
|
Marcadores:
Comportamento e fé
O SENHOR Deus diz: “Aqui está o meu servo, a quem eu fortaleço, o meu escolhido, que dá muita alegria ao meu coração. Pus nele o meu Espírito, e ele anunciará a minha vontade a todos os povos. Isaías 42.1
![]() |
Cristo carregando a cruz, Giovan Battista Tiepolo em 1737 |
Alguns bons motivos me ocorrem nessa hora. Seriam eles menos consagrados dos que os homens e mulheres que nasceram durante ou depois do nascimento de Jesus Cristo? Teriam estado sob a direção de Deus com menos rigor do que os apóstolos? Seus martírios e perseguições aconteceram em menor grau de intensidade do que o que foi imposto aos santos e santas venerados por grande parte da igreja cristã em todo o mundo? Teriam realizado a vontade de Deus pela metade?
A parábola do semeador também pode nos oferecer alternativas que corroboram com esta distinção. Os homens e mulheres do passado distante foram as sementes citadas por Jesus, que caíram na beira da estrada, entre os pedregulhos e as que foram sufocadas pelos espinhos. Somente dos cristãos autênticos se pode dizer que são sementes que caíram em terra fértil.
De uma coisa eu tenho certeza absoluta: nenhum desses santos ou santas reconhecidos pela igreja endossaria ou permitiria qualquer movimento em prol da sua beatificação. Tenho sérias razões para acreditar que todos esses que foram considerados santos após o início desse processo formal declaram, assim como fez o Papa João Paulo II, a reprovação incontestável da indicação do seu nome a esta consagração. Mesmo porque, aqueles que o fizessem já não seriam merecedores dessa distinção.
O Primeiro Testamento tinha também seus heróis. Consideravam em alta referência da mesma forma os homens e mulheres que foram grandemente usados por Deus no seu tempo. Reconheceram que era o Espírito de Deus quem os guiava e que era em seu nome que estas pessoas se pronunciavam. Mas nunca sentiram a necessidade de fazer deles pessoas diferenciadas ou que merecessem qualquer veneração ou superestima. Pelo contrário. Essas pessoas eram as mais vigiadas, foram as que tiveram as suas vidas mais expostas e as mazelas mais conhecidas. Parece que o Primeiro Testamento em vez de instaurar um processo de beatificação empenhava-se em fazer uma varredura na vida pregressa do pretenso enviado de Deus, para que uma vez atestada a sua humanidade, a sua atitude ou mensagem fosse reconhecida como autenticamente divina.
Hoje em dia se faz diferente. Quando morre uma pessoa que se destacou na vida cristã investiga-se o que ela contribuiu positivamente com o evangelho, para que seu nome seja exaltado acima dos demais mortais.
O quadro de Jesus III
|
Marcadores:
Ministério de Jesus
![]() |
Jesus cura o cego, Carlos Araujo (1950-) |
De fato, não é nada producente dizer que Jesus salva e que Jesus cura se não colocarmos um conteúdo consistente nessa frase. Aceitar o que o professor disse foi só o primeiro passo, mas levou anos para entender o que ele quis dizer. Nós temos que expor em termos concretos o que significa Jesus Cristo salva. Jesus Cristo nos salva do quê? Ele nos cura do quê? Esse é um problema da nossa existência: ele nos salva de que jeito? Somos realmente curados? Temos experimentado a salvação? Temos crido nas forças que curam? Temos recebido o poder de Jesus, o Salvador? Temos sido tomados por esse poder? Realmente Jesus Cristo é suficientemente poderoso para superar as nossas tendências neuróticas e neutralizar a rebelião da nossa subconsciência?
Sabemos que Jesus salva, mas diante dessa certeza temos experimentado os momentos em que a graça divina supera a ansiedade e o desassossego da nossa natureza humana quando eles mais nos castigam? Como tem sido os nossos momentos em que a graça de Deus conquista esses desejos desenfreados e as depressões escondidas que sempre se voltam contra nós sob a forma de ódio e hostilidade contra tudo e todos, inclusive contra nós mesmos. De que forma aceitamos e recebemos a cura do nosso desejo secreto de morrer? Mais importante que tudo isso: temos reconhecido os momentos em que a graça de Deus nos faz novas criaturas?
É isso que significa que Jesus Cristo salva, e é esse o problema de cada cristão no mundo seja em que época for: entender o que é ser curado, aceitar que Jesus salva e ser completamente tomado por essa salvação. Tudo isso debaixo de uma única e impreterível condição: da maneira como somos e do jeito em que nos encontramos aqui e agora.
O quadro de Jesus II
|
Marcadores:
Ministério de Jesus
![]() |
Cristo cura um cego, el Grego em 1570 |
O povo que Jesus pôde curar naqueles dias e o povo que Jesus pode curar hoje é o mesmo que fez e que faz hoje essa entrega de si mesmo ao poder curativo de Jesus Cristo. Eles entregaram a si mesmos como eles estavam: pessoas divididas em si mesmas, pessoas se contradizendo a si mesmas, pessoas repugnando e desprezando a si mesmas. As pessoas que Jesus curou e as pessoas que Jesus pode curar hoje são exatamente aquelas que podem entregar-se a si mesmas como estão: amedrontadas, sobrecarregadas de culpa, acusando outras ao mesmo tempo se justificando, fugindo das outras para a solidão, fugindo de si mesmas para a depressão e pessoas tentando escapar para a segurança ilusória da enfermidade mental. Essa entrega nós chamamos de fé.
Podemos nós ainda experimentar esse mesmo poder? Podemos nós ter essa mesma fé? Eu penso que o que nos tem prejudicado hoje são as histórias de milagre que os evangelhos nos trazem. Não sabemos o que fazer com elas, pois elas parecem ser tão estranhas e tão diferentes da nossa realidade. Em vez de nos fazer ter mais fé crer mais no poder de cura de Jesus Cristo, elas nos fazem ficar mais distante. Justamente por isso precisamos redescobrir o que o Segundo Testamento sempre soube: os milagres são sinais apontando a presença do poder divino na natureza e na história. Sendo assim, os milagres não são uma negação das leis naturais, como temos pensado, crido e ensinado aos outros. Através dos olhos da nossa natureza pecaminosa nós só desejamos ver o espetacular, nós queremos ver o inusitado, o que ninguém jamais viu, e isso sim é contra as leis fundamentais da natureza. Nós ficamos tão ansiosos pelo ineditismo que caímos na tentação de desconsiderar os milagres do evangelho, quando na verdade a fé é ver os sinais que Deus tem deixado, e que apontam a presença dele na natureza e na história.
Como é difícil para nós entender essa verdade! Como nos custa acreditar que somos vítimas constantes da superstição e da magia. São raros entre nós aqueles que não ficam doidos, a palavra é essa mesma, doidos para saber o que o futuro vai trazer. São raros os que entre nós não consultam os discípulos do Omar Cardoso antes de por os pés fora da cama. Eu vou ter um bom dia? Eu vou fazer um bom negócio? Eu vou conhecer o amor da minha vida? Pouca gente sabe que a pior coisa do mundo é conhecer o futuro. Se eu soubesse que amanhã teria insônia, já ficaria sem dormir desde hoje.
Somos totalmente atraídos por tudo que misterioso e mágico, e é por isso que nos deixamos enganar por aqueles que exploram a fé com fins comerciais e egoístas. Não estou negando que os abusos da fé ocorrem, mas eles só ocorrem quando o uso correto da fé é negado, quando a fé se torna fraca. Não tenho tanta preocupação com isso, porque tenho total convicção de que a boa teologia e a boa prática da fé acabam os abusos e superstições. Por isso vamos deixar penetrar em nossas mentes a seguinte verdade: os milagres não são uma negação das leis naturais, eles são sinais de que Deus continua agindo hoje como agiu antigamente. O problema é ter fé para descobrir esses sinais no contexto pecaminoso, iníquo e injusto em que vivemos. Onde está o Reino de Deus nesse mundo em que todos tentam tirar para si o máximo proveito de tudo e de todos? Como perceber o milagre da presença de Deus em uma humanidade contaminada como a nossa?
O problema maior é o da nossa própria existência: somos curados? Somos curados mesmo? Somos salvos? (continua)
O quadro de Jesus I
|
Marcadores:
Ministério de Jesus
Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades; quem sara todas as tuas enfermidades; quem da cova redime a tua vida. Salmos 103.2ss
![]() |
O gadareno, Braulio Barquero (1980-) |
Olhando para o evangelho de Mateus nós achamos a resposta. Se olharmos para o evangelho todo veremos que este evangelista usou uma cor predominante e viva. Ele deu a Jesus uma expressão forte e um traço de grande intensidade. São Mateus pintou o quadro de Jesus como sendo aquele que cura. O Salvador é aquele que cura. Jesus Cristo é aquele que cura. É surpreendente como essa cor forte que revela a expressão viva da sua natureza tem se desvanecido em nosso tempo. Que perda hein? Justamente hoje quando mais precisamos ser curados perdemos a visão daquele que pode nos curar. Por quê? Por que temos desconsiderado aquilo que mais precisamos?
Certamente os evangelhos não são os culpados. Eles estão repletos de histórias de cura. Então, os culpados somos nós, sou eu. Quando eu prego um sermão sobre cura, o faço com medo, porque esse é um assunto tão explorado e tão abusado em nossos dias que acabo achando que é melhor nem tocar no assunto. Os pastores, os teólogos e os leigos são culpados porque se esqueceram de que a palavra Salvador significa aquele que cura. Nós temos nos esquecido de que a palavra Salvador significa aquele torna a unir aquilo que está quebrado, tanto no corpo quanto na mente. Salvação é a cura. Jesus Cristo é o Salvador que cura. Este é quadro pintado por Mateus.
A mulher que tinha hemorragia encontrou Jesus e voltou para casa curada e limpa. O endemoninhado encontrou Jesus e foi libertado da sua divisão mental. Aqueles que estão quebrados e divididos são curados, e essa é a verdade porque o Reino de Deus tem chegado a nós. Essa é resposta que Jesus deu aos fariseus quando eles duvidaram do seu poder de curar. Foi também a resposta que deu a João Batista para ajudá-lo em sua dúvida: Mt 11.4ss - Jesus respondeu: — Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo. Digam a ele que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e os pobres recebem o evangelho. E felizes são aqueles que não abandonam a sua fé em mim! A natureza do Reino de Deus é curar aquilo que está doente. Salvar fazendo sadio aquilo que está quebrantado.
As história e cura que os evangelhos nos contam não são histórias de um passado em que os milagres aconteciam. Elas estão nos evangelhos porque são histórias de cura para nós hoje. Essas histórias não somente mostram a condição humana, que é a mesma desde sempre, mas nos mostram também a atitude que faz possível a cura, e essa atitude é o que chamamos de fé.
Fé não significa a crença naquilo para que não há evidência. A fé nunca poderia significar isso numa religião autêntica, porque ela não prega uma fé cega. A fé significa ser agarrado por um poder maior do que nós. A fé significa ser alcançado por um poder que nos tira da letargia doentia, nos transforma e nos cura. Render-se a esse poder é ter fé. (continua)
Implicações do sofrimento II
|
Marcadores:
Comportamento e fé
![]() |
Tapeçaria com a Paixão de Cristo, entre 1470 e 1490 |
O escritor de Hebreus em 2.28, 9.26 e 13.12, como também em l Pedro 2.21 e 4.1 se servem do verbo náoxsiv quando fazem referência ao fim da vida de Jesus, em oposição a João que usa o verbo ànoOvrioxeiv. Contudo, ambos os verbos referem-se mais à morte de Jesus do que propriamente à paixão que a precedeu, a qual, no restante da Bíblia nunca é isolada da morte do Senhor, como vemos em Mk 8.31, que diz: Então, começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse. Vemos também que os Pais Apostólicos continuaram fiéis a esse modo de falar: Crucifixus etiam pro nobis sub Pontio Pilato, passus et sepultus est (foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morto e sepultado).
O sofrimento na vida do cristão deve ser sempre olhado através desse prisma. Na perspectiva de Jesus, particularmente nas narrativas sobre a vida dos discípulos há como um caminho cheio de sofrimentos: John 15.20 - Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Jesus, porém, nunca usa o verbo náauy, como faz o Segundo Testamento em outros textos, como em Ap 2.10: Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.Segundo Paulo, a vida do cristão é uma tensão entre dois polos: morrer e viver com Cristo. O sofrimento não é privilégio do apóstolo ou de determinados cristãos, mas pertence à própria essência da vida cristã; é uma grande graça, superior até mesmo à própria graça da fé: Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele. Por isso que Paulo, sem medo de se enganar, ousa predizer provações às suas comunidades cristãs. Para ele o sofrimento não é uma coisa que o cristão sofre passivamente, mas antes uma luta ativa, viril, pela causa de Cristo. Por isso este apóstolo não se envergonha dos seus sofrimentos e, longe de ver seu ministério desanimar, ele vê nas suas muitas privações e provações e nas perseguições contra os cristãos, um motivo de alegria, uma fonte de consolação, um autêntico sinal de salvação e um penhor no juízo de Deus: E que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus.
Tudo o que o cristão tiver de sofrer neste mundo, não é nada em comparação com a glória vindoura, pois o próprio Cristo entrou na sua glória através de seu sofrimento. Ideias análogas são elaboradas mais profundamente na primeira carta de Pedro, cujo autor se apresenta como “testemunha da paixão de Cristo”: Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada.
A carta aos Hebreus diz textualmente que o maior auxilio para o cristão nos seus sofrimentos é o exemplo de Cristo. Jesus é nosso modelo, e é assim que os cristãos participam do sofrimento de Cristo: 3.14 - Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. Paulo relaciona a sua doutrina sobre o sofrimento do cristão, mais particularmente dos apóstolos, diretamente com a sua doutrina sobre o corpo místico. Ensina que o seu sofrimento e o dos demais apóstolos, por causa da sua união com o sofrimento de Cristo, é uma bênção para os membros do corpo místico. Em alguns textos, porém, ele exprime esse pensamento de forma vaga e sucinta demais para mostrar de modo absolutamente inequívoco todo o alcance da sua doutrina. Mas ele abre a segunda carta aos Coríntios com o firme propósito de incutir na mente daqueles que foram por ele evangelizados que o caminho estreito que Jesus anunciara, mais do que por privação de alimentos ou por regras de conduta moral passa pelo sofrimento: Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo. Mas, se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação; se somos confortados, é também para o vosso conforto, o qual se torna eficaz, suportando vós com paciência os mesmos sofrimentos que nós também padecemos.
Implicações do sofrimento I
|
Marcadores:
Comportamento e fé
![]() |
Jó e seus amigos, Ilya Repin em 1869 |
O sofrimento, portanto, não é visto como uma espécie de fado, ao qual o homem nunca conseguiu subtrair-se, mas como uma situação de desordem originada pelo pecado. Por causa desta relação entre o sofrimento e o pecado constata-se no Primeiro Testamento uma tendência para interpretar todo o sofrimento, inclusive o do justo, como um castigo pelo pecado dos pais ou dos antepassados. O princípio da retribuição nesta terra e da sanção coletiva, o que chamamos de Pecado original, ou de faltas pessoais, mesmo escondidas. O caráter incompleto e unilateral deste modo de ver foi compreendido aos poucos, mas, em consequência das imperfeições da escatologia, o Primeiro Testamento nunca chegou a uma solução satisfatória.
Durante longos séculos Israel teve que lutar contra este problema; não se esquivou diante da questão, mas aceitou não saber dar uma solução racionalmente satisfatória e, fortificado pela fé, inclinou a cabeça ante a sabedoria imperscrutável e o poder de Deus. A pregação profética, que salientou os elementos éticos na doutrina do Primeiro Testamento sobre a expiação, deu aos fiéis em Israel também alguma compreensão da obra de Deus na história e o fez aceitar as calamidades, que vinham sobre o povo, como um juízo de Deus, um juízo que os conservava, purificava e renovava.
Assim o sofrimento que o justo partilhava como membro do povo de Deus podia ser sentido como uma penitência imposta por Deus, e necessária para que não perecesse o povo todo. Essas ideias formam também a base da historiografia dos autores deuteronomistas. Elas estão relacionadas com a esfera jurídica e com concepções pedagógicas: a dor é um elemento necessário na educação. Manifestam-se também na visão nova de Is 53 que aponta o sofrimento inocente do Servo de Javé como o único meio de expiação para a culpa do mundo. Na teologia judaica posterior a doutrina que interpreta o sofrimento como expiação ou penitência, exprime-se de muitas maneiras, sendo aplicada também ao cativeiro do próprio povo judaico.
Assim o sofrimento que o justo partilhava como membro do povo de Deus podia ser sentido como uma penitência imposta por Deus, e necessária para que não perecesse o povo todo. Essas ideias formam também a base da historiografia dos autores deuteronomistas. Elas estão relacionadas com a esfera jurídica e com concepções pedagógicas: a dor é um elemento necessário na educação. Manifestam-se também na visão nova de Is 53 que aponta o sofrimento inocente do Servo de Javé como o único meio de expiação para a culpa do mundo. Na teologia judaica posterior a doutrina que interpreta o sofrimento como expiação ou penitência, exprime-se de muitas maneiras, sendo aplicada também ao cativeiro do próprio povo judaico.
No Segundo Testamento, o sofrimento de Jesus foi necessário que Cristo, o Filho do Homem e Servo de Deus, sofresse e morresse. Este pensamento é um dos elementos mais essenciais da pregação evangélica sobre Cristo. João usa a expressão “ser elevado” ou “exaltado”, como um resumo de toda a sua vida. Conforme os sinóticos, uma parte importante da tarefa de Jesus como Messias consiste no seu sofrimento e na sua morte, de acordo com a vontade de Deus. Veja-se também o modo como Jesus guardava o segredo de ser ele o Messias. A semelhança, sugerida na tradição sinótica, entre a vida de Jesus como a sorte do Servo de Javé em Is 53.
A primitiva pregação cristã, tanto para os judeus como para os gentios tratou muitas vezes da paixão do Senhor. Verdade é que a considerava mais como uma provação que Deus lhe impôs, a qual superou de modo triunfante, mas afirmou também, pelo menos implicitamente, o seu valor soteriológico.
Foram sobretudo Paulo e depois o escritor de Hebreus e Pedro que desenvolveram plenamente a teologia do sofrimento. Paulo fez coincidir sua doutrina sobre o sofrimento com a sua teologia da cruz. Para ele a cruz, com o escândalo que causa, está no centro da pregação cristã. A teologia de Paulo sobre a cruz forma a base do culto cristão e de sua doutrina sobre os sacramentos: a eucaristia e o batismo. Na paixão e morte, o apóstolo vê a grande prova do amor de Jesus. Pela paixão e morte de Cristo, o sacrifício expiatório de sua vida, todos foram resgatados, reconciliados com Deus, livrados do pecado, da lei, da morte, de todos os poderes cósmicos; pela sua paixão e morte Cristo conquistou para nós todos os bens da salvação e pôs o fundamento da Igreja. Assim a mensagem da cruz, que não esconde nada das humilhações do Messias padecente, é ao mesmo tempo uma mensagem de ressurreição e vida.
Um salmista que desejava fugir
|
Marcadores:
Voz do pastor
Então, disse eu: quem me dera asas como de pomba! Voaria e acharia pouso. Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto. Leia Salmos 55
Grande parte da humanidade parece compor uma verdadeira legião em fuga desesperada. De fato, quando a nossa vida se torna como uma panela de pressão sem válvula de escape, somos tentados a experimentar o doloroso desejo de evasão. Aí estão as drogas, o sexo sem amor, a velocidade vertiginosa, os estudos, o fascínio do computador, os negócios, a trágica saída do suicídio... e mesmo - é preciso que se diga - um tipo alienante de religião.
Davi, quando escreveu este salmo, vivia um momento muito delicado de sua vida. Ele diz: estremece-me no peito o coração, terrores de morte me salteiam; o horror se apodera de mim.
Parece a descrição da síndrome do pânico.
O salmista não usa nenhuma das formas de fuga mencionadas. Nem drogas, nem sexo desbragado, nem negócios, nem uma religião de escape.
Mas leia o seu texto com atenção e você vai perceber que o sonho do rei está marcado pela fuga. Ele quer asas. Exilar-se no deserto. Esconder-se dos traidores que o cercavam. Em uma palavra, em vez de enfrentar, como governante, a banda podre do seu povo, o salmista se concede o desejo de fugir. Afinal, ele não era feito de ferro. Um homem excepcional, mas um homem. E um homem em crise. Especialmente um homem amargurado, sem saber em quem confiar. Seu lamento é comovente: com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta sobre mim, pois dele me afastaria, mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos e juntos nos entretínhamos, e íamos com a multidão à casa de Deus.
Muitas vezes não é essa também a nossa situação? Verdadeira ilha cercada de ameaças e desespero por todos os lados... Vicente Celestino cantava: cada parente e cada amigo era um ladrão. E você percebe que tudo o que aconteceu com o salmista também pode nos suceder, e assim empurrar-nos para algum tipo de fuga.
Mas, se somos uma geração que, em grande parte, busca fugir, a verdade é que não conseguimos escapar.
Não podemos nos evadir de Deus. Caim bem que tentou, mas teve de confrontar-se com a pergunta divina: onde está o seu irmão? O próprio salmista, em outro poema, pergunta: Para onde fugirei da tua face? Para onde me ausentarei do teu Espírito? Se subir até aos céus, eis que tu aí estás; se no Sheol fizer a minha cama, eis que tu estás aí também; se eu tomar as asas da alvorada e me deter nos confins dos mares, ainda lá haverá de alcançar a tua mão.
Fugir não é possível. Precisamos enfrentar os nossos problemas com coragem. Até porque estamos emparedados. Sem escapatória. Fugir de Deus, por outro lado, representaria, se fosse possível, perder o rumo de nossa vida, embaralhar o nosso destino. O mesmo Davi que se mostra tão sofrido e confuso neste salmo encontrou a saída, que partilha conosco, em outro de seus belos poemas: Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará.
Por que não seguir a luminosa trilha da sua experiência?
Gigantes que não morrem
Mas Davi retrucou ao filisteu: "Tu vens contra mim com espada, lança e escudo; eu, porém, venho a ti em nome de Iahweh dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel que desafiaste. Toda a terra saberá que há um Deus em Israel, e toda esta assembleia conhecerá que não é pela espada nem pela lança que Iahweh concede a vitória, porque Iahweh é o senhor da batalha e ele vos entregará em nossas mãos." Davi pôs a mão no seu bornal, apanhou uma pedra que lançou com a funda. Desse modo Davi venceu o filisteu com a funda e a pedra: feriu o filisteu e o matou; Davi correu, pôs o pé sobre o filisteu, apanhou-lhe a espada, tirou-a da bainha e a cravou no filisteu e, com ela, decepou-lhe a cabeça. I Samuel 17.45,47,49 e 50
![]() |
Davi e Golias, R Leinweber |
Segundo este pensamento, daqui para frente vamos ter que contar às crianças que Jesus não morreu na cruz, que Estevão não foi apedrejado, que Paulo não foi decapitado e que não houve cristão sequer que tenha morrido nas arenas romanas. Se o intuito de tudo isso na vida secular é evitar que as crianças se tornem, mais tarde, adultos neuróticos com tendências criminosas, o que podemos projetar para o futuro das nossas crianças no contexto religioso a na vida da igreja? Será que iremos formar cristãos mais conscientes, amorosos e fiéis? Será que estamos criando uma geração de grandes pregadores e ativistas evangélicos?
Até onde posso perceber, nós criamos sim uma geração de levitas, de ministros de louvor, de apóstolos e de ungidos do Senhor, que além de constituírem a casta superior e privilegiada da igreja, são também intocáveis, inquestionáveis e irrepreensíveis, pois segundo eles mesmos apregoam: ai daquele que tocar no ungido do Senhor.
O que mais me entristece nisso tudo é ver que os citados Paulo, Estevão, o próprio Jesus, não tiveram a lucidez de tomar esse versículo devidamente engendrado por Saul, para ameaçar e repelir de vez os seus inimigos juntamente com as suas ameaças. Causa-me um sentimento profundo de derrota constatar que, por conta dessa inadmissível falha, esses incautos cristãos tivessem que passar por tantos tormentos e aflições, em nome de um evangelho que disponibiliza uma quantidade enorme de artefatos protetores e frases de efeito libertador.
Não sei onde isso começou, mas posso traçar um perfil da situação a que tudo isso está nos levando. Se não podemos mais contar as crianças o furor da batalha, também não vamos poder contar que de quem são os méritos da vitória, e assim, vamos dar mais crédito e mais louvor aos que se anunciam como guardiões da autêntica, única e aceitável forma de adoração. O versículo chave desse texto, e que orienta todo o desenrolar da situação é esse: não é pela espada nem pela lança que Iahweh concede a vitória. Foi exatamente isso que Israel aprendeu naquele dia. Que não são os nossos dons e atributos que fazem a diferença, que não é a beleza da voz que torna o louvor mais digno, que não são os títulos ou diplomas que traduzem mais fielmente a vontade de Deus.
Realmente estamos criando uma geração de cristãos iludidos. É por isso que as ciências sociais têm conseguido influenciar tanto a doutrina da igreja, quando a influência deveria ser exatamente ao contrário. É por isso também que estamos começando a tratar as histórias da Bíblia como contos de fadas, assim como são os contos de várias religiões pelo mundo. Por trás disso tudo há uma ameaça infinitamente maior, por isso bem nos advertiu Gilbert Cherteston sobre o perigo das ilusões que esses contos criam: Contos de fadas não fazem as crianças acreditarem que monstros existem. As crianças já sabem que eles existem. Contos de fadas fazem as crianças acreditarem que monstros podem ser mortos por nós.
Nem tudo é como parece
|
Marcadores:
Comportamento e fé
Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele? Marcos 2.25s
![]() |
Jesus comendo com os discípulos, Paolo Veronese em 1580 |
No episódio narrado por Jesus que ilustra esse diálogo de ânimos alterados que ele manteve com os escribas e fariseus, qualquer um de nós intuiria que os homens de Davi ao comerem, sem permissão, as espigas de milho da plantação de outra pessoa. Com a visão atualizada dos fatos diríamos que eles saquearam um supermercado local, simplesmente porque estavam com fome, e isso não é atenuante suficiente para esse crime previsto na lei. Sob todos os aspectos, o consenso nos faria concluir também que eles cometeram pecado contra o oitavo Mandamento, que diz fria e literalmente: Não furtarás.
Na realidade, Jesus evoca um fato de extrema gravidade para confrontar uma atitude, que embora fosse relevante, constituía-se em uma falta muito menos grave, mas que lhe estava sendo proposta por aqueles ilustres cidadãos de Israel: os seus discípulos não jejuam? Em outra ocasião, o gerador da contenda era um fato menos relevante ainda: Mt 15.2 - Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. Na tradição contemporânea equivaleria perguntar: Você não faz oração antes de comer?
Penso que podemos resumir tudo isso em uma denúncia feita por Jesus a esse tipo de pessoas que costumam cobrar essas coisas: Vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo. E eu imagino que ele tenha dito isso para denunciar várias situações, tais como:
O excessivo zelo pela tradição, que não leva em conta cultura, economia, região e muito menos circunstâncias.
Pessoas que na incapacidade de realizar a vontade de Deus, tentam a todo custo fazer com que se priorizem os valores humanos acima dela.
A relevância dos atos exteriores sobre as atitudes sinceras, que muitas vezes são as únicas possíveis naquele justo momento.
A supervalorização de determinados atalhos, que na ânsia de obtenção de resultados imediatos, traçamos sem nos precavermos conta os efeitos colaterais.
A necessidade de autoafirmação que faz com que minimizemos os argumentos dos outros lançando mão de recursos irrelevantes ou mesmo com injúrias.
Não sei quanto a vocês, mas eu me vejo por inteiro em todos esses itens e em mais alguns que não foram aqui mencionados. Na realidade, eu sou mesmo essa pessoa que os versos do poeta supracitado revelaram tão detalhadamente:
Para que queres tu mais alguns instantes de vida?
Para devorares e seres devorado depois?
Não estás farto do espetáculo e da luta?
Conheces de sobejo tudo o que eu te dei
de menos torpe ou menos aflitivo: o alvo do dia,
a melancolia da tarde, a quietação da noite,
os aspectos da terra, o sono, enfim,
o maior benefício de minhas mãos.
Que mais queres tu, sublime idiota?
S. Sebastião enganou a morte
|
Marcadores:
Personagens
![]() |
S. Sebastião denuncia a peste, Josse Lieferinxe |
Se existe um personagem na história da Igreja Cristã cuja vida pode ser chamada de curiosa e a morte de mais curiosa ainda, este deve ter o nome de Sebastião de Narbonne, conhecido pelos cariocas pelo nome de São Sebastião, o santo que emprestou o nome à cidade do Rio de Janeiro e a mais de uma dezena de cidades pelo mundo. Muito embora existam algumas versões que possuem divergências entre si, principalmente no que diz respeito à sua morte ao ser alvejado por várias flechadas, os fatos que se têm consenso já são suficientes para colocá-lo na honrosa galeria dos cristãos heróis da fé.
Nascido nos anos de 260, na Gália, assim como seus pais era reconhecido como natural de Milão, pois foi esta a cidade onde passou a maior parte da sua infância e juventude. Cidadão romano com todos os direitos de nascimento, desde muito cedo se tornou um cristão fervoroso e fiel. Era reconhecidamente avesso ao serviço e as práticas militares, muito disso por conta de sua fé em Cristo. Em 283 alistou-se no exército romano do imperador Marcus Aurelius Carino, para que pudesse prestar socorro e consolar os cristãos confessos e condenados em seu martírio de modo a não levantar suspeitas.
Sua camuflagem foi descoberta quando o insistentemente clamor pelos irmãos gêmeos diáconos Marcus e Marcelino, que ameaçavam apostatar da fé, não pôde mais ser mantido em segredo. O então imperador Diocleciano, famoso por sua perseguição cruel e sangrenta aos cristãos, por essa suposta traição ordenou que ele fosse flechado pelos arqueiros mauritanos com quantas flechas fossem necessárias, até que sua morte fosse consumada. Dado finalmente como morto, com seu corpo praticamente coberto de flechas, e esta é a imagem que até hoje se guardou dele. Foi recolhido para o sepultamento pela viúva de Castullus, a venerada santa católica Irene de Roma. Quando Irene descobriu que milagrosamente São Sebastião sobrevivera ao horrendo martírio, tratou dele até que recobrasse plenamente a sua saúde, como o risco de ser também condenada por ocultar e favorecer um criminoso.
Seu ministério não terminou aí. A partir de então como civil empenhou-se de corpo e alma em uma campanha denunciatória contra o descaso com que as autoridades romanas trataram o problema da peste que afligiu os lombardos na província de Paiva. Este seus atos foram relatados ao imperador Diocleciano, que mesmo estupefato ordenou que fosse morto a golpes de porrete, decapitado e seu corpo jogado em uma sarjeta.
Seu martírio foi detalhadamente descrito no sermão de número 22 do inquestionável bispo Ambrósio, pregado no século IV, em que, numa reflexão profunda sobre o salmo 118 evidencia este e outros atos heroicos de São Sebastião.
Sebastião também foi justamente homenageado na Legenda Áurea, conhecida também como Legenda Sanctorum. Uma obra de grafismos e hagiógrafos de Jacobus de Voragine, que nos anos de 1260 transcreveu em figuras os atos dos grandes santos da igreja. Este bestseller medieval foi compilado e alterado ao logo dos séculos. Nos primeiros anos seguintes à descoberta da imprensa, foi mais editado que a própria Bíblia.
São Sebastião é reconhecido pelos católicos de hoje como o santo padroeiro dos atletas, dos soldados arqueiros e o mais lembrado quando há disseminação de epidemias ou de doenças contagiosas. A intolerância religiosa contra São Sebastião, no entanto, não se extinguiu com Diocleciano. Quando os calvinistas saquearam o seu santuário em 1564, espalharam seus ossos pelas ruas e valas da cidade. Talvez fosse justamente por essa sequência absurda de perseguições que São Sebastião tivesse se tornado um dos mais venerados santos das Igrejas Católicas e Ortodoxas no mundo inteiro.
Primeiro a salvação dos outros
|
Marcadores:
Ação da Igreja
O SENHOR me disse: “Você não será apenas o meu servo que trará de volta os israelitas que ficaram vivos e criará de novo a nação de Israel. Eu farei também com que você seja uma luz para os outros povos a fim de levar a minha salvação ao mundo inteiro". Isaías 49.6
![]() |
A paz de Isaías, William Strutt em 1896. |
De igual forma pensava a igreja primitiva, e se não fosse Paulo, o Cristianismo estaria fadado a ser uma seita judaica. É impressionante como esses dois, Paulo e Isaías, enxergaram um dom tão incomensurável grande que nem Elias, Eliseu, Amós e todos os doze apóstolos antes deles não enxergaram: o amor incondicional de Deus. Pode ser que uns poucos depois deles tenham também percebido isso de alguma forma, e que estejam ou que estiveram, a despeito da igreja, se empenhado nessa tarefa, mas com certeza o pioneirismo cabe a eles.
Eu já havia declarado, nas postagens anteriores, quando falei sobre o Cântico do Servo, que não saberia definir ao certo quem é quem. De fato até hoje ainda não sei se Isaías é o Paulo do Primeiro Testamento, ou se Paulo é o Isaías do Segundo Testamento, pois as semelhanças dos seus ministérios, bem como o tema em que basearam as suas pregações se sobrepõem de forma extraordinariamente assombrosa. Ambos vieram ampliar os limites da atuação do povo que se chama pelo nome de Deus para muito além das fronteiras que convenientemente estabelecemos. Ambos nos deram a conhecer um Deus católico, um Deus universal. Mas uma coisa eu sei. Eu sei que todos aqueles que ao refletirem pela primeira vez nessas palavras pensaram apenas em uma coisa: como isso é ruim para os negócios!
Claro que é, pois isso estende a nossa responsabilidade para limites muito maiores do que nós mesmos nos propusemos aceitar quando chegamos à igreja. Isso nos tira da tranquilidade do trabalho doméstico, para nos lançar em locais inóspitos e adversos. Isso confunde toda a contabilidade que fizemos no planejamento anual de nossas igrejas. Isso nos tira da confortável certeza de sabermos a quem haveremos de dedicar o nosso amor e a quem devemos efetivamente perdoar. De uma certa forma, nos sentimos até traídos, se levarmos em conta as promessas e vantagens que nos foram oferecidas quando da nossa adesão à igreja.
Não é com um sorriso largo que digo, mas esta proposta de Deus em nada se confunde com o nosso esquema vigente de evangelização dos não evangélicos ou das pessoas que professam outros credos. A ordem direta de Deus tem mais a ver com ser luz do que com ser ministro de qualquer outra coisa, seja da Palavra, da oração, dos cânticos ou das profecias. A ordem de Deus pouco leva em consideração a preocupação que temos em preservar as nossas doutrinas. A ordem de Deus não está nem aí para o tamanho, localização ou mesmo os equipamentos dos nossos templos.
Enfim, para o nosso desespero e total desestabilização, a ordem de Deus está mais afeita à salvação dos outros do que propriamente à nossa salvação. Se alguém põe em dúvida essas palavras deveria dar uma rápida olhada no que aconteceu na vida dos dois pioneiros da fé que nos trouxeram essa mensagem. Se isso não bastar, pelo menos que conheça o estado emocional em que se encontrava o profeta quando recebeu de Deus esta mensagem que foi decisiva na sua vida: Mas eu pensei: “Todo o meu trabalho não adiantou nada; todo o meu esforço foi à toa.” Mesmo assim, eu sei que o SENHOR defenderá a minha causa, que o meu Deus me recompensará. Is 49.4
O que é PRÓXIMO?
|
Marcadores:
... na Bíblia
Bom samaritano, Giacomo Conte |
No Primeiro Testamento, o termo próximo, que traduz com bastante exatidão o termo grego plesion, corresponde imperfeitamente ao termo hebraico rea‘ que lhe está subjacente. Não deve ser confundido com o termo irmão, embora muitas vezes lhe corresponda. Etimologicamente ele exprime a ideia de se associar a alguém, de entrar em sua companhia. Contrariamente ao irmão, ao qual se está ligado por relação natural, o próximo não pertence à casa paterna; se meu irmão é um outro eu mesmo, meu próximo é um outro que não eu, um outro que para mim pode continuar a ser outrem, mas que pode também se tornar um irmão.
Pode assim criar-se um vínculo entre dois seres, seja de modo passageiro: Lv 19.18 - Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR. Seja de modo durável e pessoal, em virtude da amizade, do amor, da camaradagem ou até devido à falta de todos esses: Jó 30,28s - Ando de luto, sem a luz do sol; levanto-me na congregação e clamo por socorro. Sou irmão dos chacais e companheiro de avestruzes.
Nos mais antigos códigos não se falava de irmão, mas de outrem, apesar dessa virtual abertura para o universalismo, o horizonte da Lei mal transcende o povo de Israel. Depois, com a consciência mais viva da eleição, a Lei de santidade confunde outrem e irmão visando com isto só os israelitas: Lv17.3 - Qualquer homem da casa de Israel que imolar boi, ou cordeiro, ou cabra, no arraial ou fora dele. Não que tenhamos nisso um estreitamento do amor ao próximo para amor só dos irmãos pelo contrário, esses textos querem estender o mandamento do amor equiparando ao israelita o estrangeiro residente.
Depois do exílio, aparece uma dupla tendência. De um lado, o círculo dos próximos se restringe: o dever de amar visa somente o israelita ou o prosélito circunciso. Mas, de outro lado, quando os Setenta traduzem o hebraico rea' pelo grego plesion, eles separam outrem de irmão. O próximo que deve ser amado é outrem, quer seja ou não um irmão. Desde que dois homens se encontram, são o próximo um para o outro, independentemente de suas relações de parentesco ou do que pensam um do outro.
No Segundo Testamento, quando o escriba perguntou a Jesus: Quem é meu próximo?, provavelmente ele ainda equiparava tal próximo a seu irmão, membro do povo de Israel. Jesus, porém, irá transformar definitivamente a noção de próximo.
Primeiramente, ele consagra o mandamento do amor: Amarás o próximo como a ti mesmo. Ele não só concentra os outros mandamentos neste, senão que o liga indissoluvelmente ao mandamento do amor de Deus: Mt 22.39s - O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Na trilha de Jesus, Paulo declara solenemente que esse mandamento cumpre toda a Lei: G1 5.14 - Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, por que ele é o resumo dos demais. Tiago, contudo, já o qualifica de lei régia: Tg 2.8 - Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem.
Em seguida, Jesus universaliza esse mandamento: deve-se amar aos adversários, e não só aos próprios amigos: Mt 5,43 - Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; isto supõe que o indivíduo derrubou em seu coração todas as barreiras, tanto que o amor pode atingir o próprio inimigo.
E a Mir já era...
|
Marcadores:
Voz do pastor
Certa vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Deus?): a sua posteridade durará pra sempre, e o seu trono será como o sol para mim. Leia Salmos 89
![]() |
Explosão da nave MIR em 1986 |
A Mir foi um dos mais expressivos símbolos da conquista, pelos russos, do espaço sideral. Planificada para ter uma vida útil de cinco anos, durou quinze, se bem que de maneira precária, em sua fase final. Por ela passaram inúmeros astronautas estrangeiros, em um programa fraternal de troca de experiências e tecnologias.
Pois bem. Esse fantástico engenho tornou-se fogo e cinza ao entrar na atmosfera da Terra, em uma sexta-feira, 23 de março de 2001, antes que seus fragmentos caíssem, sem danos, no oceano Pacífico. A bonita odisseia da Mir durou mais de 5 mil dias.
Seu fim, pela importância internacional da estação, se fez verdadeira parábola da transitoriedade de tudo que existe. Do ser humano, que é descrito frágil como uma flor no salmo de Moisés, até os mais duradouros impérios, que também conheceram a decadência, depois de viver seu apogeu.
O salmo que temos diante de nós foi escrito por Etã. E o salmista nos garante, no mundo onde tudo é precário, que o reinado messiânico de Davi será permanente: a sua posteridade durará para sempre. Etã dedica boa parte do seu belo poema à grandeza de Deus, utilizando uma linguagem cósmica: celebram os céus as tuas maravilhas, ó Senhor, e, na assembleia dos santos, a tua fidelidade... Dominas a fúria do mar; quando as suas ondas se levantam, tu a; amainas. Teus são os céus, tua a terra; o mundo e a sua plenitude, tu s fundaste... O teu braço é armado de poder, forte é a tua mão, e elevada a tua destra.
Fala ainda o salmista das limitações da própria vida, a um passo da morte. Cobra de Deus sua prometida fidelidade a Davi e sua descendência. E termina o seu longo poema com a postura piedosa do homem de fé: bendito seja o Senhor para sempre. Amém e amém. Pela franqueza absoluta com que fala de si mesmo e o jeito um tanto desabrido de dizer as coisas, o salmista nos ensina a não escamotear filho não conhecesse o lado sofrido da existência. Mas foi a visão que o jovem príncipe teve da pobreza, da velhice, da morte e da mística que iniciou dentro dele o processo espiritual que terminaria por levá-lo a ser Buda, o iluminado. Neste mundo do terceiro milênio, quando pessoas mais amargas chegam a desvalorizar a paixão de Madre Teresa de Calcutá, o salmista vê, passo a passo, a ação salvadora de Deus, utilizando em especial a linhagem de Davi.
Millôr Fernandes, no livro A bíblia do caos, afirma com seu humor aguçado e inteligente: Deus existe, mas não é full time. Sinto que, por seu turno, é natural como a respiração, para o salmista, perceber as impressões digitais do Senhor, tanto no Universo como em todo o processo da História humana. Não resta assim a Etã outro caminho que não seja bendizer o Deus Eterno, responsável por um sentido permanente na vida de seu povo.
O salmo é comovente. Mas não basta ler o poema.
E preciso vivê-lo.
É para isso que vim
|
Marcadores:
Ministério de Jesus
Tendo-o encontrado, lhe disseram: Todos te buscam. Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim. Marcos 1.37s
![]() |
Semão da Montanha, Bertalan Pór (1880-1964) |
Durante há algum tempo tenho percebido também que esta não é a única forma de se fazer esta pergunta, posto que ela está embutida em várias outras perguntas que jamais ousamos fazer, como também em alguns assuntos sobre os quais evitamos falar.
Muito recentemente eu fui questionado por ter afirmado que a finalidade precípua de Jesus não era a de fazer milagres, e que estes aconteceram como consequência, e não como causa. Esta questão me foi colocada das maneiras seguintes:
1- Por que então ele fez milagres?
2- Não seria mais adequado afirmar que: Jesus veio implantar definitivamente o Reino de Deus e para isto teve que fazer milagres?
Não quero parecer um visionário, mas no meu entender essas perguntas estão diretamente ligadas à pergunta anterior. Uma vez que as pessoas deduzem, e com argumentos bem sólidos, que tanto a capacidade quanto a necessidade de Jesus fazer milagres estavam intrinsecamente ligadas ao seu ministério terreno, mesmo que o próprio Jesus tenha deixado bem claro que veio para anunciar, pregar e proclamar o Reino de Deus. Isso pode ser percebido também na sua pré-disposição de fazer um ministério itinerante, sem ter qualquer lugar como referência, uma prática que um curandeiro da sua época jamais pensaria adotar. Vejam, por exemplo, que as pessoas se dirigiam para o deserto, pois sabiam que era lá que João Batista estava. Isso sim é bom para o “negócio”. Jesus, por seu turno, fez o contrário, através da sua irrevogável decisão de visitar cada cidade e cada aldeia onde se encontravam os Perdidos da Casa de Israel.
Não sei nas outras religiões, mas tudo no Cristianismo assume proporções descomunais, que se desdobra em questões intermináveis. Nunca é simplesmente uma questão de crer ou não crer. Nada se esgota dentro de um ambiente restrito. Jamais os fatos assumem características domésticas e propícias somente a uns poucos iniciados. Até mesmo a obrigatoriedade ou não de Jesus fazer milagres, um tema que deveria ser discutido apenas entre acadêmicos, não tardou em ganhar as esquinas, ruas e avenidas, tanto no tempo dele quanto no nosso tempo. Não tenho como acreditar que a maioria dos mais de cinco mil homens que estavam presentes no famoso Sermão da Montanha, foi lá apenas para ouvi-lo e não pelos seus milagres. Assim com também não posso crer que a superlotação de algumas igrejas seja causada por pessoas interessadas em ouvir todas as boas notícias que o evangelho tem a dar.
O reflexo de tudo isso hoje é um a busca frenética pelos milagres, mas não como uma bênção ou mesmo uma dádiva não merecida. Já assumiu a forma de retribuição obrigatória por um sacrifício dedicado a Jesus, sacrifício esse que pouquíssimas vezes chega a ser usado em favor do Reino que ele veio implantar. E é isso que tem feito a diferença. As pessoas não têm mais a preocupação de averiguar onde e em que proporção as suas ofertas estão sendo empregadas. Não importa nem mesmo se elas estão prestando um desserviço ao evangelho. Importa sim se o milagre vai ou não acontecer, se a unção será ou não derramada. Não é mais uma questão de consciência, de sensação de dever cumprido, de tentar ajustar as contas com Deus. Bem sintetizou o bispo Macedo em uma reunião com os seus pastores:Entendeu como é? Se quiser (dar), amém! Se não quiser, que se dane! Ou dá ou desce.
Confira em: http://www.youtube.com/watch?v=v9-4_hOe9-0
Almas derramadas no lugar certo
|
Marcadores:
Consolação
E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o SENHOR, Eli fez atenção à sua boca, porquanto Ana, no seu coração, falava, e só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada. E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. Porém Ana respondeu e disse: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o SENHOR. I Sm 12ss
![]() |
Oração de Ana, Frederic Leighton (1830-1896) |
Desde muito cedo na igreja tentaram me fazer crer que a decisão entre essas duas alternativas é de cunho estritamente pessoal, e que oscilava entre os sentimentos do remorso e do arrependimento. Onde o remorso faria apenas com que o caído maldissesse as circunstâncias, as pessoas à sua volta ou o próprio destino. O arrependimento não, este sempre levaria em conta um firme propósito de mudança. Eles até tinham alguns exemplos para me dar, como a diferença que detectaram entre Judas e Pedro. Pedro se arrependeu, foi perdoado e viveu. Já Judas teve apenas remorso, não foi capaz de encontrar o perdão e por isso se enforcou. Não é muito coerente esse raciocínio, pois se o tivesse seguido à risca, Judas não teria enforcado a si e sim a outra pessoa, quem sabe a Pedro?
Penso que a diferença no direcionamento da queda pode fazer com a pessoa caia em si ou caia fora de si. Aquele que cai em si busca alternativas viáveis, tem esperanças concretas e vive antecipadamente situações melhores, sem a ilusão de que do nada surgirá de repente seu resgate. Tomemos como base as decisões do filho pródigo na terra distante quando caiu em si e de Jó em meio a sua aflição. O filho pródigo diz: Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. Jó por sua vez pensa completamente diferente: Eu sei que o meu “vingador” vive e por fim se levantara sobre a terra. Vingador é a tradução correta para o termo hebraico Go-el, e não redentor como imaginou São Jerônimo.
Até mesmo na vida de Jó podemos notar essa diferença acontecendo em dois momentos isolados. A primeira reação, já citada, se deu quando ele ainda conhecia Deus só de ouvir falar. Mais tarde, quando conseguiu ter uma visão mais acurada de Deus, ele confessou: Tu me perguntaste como me atrevi a pôr em dúvida a tua sabedoria, visto que sou tão ignorante. É que falei de coisas que eu não compreendia, coisas que eram maravilhosas demais para mim e que eu não podia entender.
Mas onde entra a oração e o choro de Ana na nossa meditação?Agora, porque o caso de Ana é mais típico ainda, pois além da amargura que sentia pelo seu estado, ainda tinha o marido e a outra esposa do marido a fustigá-la impiedosamente com injúrias. É justamente essa a situação em que uma consciência superior pode fazer toda a diferença. Na sua entrega submissa Ana não estava contabilizando as suas perdas, de modo a que pudesse ser influenciada negativamente por alguém.
Ana estava totalmente mergulhada na esperança que vislumbrava algo que nem Alcana e nem Penina com os olhos da mais pura razão poderiam ver. Diante dessa visão o seu coração era um misto de choro e de riso, um estado em que parecia estar fora de si. Bêbada, como intuiu seu marido.
Ana reconheceu a sua própria miserabilidade, mas não saiu por aí atirando farpas em todas as direções. Ela permaneceu firme no propósito de confiar unicamente naquele que podia fazer algo por ela. Se a esperança se concretizasse, muito bem. Caso contrário ela morreria nessa esperança, contudo, sem ter que passar um dia sequer pelo ridículo de ser flagrada andando atrás de ilusões frustrantes.
Assinar:
Postagens (Atom)